Insensato coração, sensato cérebro

 
Sim, eu vou falar da novela, mas não se preocupe, não vou discutir as cenas dos próximos capítulos. A novela está para o Brasil como o cinema está para os Estados Unidos. É motivo de orgulho nacional, e de tempos em tempos desperta a atenção geral da nação muito mais do que assuntos que lhe afrontem diretamente. A bola da vez é a novela Insensato coração da Rede Globo de televisão, de mãos dadas com a realidade, que ainda é entretenimento, mas entretenimento que choca; entretenimento com intenção de levantar discussões; é a realidade sob outra perspectiva.

“Ah! Essa hora ainda tem criança na sala!” Mude de canal, assista você outra coisa! Não consegue né? Acha que é errado, mas quer ver... ‘Ah! Isso é apelação!” Mas é mentira? “Ah! Eu não assisto novela!” (duas cerveja depois) Essa Norma é muito burra! Ou... Esse Léo é um malandro sem vergonha! Novela é mais uma de nossas paixões nacionais, é mais um tema pra discutir nas rodas de amigo, num boteco, num salão de cabeleireiro, e etc...

O folhetim vem dividindo opiniões pelo excesso de “maldades” exibidas diariamente. Porém, a pergunta que me faço é “estão mostrando alguma mentira?” É tudo uma questão de perspectiva, alguns folhetins melodramáticos abordam a história dos mocinhos focando o lado sentimental. Em “Insensato” vemos um mocinho e uma mocinha, que começam de uma forma nada convencional, sendo ela melhor amiga da noiva dele, vemos uma trama focada nas mazelas dos seres humanos, no lado obscuro da sociedade. Várias novelas têm um vilão, Insensato tem vilões que parecem mocinhos, tem mocinhos que parecem vilões, ou seja, tem pessoas normais que tem seus lados bons e maus; que se dividem entre o bem e o mal em suas contradições e de acordo com seus interesses.

 A trama também foca em outros pontos de vista da vida, como o sexo só pelo sexo, sem envolvimento. Pode ser apelação? Pode e, em alguns momentos, é, como em toda novela. Pode ser a banalização do sexo e da violência? Pode, mas então não será a novela que está banalizando, e sim todos nós, pois todos os fatos encenados acontecem diariamente na dramaturgia da vida real. Existem vários Lázaro Ramos da vida real, como satiriza o programa Pânico na TV, mas esses Lázaros são de ambos os sexos, de ambas as sexualidades.

A sensatez é um pré-requisito para saber o que é ficção e o que é realidade, e para saber o que a ficção tem de realidade; é condição para escolher o que assistir; é necessária para não ser hipócrita. Portanto, sejamos insensatos nos corações e sensatos no cérebro. Não haja como se não soubesse a resposta para pergunta da música de abertura da novela. No final, é só uma questão de escolha entre assistir ou não, seja a novela, seja a vida real. A diferença é que a novela nunca vai te atingir diretamente, já a realidade...



Fonte: Renato Gomez - [email protected] / Twitter: @Renato_Gomez
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