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Renato Gomez

Crônicas do Velho Porto: O Burro e o trânsito


Na cidadezinha havia meia dúzia de cavalos puxadores de carroça, mais meia dúzia de burros selados, e mais uns tantos bois e búfalos de carga. As ruas eram demarcadas pela passagem dos animais e o tráfego de carroças e animais montados era uma maravilha.

Crônicas do Velho Porto: O Burro e o trânsito - Gente de OpiniãoOcorre que houve a construção de um moinho de ventos na região e a população aumentou insanamente. Eram migrantes e imigrantes atrás de emprego na construção do moinho. Com o aumento populacional se deu também o aumento do número de carroças e montarias. Com o passar do tempo o trânsito foi virando um caos. E os acidente começaram a surgir. Criou-se um código de conduta para trafegar as vielas de chão batido, instalaram-se cancelas nos cruzamentos para definir a preferencial, definiram-se as “mãos” de cada via e definiram as multas por infrações cometidas.

Os acidentes pioraram. As carroças foram equipadas com freio ABS, tração nas 4 ferraduras dos animais, retrovisores, ferraduras de liga leve, sensor de marcha ré, GPS, aparelhagem de som. Porém os acidentes teimavam em aumentar. Asfaltaram as ruas. Aumentaram a sinalização, subiram os valores das multas. Num período dobrado os acidentes quadruplicaram.

Foi quando aconteceu um acidente entre um senhor montado em um burro e um outro em uma carroça. O senhor que vinha no burro era de muita idade, quase um ancião, mas enxergava muito bem, era exímio cavaleiro, montava desde novinho. O da carroça era um figurão do empreendimento do moinho, carroça de última geração com motor de dois cavalos puro sangue.

Desceu da carroça e já foi agredindo o outro cheio da razão, esquecendo que quem avançou a preferencial foi a sua carroça luxuosa. Foi na direção do burro e quase o embebedou com seu hálito de vinho ao dizer que este era o culpado por ser um burro tão velho quanto seu dono. E reforçou por diversas vezes que “Só podia ser um BURRO mesmo.”.

O burro via tudo aquilo atordoado, parecia que explodiria, se contorcia de angústia até que expeliu as palavras que queria. Sim. O burro falou e todos atônitos ouviram o seguinte: “Vocês criam regras que não respeitam, não adianta possuírem os melhores animais e as melhores carroças, a cidade ter um tapete de asfalto e uma ótima sinalização se a peça fundamental tem um defeito que parece irreparável. Os seres humanos não se respeitam, não respeitam filas, não respeitam opções que diferem da maioria, isso sem falar das leis. Desta forma, se olhando de um ponto de vista geral vocês não se respeitam, no trânsito, imponentes em suas carroças e animais, é que a coisa piora.”.

O figurão desceu de sua soberba estendeu a mão ao velho e o levantou do chão, a vergonha tomou conta de todos que olhavam a cena, entenderam que realmente muitos acidentes aconteciam por uma questão de respeito. Após levantar o velho o homem olhou para o burro e indagou: “E agora, o que fazemos para corrigir essa falta de respeito?”

E o Burro: “Eu não sei, afinal eu sou só um BURRO!”.

                      

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