Segunda-feira, 5 de abril de 2021 - 12h48
Todos os dias, em frente à
Paróquia Sagrada Família, no bairro Nova Porto Velho, pedras e objetos postados
rigorosamente, em fila, no meio-fio, chamam a atenção. A cena revela uma
preocupação com a pandemia de Covid-19. Os objetos demarcam espaço das pessoas
em situação de rua que são atendidas com alimentos.
Por volta das 11 horas, começa a
distribuição de marmitas e a fila se desfaz. Personagens anônimos voltam a
espalhar-se pelos bairros próximos.
Neste local, são comuns histórias
de quem sofre, mas encontra alento no serviço oferecido pela Prefeitura de
Porto Velho em parceria com a Arquidiocese do município.
Francisco Carvalho, 29 anos, vive na rua há mais de
dois anos. Como muitos, ele se considera vítima das circunstâncias que a
tiraram do seio familiar.
“Muitos de nós somos despertados pela fome logo de
manhã. Lembro de um episódio em que minha família me negou um copo com água e
eu só fui saciar minha sede aqui, no projeto”, lembra o morador.
PARCERIA
O projeto a que Francisco se refere tem um nome
bastante sugestivo, “Tempo de Amar e Servir”. Foi iniciado em 2020 por
iniciativa da Arquidiocese da capital e ganhou apoio da Prefeitura de Porto
Velho.
Os serviços disponibilizados vão
além da distribuição de alimentos. O trabalho começa cedo em um ponto
estratégico, a Rodoviária da capital, local conhecido pela concentração de
pessoas em condição de rua. Alí, equipes da Secretaria Municipal de Assistência
Social (Semasf) abordam essas pessoas e oferecem diversos atendimentos.
Para otimizar o serviço, a Semasf acaba de ganhar um
reforço, uma van adquirida pela Prefeitura. O veículo agora permite que as
equipes cheguem a diversos pontos da cidade e trabalhem pelo resgate dessa
população.
“Só nos últimos meses, nossa equipe conseguiu resgatar
12 pessoas nessas condições. Não se trata de removê-las das ruas, mas de
garantir um recomeço digno”, afirma o secretário da Semasf, Claudi Rocha.
Para quem decide trilhar um novo caminho, a Semasf
garante o encaminhamento para serviços socioassistenciais, como o Auxílio
Emergencial, além de retirada de documentos. Já por meio da Paróquia Sagrada
Família, a Prefeitura oferece alimentação e higiene pessoal.
INVESTIMENTO
Em um ano de projeto, R$ 481 mil foram investidos em
alimentação para garantir mais de 57 mil atendimentos. Também são feitas
doações e lavagens de roupas. Ao todo, cerca de 180 pessoas em condição de rua
são atendidas diariamente pelo projeto.
A secretária adjunta da Semasf, Joelna Holder, explica
que o projeto já existia por meio da paróquia Sagrada Família e foi ampliado
com o apoio e investimentos do Município.
“Para termos ideia, 180 marmitas são distribuídas
diariamente. Num momento de pandemia, essa ação é uma resposta da Prefeitura
para essa população que precisa ser assistida e resgatada”, explica Joelna.
Giovany Lima é psicólogo da
Semasf e atua na abordagem da população em condição de rua. O trabalho, segundo
ele, inicia na construção de vínculos e na empatia para entender as variantes
que levaram essas pessoas a uma vida marcada por incertezas.
“Os motivos são diversos. Temos desde ex-funcionários públicos até empresários
que, infelizmente, acabaram nessa situação. Muitos acabam aqui pela perda da
moradia e não somente por uso de drogas. Projetos afirmativos como este ajudam
a combater o fenômeno”, explica o psicólogo.
Pelas estimativas da Semasf, Porto Velho tem hoje cerca de 300 pessoas nessas
condições. Gente como Arinaldo Souza, de 56 anos. Filho de ex-funcionário da
extinta Estrada de Ferro Madeira Mamoré, ele não revela os motivos que o
levaram à rua, prefere agradecer.
“A vida na rua não é fácil. Quando encontramos projetos como esse ficamos até
sem palavras. Um alimento, vestimenta e higiene acabam sendo um fôlego a mais
para seguirmos em frente. Para quem não tem nada isso faz toda a diferença”,
finaliza o morador.
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