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Renato Gomez

Crônicas do Velho Porto: Culpado inocente


Moravam no lado mais pobre do reino, família daquelas desequilibradas, a mãe era serva na casa de uma das famílias mais tradicionais da burguesia, sustentava os 7 filhos com 5 ou 6 moedas de ouro ao mês. O mais velho via aquela situação social discrepante com os olhos da revolta, acabou deixando a ira dominar-lhe os pensamentos e passou a trabalhar na ilicitude do tráfico de ópio na região.

Não demorou a ter a vida ceifada. Em um tiro de garruncha da guarda real, durante uma troca de tiros, agonizou, lembrou da mãe e dos irmãos e a náusea da morte, até o último suspiro, se confundia com a da preocupação em deixá-los desamparados.

A mãe inconformada, queria um responsável pela morte de seu filho. E começou uma investigação de causar inveja até mesmo em Sherlock Holmes. Falou com o milico da guarda real que acertou o tiro de garruncha que pôs fim a saga de seu primogênito. Indagou-lhe sobre os motivos do disparo fatal. Obteve a simples resposta: "Se eu não atirase, ele atiraria, só cumpri o meu dever, se a senhora quer encontrar um culpado, esse será aquele que o levou pra esse mundo."

Descobriu o nome do traficante fornecedor e, ao encontrar-lo, a interrogação foi sobre os motivos palo qual seu filho fora levado ao mundo do ópio pelo seu interrogado. O traficante por sua vez lhe respondeu: "Ele veio até mim após ter sido demitido e humilhado por seu patrão, esse sim é o culpado pela derrocada de vosso filho."

A mãe foi até o ex-patrão do filho e interpelou sobre as cinrcunstâncias da demissão. O homem rude que se achava melhor do que ela e sua família por possuir alguns metros de terra e uma dúzia de animais, as quais, diga-se de passagem, adquiriu por herança, sem derramar uma gota de suor próprio, expeliu as seguintes palavras: "Os impostos aumentam, dona, além do que antes um pobre assim como vocês passando fome do que eu! Se quer um culpado, vá ao rei, ele aumentou os impostos!"

Estava de fato louca. Mergulhada na angústia e apegada ao retrato enlagrimado do filho, foi até o palácio e marcou audiência com o chefe daquela monarquia democrática para questionar sobre os impostos que mataram o filho que ela trouxe ao mundo dezessete anos atrás.

O rei fitava-lhe fixamente enquanto ela lhe deixava a par de tudo, esperando que ao acabar seu relato, o rei fosse baixar os impostos para evitar novas mortes. O rei começou a gargalhar e de repente esbravejou: “Mulher, a culpa é vossa! Se queres um culpado se olhe no espelho, assim como veio até aqui agora, veio outra vez tempos atrás e votou em mim, o que faço agora é a vontade do povo.

A pobre mulher, persuadida pela culpa que lhe fora atribuida pelo despota, uma vez que de fato havia votado nele, caminhou até o local onde eram postas as urnas para as votações. Lá permanecia uma urna exposta como simbologia e um guarda fazia a vigilia. A louca mãe desamparada em um ataque de fúria tomou a garruncha do guarda e atirou contra si, lavando a urna com seu sangue. Em seus pensamentos pairavam o filho morto, os filhos vivos... e a culpa.

Fonte: Renato Gomez

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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