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Gente de Opinião

Matias Mendes

SELVA URBANA: A Violência de Porto Velho


É digno de nota e de lástima os níveis alcançados pela violência na cidade de Porto Velho, onde atualmente é muito provável que em cada dez habitantes pelo menos uns oito já foram assaltados, uns dez foram roubados e outros tantos sofreram alguma forma de subtração de seu patrimônio pelas mais diversas modalidades de furtos, inclusive pela internet. Até parece que Porto Velho converteu-se de vez numa espécie de república dos ladrões, sendo que muitos desses ladrões vivem misturados na sociedade como se fossem trabalhadores. Eu, particularmente, abomino os ladrões de qualquer gênero, detesto matadores de aluguel e não gosto de traficantes de drogas ilícitas. Já fui vítima de muitos furtos, fui roubado uma única vez pelas comparsas da Jamile num golpe de boa noite, Cinderela, mas nunca fui assaltado e muito difícilmente virei a sê-lo. Na verdade, tecnicamente falando, eu passei por cinco situações de tentativas de assaltos, a última delas há dez anos, em Guajará-Mirim. Em três dessas situações os assaltantes foram apenas assustados, nas duas outras foram deixados em estado de não sentir medo, nem raiva, nem desejo de vingança e nem dor. Foram literalmente convertidos a santos pela magia do invento chinês. Nunca perdi um só minuto do meu precioso sono de quatro horas por noite para pensar neles, até porque eram para mim inteiramente desconhecidos. Lembro-me deles tanto quanto lembro dos numerosos queixadas, caitetus, veados e macacos que abati com tiros certeiros na minha juventude de homem das florestas.

Quando afirmo que muito dificilmente virei a ser assaltado é porque conheço como ninguém a minha natureza defensivista, sei perfeitamente que prefiro ser morto a sofrer a humilhação de ser assaltado. Não consigo sequer me imaginar recebendo voz de comando de um reles assaltante. Como perdi o medo da morte ainda muito jovem, é mais que provável que sou um candidato a morrer no ato de um assalto, situação que me parece bastante satisfatória, já que tenho uma só vida. Ainda que algum assaltante viesse a assassinar-me, eu morreria em vantagem em tal confronto, já que fiz minha reserva de desforra há várias décadas quando os assaltantes nem eram ainda tão audaciosos e nem dispunham da superioridade bélica que lhes foi generosamente outorgada pelo Governo integrado por pseudopacifistas incompetentes.

É verdade que hoje os assaltantes estão agindo sob a proteção governamental que despojou os homens honestos dos meios mais efetivos de defesa pessoal em proveito das hostes criminosas. Mesmo assim, considerando-se as precauções que cultivo, qualquer assaltante que tentar me render vai certamente correr o risco de levar um contragolpe mortal de mão, uma facada básica ou mesmo uma boa porretada do meu utilíssimo bastão de rouxinho, isto se o fato acontecer na rua. Se for em minha casa, a festa será feita com espadas muito afiadas, lâminas que abrem uma cabeça como se esta fosse uma melancia e que transpassam um corpo humano como se estivessem rompendo uma estátua de gelatina. A casa ficaria suja, é verdade, levaria um tempo razoável para ficar livre da inhaca conseqüente, mas depois tudo voltaria ao normal. Garanto que não vomitaria em momento algum e ainda comeria um bife mal passado logo depois, antes de empreender uma breve viagem para longe do estrupício e cumprir a quarentena necessária à formalidade de extinção do flagrante.

