Quarta-feira, 24 de abril de 2024 | Porto Velho (RO)

×
Gente de Opinião

Matias Mendes

A MALDIÇÃO DE CASSANDRA: Duas Faces da Mesma Moeda


Por MATIAS MENDES

Em meio a essa cultura de fomentar intrigas, uma pessoa veio questionar-me a respeito do fato de que, a seu ver, quando tratei do assunto dos políticos que haviam presidido o Poder Legislativo de Rondônia, eu não teria comentado o suficiente a respeito da gestão polêmica do ex-deputado Carlão de Oliveira, o primeiro presidente da Assembleia Legislativa a ser preso pela Polícia Federal durante a OperaçãoDominó. Eu expliquei à pessoa que havia falado, sim, de todos os fatos negativos e positivos da gestão do ex-deputado Carlão de Oliveira à frente do Poder Legislativo, abstendo-me de tratar dos assuntos judiciais do seu caso por serem estes de domínio público, todas as sentenças dos processos que envolvem o seu nome foram amplamente divulgadas por vários veículos de imprensa, sendo desnecessário reprisar assuntos que todos já conheciam.

No entanto, o histórico do meu relacionamento com o ex-deputado Carlão de Oliveira pouco teve de amistoso até a época em ele foi preso. Acontece que logo no seu primeiro mandato, o ex-deputado Carlão de Oliveira envolveu-se em um problema com uma colega sua de raça negra e poderia até haver perdido o mandato em consequência disso. A deputada era do PT e a suposta ofensa racial a ela dirigida ganhou muita repercussão na imprensa, inclusive eu escrevi um artigo sobre o assunto. A exemplo do vilipêndio contra símbolo nacional cometido pelo ex-deputado Reditário Cassol (pai do Ivo Narciso Cassol) anos antes, o episódio envolvendo ofensa de caráter racial praticado pelo então deputado Carlão de Oliveira terminou sendo abafado, a ofendida e seu partido nada fizeram para levar o caso adiante e tudo acabou caindo no esquecimento. Mas eu soube tempos depois que o deputado Carlão de Oliveira guardava algum ressentimento em relação a mim e comentava isso vez por outra. No mundo da informação a gente sempre sabe das coisas, e eu sabia perfeitamente da desafeição do então deputado Carlão de Oliveira, assim como sei de muitas outras desafeições nutridas a meu respeito no âmbito da Assembleia Legislativa.

Quando houve o episódio com o Ícaro de Jaru, em 1999, o deputado Carlão de Oliveira ocupava o cargo de primeiro vice-presidente do Poder Legislativo, acompanhou a crise bem de perto e teria ficado muito mais ressabiado comigo em razão da forma ousada como enfrentei o presidente da Assembleia Legislativa. Homem de percepção bem apurada, ele entendeu ainda melhor o tipo de funcionário que eu era e passou a guardar ainda mais reservas em relação a mim, nunca havendo, porém, me hostilizado de qualquer forma ostensiva. E quando finalmente ele chegou à presidência da Assembleia, sucedendo o ex-deputado Natanael Silva, eu estava exercendo o cargo de Chefe do Setor de Publicações e Anais. Ele simplesmente me exonerou do cargo, coisa mais que normal em qualquer mudança de administração, mas nunca moveu uma palha para me perseguir de qualquer forma. Eu constatei pela sua atitude que ele não era covarde, que ele não se prevalecia do cargo para vingar-se de ninguém, conquanto estivesse devidamente preparado para enfrentá-lo também se fosse necessário. Não foi necessário, ele portou-se comigo com a maior correição, nada fez para me ajudar nos primeiros tempos de sua gestão, mas também não fez nada para me prejudicar, portou-se absolutamente como um estadista consciente de seus poderes e de seus deveres.

