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Eleições 2018

Faz sentido falar em eleições de extremos? Por Marina Gama Cubas


Faz sentido falar em eleições de extremos?  Por Marina Gama Cubas - Gente de Opinião
MARINA GAMA CUBAS
Carta Capital


O discurso de que o Brasil está às vésperas de uma eleição de extremos tem sido proferido por alguns importantes comunicadores – jornalistas e comentaristas –, artistas como José Padilha, e políticos, candidatos e não-candidatos no pleito deste ano.

Colunas analíticas, notas de jornais disfarçada de textos informativos, comentários em telejornais, entrevistas com celebridades e propagandas políticas não cansam de apontar que estamos à beira de duas candidaturas extremista, disseminando tal ideia a boa parte do eleitorado brasileiro.

Segundo eles, o embate ferrenho se dá entre o deputado federal e ex-militar Jair Bolsonaro (PSL) e o ungido por Lula e carregado pelo PT, Fernando Haddad.

REJEIÇÃO

A estratégia parece ter reflexo nas pesquisas. Enquanto a rejeição do capitão reformado do Exército se manteve em 44% na pesquisa Ibope revelada na segunda-feira 1º, a do petista foi de 27% a 38%.

"Me chama muita a atenção ver gente repetindo quase que acriticamente esse discurso de que existem dois extremos. Isso é uma arrematada bobagem. Eu escrevi sobre isso em dezembro do ano passado, chamando a atenção justamente do fato de que que Lula e Bolsonaro – na época Lula ainda era o candidato do PT – não eram comparáveis porque era muito assimétrica essa polarização.
De um lado há uma esquerda moderada, de padrão socialdemocrata, e do outro lado se tem um extremista de direita ", afirma o cientista político e professor da FGV, Claudio Couto.

A construção desse discurso, no entanto, não é culpa apenas dos adversários do PT que tentam sair vencedores na disputa política ou daqueles que "compram" essa ideia para si sem fazer qualquer análise mais crítica, diz o cientista político.

Trata-se também de uma construção que o próprio Partido dos Trabalhadores faz questão em manter aberta quando se coloca como aliado do atual governo da Venezuela, hoje chefiado por Nicolás Maduro.

Fica uma pergunta: Quais os benefícios que o PT vê nessa postura de se manter vinculado a governos autoritários?

DOIS POLOS

Jair Bolsonaro já mostrou que flerta com a ditadura e tem pouca intimidade com a democracia. Em uma de suas mais recentes declarações disse que não reconhecerá nenhum outro resultado eleitoral que não seja aquele que o coloque como vitorioso no pleito.

Seu vice, general da reserva Hamilton Mourão, não fica nada atrás: declarou ser a favor da elaboração de uma nova Constituinte sem participação popular, disse que o coronel Ustra é seu herói e defendeu um "autogolpe" do presidente com as Forças Armadas em caso de "anarquia".

Dentro de outras propostas identificadas da extrema-direita, o deputado federal e ex-militar defende a política imigratória de Donald Trump, quer reforçar o papel das Forças Armadas, tipificar como terrorismo ações do MST e MTST, militarizar o ensino e colocar um general no Ministério da Educação, entre outros pontos. Na análise de Couto, Bolsonaro é um "neofacista".

Do outro lado, há Fernando Haddad e o PT. Nem um nem outro deram qualquer sinal em suas gestões de um governo de extrema-esquerda se resumirmos isso a ideia básica que concerne a essa vertente: reformas estruturantes e radicais.

Nos 13 anos em que o PT governou o País houve significativos avanços nas áreas sociais, como o Fome Zero e Minha Casa Minha Vida, no entanto, Lula e Dilma Rousseff  abriram mão de reformas estruturais que poderiam transformar tais avanços em algo mais sólido e próximo a "revolução social".

Antes mesmo do "dia D" que poderia ou não levá-lo ao Palácio do Planalto, em 2003, Lula divulgou sua Carta aos Brasileiros. No documento, o petista deixava claro ao mercado financeiro e ao empresariado que não seria ele e seu governo uma ameaça aos interesses do setor. Já fora do comando, em inúmeras ocasiões, o ex-presidente falou com orgulho que ele foi o presidente que mais ajudou a classe empresarial.