Infelizmente, porem, nem todas as pessoas tiveram oportunidade de receber um conveniente preparo para lidar com as violências do mundo. Em Porto Velho, por exemplo, no atual momento a marginália está vencendo facilmente a guerra que move contra a sociedade. Os direitos humanos personalizados por ONG’s (na maioria estrangeiras) fazem tudo quanto é possível em prol dos criminosos e em detrimento dos homens de bem. Os níveis de violência urbana atingiram patamares tão altos que estão influenciando até na concepção arquitetônica da cidade que, num estranho fenômeno sociológico de retrocesso histórico, está ganhando características medievais com o surgimento de pequenos castelos fortificados que protegem a integridade de alguns poucos que dispõem da fartura financeira para custear tais edificações. O resto da população, os apoucados socialmente, os sem-fortuna, os sem-arma produzidos pelo cretino Estatuto do Desarmamento, os sem-escolta, os sem-direito à vida produzidos pelo Estatuto da Criança e do Adolescente, as viúvas sem-pensão, os sem-mandato de todos os níveis, enfim, estão todos relegados à sanha perversa dos criminosos, senhores absolutos de uma parcela do território nacional bem superior ao território colombiano controlado de forma ostensiva pelas poderosas FARCS (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), um dos mais perigosos e bem treinados exércitos mercenários em atividade na América do Sul, que em futuro não muito distante poderá aliar-se ao coronel venezuelano Hugo Chávez e derrubar de vez o Governo constitucional da República da Colômbia.

E Porto Velho é hoje, sem dúvida nenhuma, uma das capitais mais conturbadas do Brasil, está vivendo sitiada pelo poder de fogo das quadrilhas urbanas que cometem impunemente delitos das mais diversas naturezas sob a complacência do Poder Público que não se digna a mover um só dedo para proteger o cidadão de bem da sanha dos bandidos. Somente quando algum raro cidadão honesto abate um criminoso é que as turbas fazem grandes manifestações de repúdio à violência. Somente quando um policial é forçado a matar algum bandido é que a sociedade lembra-se de protestar contra os atos de violência que todos nós vivenciamos no dia-a-dia de Porto Velho. A violência prospera, os homens honestos saem às ruas medrosamente porque são compelidos a ganhar o pão de cada dia, os cidadãos de bem dotados de algum poder aquisitivo recolhem-se às prisões particulares cercadas por altos muros e robustas grades, as jovens de famílias humildes viram repasto para satisfazer os instintos bestiais dos estupradores, as poucas casas noturnas decentes vão sendo aos poucos invadidas pelas quadrilhas de malfeitores, mas nem uma autoridade do Governo se lembra de convocar de volta o Coronel Valnir Ferro para dar combate ao crime que campeia solto na capital de Rondônia. Chega a parecer até que os criminosos já estão pagando ao Governo algum tipo de tributo para que não sejam incomodados em suas atividades ilícitas. Quando alguém registra a queixa de um simples furto de residência, apontando na ocorrência o nome de algum suspeito, a burocracia policial leva meses para não chegar a conclusão alguma, conforme eu mesmo tenho uma experiência pessoal de tal natureza.

Enfim, no que tange a Porto Velho, a guerra contra o crime foi de há muito perdida pelas forças policiais para as hostes bandidas do pedaço, faltando apenas a formalidade de rendição do Major que exerce a função de Secretário de Segurança Pública (aliás, oficial subalterno da Comandante-Geral da Polícia Militar) que consistiria em encontrar o Comandante-em-Chefe do crime no teatro de operações de Porto Velho, entregando ao vencedor da guerra a sua espada de Oficial como símbolo da rendição da sociedade porto-velhense derrotada pelas quadrilhas de criminosos. Tal ato daria pelo menos um certo toque de civilidade nesse confronto em que somente o submundo do crime tem levado sucessivas vantagens. Na terra em que os políticos produzem a excrescência hierárquica de Comandantes sendo comandados por subalternos o resultado nunca poderia ser diferente...


Fonte: MATIAS MENDES  -  matiasmendespvh@gmail.com
Membro fundador da Academia de Letras de Rondônia.
Membro correspondente da Academia Taguatinguense de Letras.
Membro correspondente da Academia Paulistana da História.
Membro da Ordem Nacional dos Bandeirantes Mater.
Membro do Instituto Histórico Geografico de Rondônia

 

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