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Renato Gomez

Crônicas do Velho Porto: Vícios e Virtudes


Nosso protagonista de hoje tem vários vícios, entre eles, o de ser artista. Sua arte conquistou toda uma geração, toda a juventude de um tempo em uma determinada sociedade.

Houve um tempo em que se gritava “Ideologia, eu quero uma pra viver!”, neste tempo, nesta sociedade, o culto é à Hipocrisia. A sociedade de um modo geral tem seus vícios e suas virtudes, mas faz questão de realçar somente os vícios. Álcool, cigarro, jogatina, pra citar os lícitos, e drogas intitulando todos os ilícitos, como se as anteriores não fossem entorpecentes e viciantes.

Nosso protagonista olha em volta e se vê perdido no meio de tantos vícios, roê as unhas, bebe religiosamente todos os dias, se puder, o sexo é diário. A voz da consciência reclama: “Tudo que é demais faz mal.” Dito popular que parece não brotar na população, cada vez mais e mais vícios são disseminados na sociedade.

O grande problema é que um desses vícios sociais é a autofagia. Sim, a sociedade está se devorando, não como quem devora um alimento, mas como um parasita que suga as energias até que elas se esvaiam. Todos são críticos sociais, mas ninguém faz uma autocrítica. “Muita gente equivocada faz mau uso da palavra, fala, fala o tempo todo e não tem nada a dizer.”.

Nosso protagonista agora está depressivo, o médico lhe receitou vários “antis” e ele toma um a cada cigarro que fuma, enquanto toma sua dose de uísque. Mas ninguém vê nada de errado, tem receita médica, não consta nada na bula quanto à proibição de ingerir com bebidas alcoólicas.

Neste interstício temporal a única diferença das drogas permitidas e proibidas é que no segundo caso toda movimentação burocrática e financeira alimenta uma rede de marginalidade que deve ser combatida, uma vez que a cada paranga de droga vendida é dinheiro injetado no tráfico e na bandidagem, há quem discuta quanto a liberação e consequentemente a fiscalização, mas isso são outras questões para uma outra história.

Nosso protagonista agora caiu no mundo da ilicitude e neste tempo vai se drogando... se drogando... e morrendo dia após dia, como quem fuma um cigarro após o outro e desenvolve um câncer no pulmão, o vício dele acaba por apresentá-lo às virtudes da morte.

Todos tem seu ópio, mas questionam o ópio alheio com voracidade, abominando as drogas ilícitas e fechando os olhos para as lícitas. Não há aqui nenhuma apologia às drogas, explique-se, antes que vorazmente também vós julgueIs este subscritor. Estou a questionar o porquê de tanto julgamento por uma morte supostamente, e muito provavelmente, por overdose?

Eu vos respondo... porque foi por uma droga ilícita. Se tivesse morrido por excesso de bebida alcoólica, com uma unha roída que lhe perfurasse o pulmão, ou ainda de parada cardíaca pós uma maratona de sexo, talvez os julgamentos fossem de escassos a nulos, com certeza a repercussão seria bem menor.

É hora da sociedade deste tempo olhar ao seu redor e ver que muitos dos seus heróis morreram e morrerão de overdose, mas os verdadeiros inimigos que devem ser atacados com voracidade estão no poder. É hora de tornar essa voracidade uma virtude e questionar, por exemplo, alguns líderes nomeados para defender determinados direitos que eles mesmos violam, ou outros que se omitem diante do poder para qual foram eleitos.

Todos são tão viciados quanto o nosso protagonista, a discussão é bem maior do que apontar dedos e dizer “que já foi tarde, pois era um viciado que se matou”, quantos jovens o nosso álcool “liberado” mata no trânsito anualmente? Quantas pessoas são tiradas de nosso convívio por câncer pulmonar ocasionado pelo cigarro?

Isso a sociedade finge que não vê. É mais cômodo. Mas sobre essa sociedade, eu só tenho a dizer “Eu nunca tive muito a ver com ela...” e quanto ao nosso protagonista, ele foi descobrir se é azul a cor da parede da casa de Deus... E sobre as virtudes, os vícios às encobriram.

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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