PREFEITURA: Surpresa Positiva

Costumo afirmar que quem critica os erros tem a obrigação moral de elogiar os acertos, e vice-versa, sob pena de tornar-se adulador abjeto ou detrator rancoroso cujos elogios ou críticas não merecem qualquer crédito. Por mais estranho que possa parecer, tal conceito de estro profundamente filosófico não foi elaborado por nenhum pensador notável, constituindo pensamento de minha própria lavra, fato que me poupa a citação de qualquer fonte. E eu sou muito fiel a tal princípio, cultivo o hábito de elogiar ou criticar de conformidade com o mérito de cada caso. Prefiro e sinto muito mais prazer em elogiar um amigo, mas elogio também sem maiores embaraços qualquer desafeto que se faça merecedor de um elogio em determinado momento. De igual modo, aprecio muito mais criticar um desafeto que mereça a crítica, mas sou perfeitamente capaz de criticar um grande amigo que mereça ser criticado, ainda que o ato de tal crítica doa muito mais em mim que nele.

Esta introdução tem o exato propósito de esclarecer as minhas razões para tecer alguns comentários a respeito da administração em curso na Prefeitura Municipal de Porto Velho, atualmente comandada pelo petista Roberto Sobrinho. É mais que público e notório que não tenho qualquer afinidade com o espectro político petista, conquanto tenha mantido por longos anos um forte laço de amizade com o grupo de comunistas bolivianos de Guayaramerín composto por homens de notável inteligência e sólida cultura, amigos com os quais mantive por mais de duas décadas memoráveis tertúlias regadas a Paceñas. No entanto, no Brasil, nunca freqüentei rodas de bares e nunca cultivei amizades regadas a cervejas, tal como nunca cultivei ligações com grupos de esquerda. A exceção que confirma tal regra é o comunista Teixeira, instruído pelos soviéticos numa escola de formação de combatentes e líderes de Moscou, funcionário também da Assembléia Legislativa com o qual mantenho longas conversas a respeito de assuntos militares e políticos. Eu sei onde Teixeira foi burilado e ele sabe perfeitamente onde eu fui instruído, mas não temos qualquer divergência em razão disso. E mantemos prolongadas conversas sem derivarmos para o proselitismo das convicções que cultivamos. Nossas conversas são mantidas no nível estritamente técnico, sempre distanciadas do aspecto ideológico.

A surpresa positiva da qual pretendo falar diz respeito ao desempenho do petista Roberto Sobrinho à frente da administração municipal de Porto Velho. A cidade de Porto Velho sempre foi um moinho para carreiras políticas. Nem mesmo o carismático Chiquilito Erse, que foi o primeiro Prefeito a trabalhar efetivamente pela melhoria do aspecto urbano da cidade, conseguiu escapar de tal maldição. Embora tenha tido um grande desempenho como Prefeito, foi derrotado em 1994 quando tentou eleger-se Governador do Estado. No entanto, Oswaldo Pianna, político de muito menor expressão, havia conseguido ser eleito Governador em 1990.

No caso do atual Prefeito Roberto Sobrinho, que perdeu sucessivas eleições até para vereador, sua chegada à Prefeitura foi encarada como um acidente político de ordem apenas circunstancial. Funcionário da Assembléia Legislativa de desempenho obscuro, ninguém que o conhecia de mais perto seria capaz de imaginar que ele fosse se revelar um bom administrador à frente da Prefeitura, pois a faceta mais visível de suas atividades era a militância grevista, inclusive havendo protagonizado um episódio de grande tumulto dentro da própria Assembléia Legislativa. Afora a sua apagada passagem pela Secretaria Municipal de Educação, nada mais havia em sua biografia que pudesse indicar que ele seria um dos melhores Prefeitos de Porto Velho. Mas, contrariando todas as expectativas pessimistas, há que se admitir que a sua gestão tem sido efetivamente digna de elogios, pois a cidade de Porto Velho está sendo de fato bem administrada, vem sendo mantida limpa e até mesmo os buracos que surgem no asfalto são sistematicamente reparados. Há locais em Porto Velho que estavam há décadas arruinados e que agora receberam os devidos reparos que nenhum  outro Prefeito lembrou-se de providenciar. Hoje podemos ver em Porto Velho os garis em atividade por todas as partes, assim como patrulhas mecanizadas que cuidam da manutenção das ruas. A programação voltada para a regularização dos imóveis urbanos também é uma novidade que todos os Prefeitos anteriores negligenciaram, mas Roberto Sobrinho, forâneo sem qualquer ligação tradicional com Porto Velho, está realizando gradativamente e com absoluto sucesso. O aspecto mais positivo da sua administração são as ações voltadas para o bem-estar da maioria da população, com ênfase ao atendimento dos mais pobres. A sua preocupação com os aspectos de ordem histórica da Capital já produziu resultados positivos como o Seminário de História realizado no mês de outubro, cujos objetivos primordiais foram perfeitamente atingidos. A recuperação e revitalização de Praças históricas da cidade também tem sido uma das preocupações da sua surpreendente administração. Há pelo menos duas coisas que podemos dizer do Prefeito Roberto Sobrinho, mesmo sem ter qualquer afinidade ideológica com o espectro político ao qual ele está vinculado: ele não é abúlico e não é incompetente do ponto de vista do seu desempenho administrativo.

De conformidade com o provérbio chinês que afirma que “não interessa a cor do gato, desde que ele coma o rato”, o Prefeito Roberto Sobrinho tem conseguido até o momento o milagre de administrar Porto Velho sem maiores tropeços e sem desperdiçar recursos com publicidades caras que ao final apenas beneficiam alguns poucos empresários do ramo e em nada resolvem os problemas básicos da comunidade. A sua atuação administrativa por certo será contemplada na História como uma das mais positivas que Porto Velho conheceu até os dias atuais e o seu legado será um fator de referência e responsabilidade para todos os futuros Prefeitos que vierem a administrar a cidade de Porto Velho. Depois de Roberto Sobrinho, que a princípio parecia apenas mais um aventureiro político, não haverá mais lugar para nenhum aventureiro incompetente na Prefeitura Municipal de Porto Velho. Caso ele fosse um cultor da língua de Molière, poderia perfeitamente afirmar: A mon arrivée, la tempête; après moi, le déluge... Tal expressão cairia como uma luva para a revolução silenciosa que ele promoveu na administração municipal de Porto Velho. Não me sinto embaraçado pelo fato de ter de elogiá-lo, conquanto para mim fosse bem mais simples e fácil criticá-lo...

Fonte: MATIAS MENDES  -  matiasmendespvh@gmail.com
Membro fundador da Academia de Letras de Rondônia.
Membro correspondente da Academia Taguatinguense de Letras.
Membro correspondente da Academia Paulistana da História.
Membro da Ordem Nacional dos Bandeirantes Mater.
Membro do Instituto Histórico Geografico de Rondônia