Quarta-feira, 5 de dezembro de 2007 - 11h31
Na manhã de segunda-feira, certamente por obra de alguém dotado de muito espírito esportivo, apareceu no quadro de avisos de um dos corredores principais da Assembléia Legislativa uma simpática saudação grafada em letras garrafais: Feliz Segundona, Corintianos! Em época de tantas saudações natalinas parecidas, seria de supor que os sorumbáticos corintianos levassem na esportiva a inocente brincadeira do colega, no entanto, parece não haver sido isto que aconteceu, pois na manhã de terça-feira a saudação já havia desaparecido do quadro de avisos.
Conceda-se, porém, que o mau-humor reinante entre os corintianos não é sem razão, pois o purgatório da Segundona que precede o inferno da Terceirona não é moleza, não, já que muitos times grandes acabaram seus dias como almas penadas percorrendo o calvário do espinhoso caminho entre a Segundona e a Terceirona até o desaparecimento final no poço sem fundo do ostracismo. Por exemplo, o Bangu, time que chegou a decidir um Campeonato Brasileiro e saiu da competição como vice-campeão, caiu na Segundona, foi para a Terceirona e nunca mais voltou à elite do futebol brasileiro. O Bragantino também. O América do Rio também. O América mineiro idem. O Gama igualmente. Os paraenses Payssandu, Remo e Tuna Lusa viveram o mesmo processo. O Sampaio Correia, do Maranhão, também. A Portuguesa de Desportos está de volta à Primeira Divisão depois de dez anos vagando como alma penada entre o purgatório da Segundona e o inferno da Terceirona. O Bahia e o Fluminense, dois campeões brasileiros, também transitaram entre o purgatório da Segundona e o inferno da Terceirona, sendo que o Fluminense foi resgatado do inferno da Terceirona pelo recurso de uma malandra cartolada. Aliás, entre os grandes do futebol brasileiro somente o Grêmio, o Palmeira e o Botafogo caíram na Segundona e voltaram à Primeira Divisão sem cartoladas e sem conhecer o inferno da Terceirona. Enfim, pelo histórico da penúria de tantos clubes grandes, o Coríntians não está apenas em maus lençóis, está mesmo é em péssimos lençóis. Pode até não voltar nunca mais à elite do futebol brasileiro. Daí a razão do epitáfio latino RIP, que por extenso significa Requiescata in Pace, expressão que vertida ao português vem a ser descanse em paz, termo usual em cruzes de cemitérios. E o Coríntians está de fato morto e enterrado, enviado que foi ao purgatório da Segundona. Se vai ser capaz de ressuscitar, somente o tempo poderá dizer, mas os prognósticos são os piores possíveis. Suportar a depressão pós-queda não é tarefa fácil.
Na verdade, a Segundona, competição disputada em campos quase sem grama, é de fato o verdadeiro campeonato brasileiro. Na Segundona não tem estrelas, não tem fricotes, não tem talvez. O futebol é jogado com verdadeiro espírito de competição, ninguém faz corpo mole e não tem jogadores que caem por qualquer esbarrão. Segundona é campeonato para ser disputado por machos. Donzelas delicadas não sobrevivem aos rigores da disputa que acontece na Segundona. Da Segundona ninguém é negociado para clubes europeus, não há hotéis de luxo e nem árbitros altamente qualificados. O jogo é bruto, é feroz, e somente alguns poucos saem de lá consagrados pela raça, como aconteceu com o zagueiro Sandro e o armador Valdo, do Botafogo, quando o time da estrela solitária cumpriu a sua temporada de purgatório na Segundona juntamente com o Palmeiras. Ambos voltaram à Primeira Divisão logo no ano seguinte e por certo não mais desejam repetir a experiência amarga.
Aliás, a Segundona é tão terrível que ninguém sequer ostenta os títulos de lá trazidos. Ninguém se apresenta como campeão da Segundona, por mais que o tenha sido. O título conquistado na Segundona é infando, ninguém quer falar dele. Parece que até as Taças são guardadas a sete chaves para que nunca sejam vistas. No entanto, apesar de tudo, o que resta aos corintianos é o sonho dourado de ser campeão ou vice-campeão da Segundona o ano que vem, caso escape da fatal descida para o inferno tão temido da Terceirona.
Fonte: MATIAS MENDES - matiasmendespvh@gmail.com
Membro fundador da Academia de Letras de Rondônia.
Membro correspondente da Academia Taguatinguense de Letras.
Membro correspondente da Academia Paulistana da História.
Membro da Ordem Nacional dos Bandeirantes Mater.
Membro do Instituto Histórico Geografico de Rondônia
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