Reforma agrária e democratização da mídia foram algumas das propostas levadas ao eleitorado nas campanhas presidenciais do PT, mas prontamente deixadas de lado após as vitória. Haddad agora volta a antiga promessa da democratização dos meios de comunicação nunca cumprida.

Outra iniciativa do governo do PT foi a Lei Antiterrorismo, redigida pelo Executivo e que prevê 12 a 30 anos para o crime de terrorismo - medida fortemente criticada por movimentos sociais que acreditam que da forma como se coloca abre espaço para criminalização manifestações populares.

Na Agenda Brasil, Dilma propôs o fim da gratuidade do Sistema Único de Saúde, a diminuição das áreas indígenas e preservação ambiental, e referendou a política de encarceramento em massa.

A ausência de qualquer extrema-esquerda também está bem representada, segundo Couto, nas escolhas na composição do governo federal. "É só pensar: 13 anos de governo do PT: Luiz Fernando Furlan no Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Henrique Meirelles no Banco Central, Kátia Abreu na Agricultura. Cadê afinal de contas o chavismo?", questiona.

Haddad, colocado na disputa presidencial após Lula ser barrado pelo Tribunal Superior Eleitoral, já foi chamado de "o mais tucanos entre os petistas" ou, ainda, "o menos petistas dentre os petistas". Porém suas divergências com o PT no passado pouco tiveram a ver com algum lado mais "extremo" do atual candidato.

Enquanto prefeito da capital paulista, mantinha forte contato com o então governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB) ao mesmo tempo em que se queixava dos integrantes do próprio partido e do governo de Dilma, em privado.

Dirigentes da legenda, por sua vez, reclamavam que o então prefeito não escutava ninguém do PT e se restringia a ouvir o seleto grupo de amigos de academia paulistana, sobretudo aqueles do Largo São Francisco, faculdade de Direito da USP.

Hoje, o ex-prefeito aperta a mão do emedebista Renan Calheiros e sobe no palaque de Eunício Oliveira. Não descarta o apoio do PSDB para o segundo turno nem do que é chamado de Centrão, ainda que diga que só o fará se o programa de governo petista for respeitado pelos aliados.

Para o cientista político, há sim dois polos, em que apena um deles está no extremo: Jair Bolsonaro. Então por que o discurso de que Lula, Haddad e o PT são de extrema-esquerda "cola" para determinado/parte do público e eleitorado?

Geraldo Alckmin, candidato à Presidência pelo PSDB estagnado nas pesquisas eleitorais, vem explorando essa imagem na campanha eleitoral - numa tentativa desesperada de ser visto como o "caminho do meio". Em inserções no rádio e na televisão, o tucano fala que "o risco do Brasil se tornar uma nova Venezuela é real, a partir dos extremismo que se estão colocados nessa eleição". Ele relembra que tanto Bolsonaro como Lula - afinal, "Haddad é Lula e Lula é Haddad" - já declararam apoio ao então governador venezuelano Hugo Chávez.

Bolsonaro e seus eleitores também vinculam PT ao chavismo. Em post no Twitter, em agosto, publicou: "Nos últimos anos o PT doou bilhões para ditaduras amigas via BNDES. Seu dinheiro que deveria ser utilizado de forma responsável para nosso crescimento, serviu pra alimentar governos autoritários e antidemocráticos como Cuba e Venezuela, sem nos dar retorno algum. Isso vai acabar!".

Couto destaca que não são apenas os políticos vem alimentando essa falsa relação. "É claro que o PT tem uma baita de uma culpa nisso porque o PT sempre aliviou em relação a Venezuela e boa parte da esquerda. Esse fetichismo na esquerda com os regimes autoritários de esquerda mundo a fora, em particular na América Latina, como Venezuela e Cuba fazem com que agora ao PT seja comparado a eles por uma parte da sociedade."

