Ideologia

Meu partido é um coração partido e as ilusões estão todas perdidas. Os meus sonhos foram todos vendidos, tão barato que eu nem acredito. Ah! Eu nem acredito... Que aquele garoto que iria mudar o mundo, mudar o mundo, frequenta agora as festas do "Grand Monde"... Antigamente as ideologias podiam ser vendidas, mas pelo menos existiam, e agora onde estão as ideologias de nossa juventude? O que nossos jovens cultuam? O que eles defendem? Que postura crítica tem nossa juventude?

Perguntas de difícil resposta, você olha a sua volta e vê remanescentes das décadas de 80 e 90, que de jovens só possuem o espírito e os ideais. Até seus heróis já morreram de overdose, mas seus inimigos ainda estão no poder. Ideologia! Eu quero uma pra viver. Ideologia! Eu quero uma pra viver... e quero uma para que nossa juventude volte a viver. Se Fernando Collor de Melo fosse presidente e repetisse suas mazelas no presente, sofro em duvidar de que seria novamente deposto. Nossa juventude não veste mais o verde e amarelo do patriotismo, ela é colorida, sofreu um restart, talvez causado pelas horas em frente aos games.

O meu prazer agora é risco de vida. Meu sex and drugs não tem nenhum rock 'n roll. Eu vou pagar a conta do analista pra nunca mais ter que saber quem eu sou. Ah! saber quem eu sou... Pois aquele garoto que iria mudar o mundo mudar o mundo, agora assiste a tudo em cima do muro, em cima do muro... Certamente os pais adoram o fim do “sexo, drogas e rock 'n roll”, mas não tem motivos para se vangloriarem de seus filhos não terem identidade. Em cima do muro não tem mais ninguém, pois a juventude não pode ficar indecisa sobre algo que desconhece. A juventude nem sobe mais no muro. A juventude não vai mais mudar o mundo, pois o mundo mudou a juventude.

Outro dia recebi pela milionésima vez o texto “Cazuza, um idiota morto” da psicóloga, Karla Christine, criticando o filme “Cazuza, o tempo não para” e o culto ao marginal que cultivamos como ídolo. Cazuza era um transgressor da sociedade sim, mas o ídolo que cultivamos não é o marginal, mas sim o artista, que tinha ideais, que tinha postura diante das mazelas desta mesma sociedade defendida pela psicóloga sob a bandeira da moral e dos bons costumes.          

Preferia o tempo da juventude transviada, mas com ideais. Melhor do que essa juventude sem identidade e que ao invés de transgressões e rebeldias contra as mazelas, dirige embriagada em alta velocidade matando inocentes. “Ideologia, uma juventude idiota e morta”, ou “Karla Christine, uma psicologia morta” poderiam ser os títulos de hoje, mas eu quero que as ideologias renasçam e a juventude renasça junto com ela, se reinvente ao invés de restart.

Fonte: Renato Gomez - [email protected] / Twitter: @Renato_Gomez
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