Como o Wálter Bártolo nunca desistia de aparar a arestas de minhas desafeições residuais, tempos depois, ele conseguiu que as minhas relações com o deputado Carlão de Oliveira melhorassem sensivelmente, mas sempre com uma certa margem de reservas. No entanto, já na época que antecedeu a Operação Dominó, eu fui informado por uma alta vertente dos serviços de inteligência de que o Estado de Rondônia seria alvo de uma grande operação da Polícia Federal e que tal operação abrangeria a Assembleia Legislativa do Estado. A informação que me foi passada não nominava as autoridades que seriam alvos das diligências, nem o nome de código de operação e nem a data da sua realização, mas assegurava ser assunto iminente e detalhava até mesmo o número de agentes e delegados que participariam da Força Tarefa que seria conduzida para Rondônia em aviões da Força Aérea Brasileira, pois a Polícia Federal não dispunha de aeronaves com capacidade para transportar o contingente policial. Eu cheguei a comentar pela imprensa a iminência dessa grande operação policial no Estado, mas ninguém se deu conta de nada, funcionou a famosa Maldição de Cassandra que costuma afetar os serviços de inteligência em qualquer época e qualquer lugar do mundo. Durante a Segunda Guerra Mundial, por exemplo, o melhor agente soviético, baseado em Tóquio, forneceu a Stálin, com muitos meses de antecedência, todos os detalhes da Operação Barbarosa, inclusive a quantidade de divisões alemães que seriam empregadas e até mesmo os nomes dos seus respectivos Comandantes, mas Stálin, por razões até hoje desconhecidas, não moveu um dedo sequer para evitar ou dificultar a invasão alemã, ignorou olimpicamente o relatório do agente Sergei e tal omissão custou aos soviéticos vinte milhões de vida e quase três anos de terríveis sofrimentos, exemplo de Maldição de Cassandra que voltaria a se repetir com os Estados Unidos no episódio de 11 de setembro de 2001. De tal modo, a Maldição de Cassandra se confirmou no caso de Rondônia, a Operação Dominó foi de fato deflagrada uns vinte dias após eu haver anunciado que uma operação de grande porte aconteceria no Estado. E o deputado Carlão de Oliveira foi dos um presos durante a operação policial.

Quando o deputado Carlão de Oliveira e quase toda a sua família foram recolhidos ao Centro de Correição da Polícia Militar eu tinha sob a minha responsabilidade o acompanhamento de um caso de um Oficial das Forças Armadas ali também internado. Eu visitava o Centro de Correição diariamente. Foi nessa época que tive um contato mais próximo com ele, sempre conversávamos bastante, mas nunca tocamos no assunto de nossas diferenças anteriores. O meu conceito a respeito dele já era outro e há muitas coisas que nem devem mais ser relembradas depois de prescritas por qualquer forma de entendimento. Acredito também que naquela época ele ficou me conhecendo melhor, passando a recorrer algumas vezes aos meus serviços de natureza técnica depois que foi libertado da prisão. O meu protegido encarcerado tornou-se próximo da família dele também, mas sem qualquer ligação com os assuntos objetos dos seus processos.

Destarte, dos processos que envolvem o ex-deputado Carlão de Oliveira eu nunca tive maiores conhecimentos, nem sequer fui testemunha em nenhum dos casos, nunca fui procurado nem pelo Ministério Público nem pela Polícia Federal a respeito do escândalo investigado. A nossa aproximação nunca ultrapassou os limites dos trabalhos eminentemente técnicos, eu limitei-me a cumprir as tarefas lícitas que me foram confiadas e jamais tomei conhecimento dos fatos com os quais não poderia concordar. Daí porque nada tenho a acrescentar a respeito da gestão em si do ex-deputado Carlão de Oliveira na Assembleia Legislativa, que, a bem da verdade, para os servidores da Casa,  foi de fato uma das melhores administrações quando comparada com gestões desastrosas como as de Silvernani Santos, Sidney Guerra e Marcos Donadon que levaram os servidores da Casa à penúria. De tal modo, o ex-deputado Carlão de Oliveira tem seus problemas com o Judiciário, isto é público e notório, tem lá suas encrencas particulares com as quais nunca me envolvi, mas comigo ele comportou-se sempre de forma correta, nunca foi covarde, e, como bom guaporeano, eu tenho consideração pelos homens que não são covardes, independentemente de quaisquer defeitos que possam ter.

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

Gente de OpiniãoQuarta-feira, 24 de abril de 2024 | Porto Velho (RO)

VOCÊ PODE GOSTAR

FÉRIAS: Viagem ao Centro do Brasil

FÉRIAS: Viagem ao Centro do Brasil

                    Por MATIAS MENDES                 No mês de julho, de férias, para compensar uma temporada pelas regiões remotas do Guaporé, meti

PEDRAS NEGRAS: Reflexões da Festa do Divino

PEDRAS NEGRAS: Reflexões da Festa do Divino

Por MATIAS MENDES                   O Distrito histórico de Pedras Negras, no rio Guaporé, entre os dias 15 e 19 de maio, há quase um mês, engalanou-s

BOTAFOGO: O Império da Mística

BOTAFOGO: O Império da Mística

                 Por MATIAS MENDES                   O Botafogo, famoso pela mística que o acompanha, não deixou por menos no ano de 2013, não permiti

BOATOS: Fazendas Fantasmas

BOATOS: Fazendas Fantasmas

                    Por MATIAS MENDES                   Dias atrás, neste mesmo espaço de imprensa, eu teci comentários a respeito da situação do muni

Gente de Opinião Quarta-feira, 24 de abril de 2024 | Porto Velho (RO)