E completa: "O PT sempre foi muito leniente com relação a Venezuela e por conta da sua defesa a esse país as pessoas falam: o PT é venezuelano, é chavista, sendo que nunca foi", afirma Couto. Segundo ele, a relação da legenda com governos autoritários é um "problema que deve ser levado ao divã".

AUSÊNCIA DE CRÍTICAS

De fato, as relações do PT com Venezuela vem de longe. No último ano, quando a situação do país vizinho se agravava, Gleisi Hoffmann, presidenta do partido, e Mônica Valente, secretária de Relações Internacionais da legenda publicaram nota cujo título era: Venezuela: mais uma vez, um exemplo de democracia e participação cidadão”. A nota fazia referência às eleições regionais que ocorriam no país.

Questionado pela CartaCapital se o PT mantém a posição que explicita no título da nota, Valente não quis responder assertiva ou negativamente, preferiu dizer: “Nós achamos que o sistema político venezuelano é um sistema político eleitoral democrático e quem vem se aperfeiçoando progressivamente desde 1999”.

E complementou: “Se tem divergências internas, se permanece uma atitude de bloqueio econômicos, de muito conflito interno, qual a posição do PT? A posição do PT é de contribuir como país na construção das instituições multilaterais que podem fazer esse processo de mediação”.

Para o professor da FGV, tal postura só alimenta ainda mais a falácia do discurso que vivemos dois entremos. "O PT deveria condenar claramente regimes autoritários. Não interessa se são regimes autoritários de esquerda ou de direita. A Venezuela, não vamos dourar a pílula, é uma ditadura. Tem pessoas presas, não se pode fazer oposição ali. 'Ah, mas a oposição da Venezuela é péssima'. Não interessa se a oposição da Venezuela é péssima, inclusive porque não existe a oposição, existem oposições. É um pouco como o velho MDB aqui durante o regime militar, tem de tudo ali. Inclusive oposição de esquerda."

El complementa: "O petista aponta o dedo para o Bolsonaro e diz: olha só, o Bolsonaro defende um ditador. Mas o PT também", diz, ao se referir a Maduro. "É esse o ponto que reforça esse discurso dos extremos" e que o PT não faz nenhuma questão de combater."

PARTIDO É PARTIDO, GOVERNO É GOVERNO
Faz sentido falar em eleições de extremos?  Por Marina Gama Cubas - Gente de Opinião

Para um dirigente da alta cúpula do PT é errado dizer que a posição do partido é ou deve ser a mesma que a do candidato da legenda.

Até agora, Haddad deu sinais pouco claros de divergência com seu partido sobre esse ponto. Seu plano de governo, redigido e coordenado por ele próprio, não menciona faz referência ao avanço do autoritarismo na América Latina, porém sem especificar quais países ele classifica de governos autoritários.

Questionado por meio de seu assessor de imprensa, Haddad respondeu à CartaCapital que o trecho “se refere a movimento conservadores que despontam em alguns países, como Chile, Peru, Colômbia” e não citou a Venezuela. O candidato diz se tratar de “movimentos políticos que tendem a fortalecer a tendência neoliberal na economia e favorecer a intolerância nos costumes”.

Em entrevista ao Jornal da Globo, no último dia 19, a jornalista Renata Lo Prete perguntou ao candidato se ele concorda com a declaração de seu partido de que a Venezuela é um exemplo de democracia. Haddad, pra variar, “complexou” a resposta:

“A Venezuela não vive um processo de normalidade. Porque há contestação sobre o ambiente democrático. Não se reconhece resultado eleitoral, a oposição contesta quando um plebiscito é chamado, as eleições não são respeitadas, o clima ali é de conflagração. É inequívoco isso.”

Ele reconheceu que "as coisa não andam bem lá" e que a situação é de "conflagração", mas afirmou que não deverá tomar partido em um eventual governo seu. "O papel do Brasil pela sua importância e pela sua liderança não é tomar partido na Venezuela. É junto aos organismos internacionais buscar mediação reconhecendo que o ambiente não é o mais saudável."

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