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O admirável e desafiador novo mundo do trabalho


O admirável e desafiador novo mundo do trabalho - Gente de Opinião

A quarta revolução industrial, conhecida como Indústria 4.0, já é uma realidade. Hoje, a manufatura é muito mais ágil e dinâmica, com decisões progressivamente transferidas dos cérebros humanos para os chips de computadores e seus algoritmos. As transformações provocadas pelas inovações tecnológicas estão criando um admirável novo mundo, que traz, consigo, os bônus das facilidades, da produtividade e do bem-estar, mas exige, em contrapartida, uma extraordinária adaptação dos seres humanos.

A necessidade de se modificar para acompanhar a renovação tecnológica é especialmente verdadeira no universo do trabalho. Muitas funções comuns no ambiente fabril do século XX estão perdendo importância ou mesmo sendo extintas, enquanto outras são criadas neste agitado século 21. Mesmo as funções que continuam a existir estão passando por alterações, diante dos novos processos produtivos. O trabalho está deixando de seguir aquela rotina tradicional, na qual pessoas se juntam num mesmo lugar, no mesmo período. Isso assusta algumas pessoas e entusiasma outras.

Nesse contexto de mudanças, numa velocidade vertiginosa e sem precedentes, o elemento essencial para o avanço tecnológico será a qualificação profissional. É verdade que as decisões nas fábricas e nos demais ambientes de trabalho vêm sendo tomadas, muitas vezes, por complexos sistemas eletrônicos e digitais, que precisam com frequência cada vez menor da intervenção humana. Mas as pessoas sempre terão papel fundamental na produção. Sem profissionais capacitados, não existirão máquinas ou robôs e não será possível implantar a Indústria 4.0 ou aproveitar seus benefícios.

A era da inovação tecnológica exige que o país se engaje numa, não menos ambiciosa, reforma na educação. O Brasil precisa dar ênfase a um sistema educacional capaz de, ao mesmo tempo, oferecer conteúdo acadêmico regular, formar cidadãos conscientes e prepará-los para o novo mundo do trabalho.

É necessário educar a juventude no novo paradigma tecnológico e qualificar as pessoas que já estão no mercado, aumentando sua capacidade de compreensão e análise necessárias no ambiente da Indústria 4.0. Além disso, é preciso investir em treinamento, qualificação e atualização permanentes. O aprendizado não mais se encerra nos bancos da escola regular, que vai do jardim de infância à faculdade.

O ensino técnico é uma das melhores respostas aos desafios impostos pela quarta revolução industrial. Não à toa, países desenvolvidos e os emergentes mais bem-sucedidos têm valorizado, nos últimos anos, a educação profissional. Na Finlândia, que é exemplo de excelência na área educacional, cerca de 30% dos jovens faziam esse tipo de formação junto com o ensino médio em 2005. Dez anos depois, após estímulo governamental, esse número saltou para mais de 70%. Na Alemanha, o percentual dos que fazem cursos técnicos chega a 53% e na Áustria, a 76%. No Brasil, é de apenas 9%.

É preciso que autoridades públicas, empresários, educadores, pais e estudantes trabalhem juntos, desde já e nos próximos anos, para valorizar a formação técnica e profissional, criando oportunidades de inserção dos nossos jovens e adultos no mercado de trabalho. Entre outras medidas, é indispensável ampliar vagas, adequar a oferta às demandas de médio e longo prazos dos setores produtivos, e garantir uma capacitação que dialogue com as novas tecnologias digitais.

“Nesse contexto de mudanças, o elemento essencial para o avanço tecnológico será a qualificação profissional”

O Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) concluiu recentemente um estudo sobre as profissões do futuro. Foram identificadas 30 novas ocupações que devem surgir, num horizonte de cinco a 10 anos, em oito áreas nas quais o impacto da Indústria 4.0 deve ser maior. Nesses segmentos, haverá mais integração dos mundos físico e virtual, por meio de tecnologias digitais, como a internet das coisas, o big data e a inteligência artificial. São eles: automotivo, alimentos e bebidas, máquinas e ferramentas, petróleo e gás, têxtil e vestuário, química, tecnologias da informação e comunicação, e construção civil.

Entre as novas ocupações, estão as seguintes: mecânico de veículos híbridos, especialistas em telemetria, analista de internet das coisas, engenheiro de segurança cibernética, especialista em big data, especialista em aplicações para rastreabilidade de alimentos, projetista para tecnologias em 3D, técnico em automação predial, desenvolvedor de produtos poliméricos e especialista para recuperação avançada de petróleo.

O estudo aponta, ainda, quais serão as habilidades requeridas de cada um dos profissionais listados. Uma das conclusões é que, independentemente do segmento, os trabalhadores devem conferir uma maior importância a competências socioemocionais, como a capacidade de colaborar em equipe, a criatividade e o empreendedorismo.

A formação, por sua vez, será, cada vez mais, interdisciplinar. Um químico, por exemplo, terá que adquirir noções básicas em nanotecnologia e em sistemas digitais, bem como ter pensamento crítico, adaptabilidade, flexibilidade e atenção a detalhes. Já um operador de processamento de grãos, na área de alimentos e bebidas, precisará de conhecimentos em automação de controle e processos, e em aplicativos, além de ter boa comunicação, saber gerir bem o tempo e aprender de forma ativa.

Essas características socioemocionais serão progressivamente mais importantes no mercado de trabalho, porque existe uma evolução constante na sociedade do conhecimento e na forma de executar as funções nas organizações. Hoje, as estruturas empresariais são menos verticalizadas, e mais horizontais e flexíveis. Entretanto, o trabalho colaborativo continuará sendo essencial para se obterem ganhos de produtividade e eficiência. Da mesma forma, virtudes humanas, como ética, criatividade, imaginação, colaboração e capacidade analítica, nunca poderão ser substituídas.

A revolução tecnológica digital - e as inovações disruptivas dela decorrentes - impõe grandes desafios, mas também proporciona excelentes oportunidades para o Brasil solucionar seu problema de produtividade. A indústria brasileira está pronta para colaborar com o novo governo, que toma posse em janeiro, investindo cada vez mais na qualificação profissional dos nossos jovens e estimulando o espírito inovador das empresas. É fundamental conectarmos o Brasil a esse novo tempo que já começou.

*Robson Braga de Andrade é presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI)

Publicado no Valor Econômico em 20/12/2018

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