Segunda-feira, 2 de maio de 2011 - 06h50
Certa vez, me fora apresentado o texto de Clarice Lispector “Você é um número”, e hoje tomo a liberdade de parodiar Clarice, pois continuamos sendo números, mas esses números não pertencem ao grupo dos racionais ou dos irracionais, mas ao grupo dos virtuais.
Ainda precisamos de senhas, números de cartão, de CPF, etc. porém, hoje precisamos deles apenas por uma burocracia do mundo virtual. Passamos a maior parte do tempo conectados, e quando a conexão sofre algum problema, o desespero logo bate a nossa porta. Falamos com muitos de nossos amigos apenas pela rede. Para muitos a vida se resume apenas à rede e às necessidades fisiológicas. Isso até que estas possam ser realizadas virtualmente.
Você liga o computador pra mais um dia de trabalho, registra o ponto, verifica a correspondência (só virtualmente pra termos três endereços diferentes), se relaciona, se comunica com a colega ao lado, começa seu trabalho, no meio do expediente se lembra de pagar algumas contas, continua o trabalho. Nessas oito horas, além do mecânico bom-dia, não pronunciou uma palavra com ninguém, não levantou de sua cadeira, mas interagiu com inúmeras pessoas. O mesmo se repete à noite. Chega em casa, liga o notebook, música, e-books, mais redes sociais, jornais eletrônicos, bancos virtuais, rádios e TVs digitais, sites de busca, faculdade EAD, blogs, vlogs, logins, deu sono, vai dormir, no mesmo lugar que fez tudo isso.
Fez tudo que tinha que fazer, viveu, existiu, mas apenas para o mundo virtual. Só resiste nas horas que ainda vive com pessoas reais: amigos próximos, família, filhos. Horas cada vez menores afinal quase todos possuem acesso à rede. Felizes as crianças que ainda não possuem. Espero que demore muito o tempo em que meu filho terá o mundo virtual ao seu alcance, pois ainda consigo falar com ele sem ter que medir palavras em 140 caracteres.
Palavras podem ser medidas em caracteres, os sentimentos não podem. Não podem ser sentidos virtualmente, não podem ser intensos virtualmente, o contato físico ainda é primordial nas relações. Nossa sociedade esta nos deixando presos à rede, e não tentamos escapar. Vemos filmes de ficção científica em que máquinas dominam os homens, e pensamos “talvez um dia possa acontecer”. Nossas vidas são ditadas pelas máquinas, para qualquer cadastro simples é necessário um endereço de e-mail, mais senhas, mais números. Números virtuais.
Vamos ser “Pêssoas”, por favor! Pois nesse caso: Navegar é preciso, mas viver também é! A Internet é necessária, o mundo virtual tem sua praticidade, mas é frio. Os sentimentos são necessários, são quentes, são abstratos. O abstrato não é virtual, embora o virtual seja abstrato. O abstrato se concretiza, o virtual não. Ou sim?