POLÍTICA & MURUPI 24/01/09

Frase do dia:
"Não houve reconhecimento de acordo e em hora nenhuma ele prosperou" – Garibaldi Alves negando um acordo sobre alternância de poder entre PMDB e PT na direção do Senado 

01 – O Brasil que dá certo
Cientistas cariocas produziram pela primeira vez no Brasil uma linhagem de células-tronco de pluripotência induzida. As chamadas iPS - induced pluripotent stem cells - são idênticas às células-tronco embrionárias, mas não são obtidas de embriões e sim de qualquer parte de um corpo adulto e induzidas "artificialmente", pela reprogramação do DNA. A técnica, não reduz a importância do estudo das células embrionárias "autênticas", mas diminui a necessidade de destruir embriões para produção de novas linhagens. Além de facilitar a produção de células-tronco pacientes de forma ilimitada, as barreiras técnicas e éticas, para fabricar ou clonar um embrião, deixam de existir. O Brasil entra no restrito clube de países que dominam a técnica ao lado do Japão, Estados Unidos, China e Alemanha. Certo de um lado, errado do outro. No Brasil ainda morre gente vítima da tuberculose, malária, dengue e fome. Triste mas verdade. 

 02 – Ôn(ib)us e bônus do poder
O vice-prefeito Emerson Castro ganhou um belo presente de ano novo: 30 dias como titular no cargo e soube aproveitar. Se alguém pensou que o jovem Emerson iria brincar de prefeito, errou feio. Dando um expediente de 12 a 14 horas por dia e sem finais de semana, sob a sua batuta a cidade resolveu encarar um sério problema – a desobstrução das calçadas – e mirar o futuro a transformar uma campanha em programa permanente. Ganham todos e até o novo prefeito como cidadão e político. Resolveu a questão das catracas de ônibus que se arrastava mas, nem tudo foram flores. Emerson conviveu com alagações, obras inacabadas, buracos, etc. e, no apagar das luzes, pôs nas costas a medida sempre impopular de assinar o aumento da tarifa de ônibus. Como ensina o Zé de Nana, “quem casa com a viúva assume os filhos”.    

03 – Manda quem pode e escreve quem não tem juízo
Caiu no colo da assessoria de imprensa. Ao colocar o termo “mandar” num documento oficial o servidor mal poderia imaginar que estaria cutucando uma casa de cabas. Ora, como assim mandar? E cá p’ra nós, todo mundo entendeu o objetivo final. Se analisarmos que durante o ano de 2008 foram impetrados 450 mandados de segurança para garantir que alguém tivesse o seu direito à saúde, de alguma forma respeitado, pode-se deduzir que alguma coisa errada ocorre num ou noutro lado. No TFD e no fornecimento de medicação gratuita há falhas aqui e no resto do país mas, como o nosso volume de mandados é grande, cabe investigar e corrigir.  “Mandar” ou não acatar é muito pouco para um problema que tem toda a cara de “desmando”.

04 – Estranha dificuldade
Sou meio paranóico com essa coisa de aviação, creio que por ter sido um “Fabiano” em 1968. Sipam, Cindacta, Anac, Infraero, controladores civis e militares, FAB, Comando Aéreo, radar, é tanta coisa, tanto órgão, tanta sigla e quando há a necessidade corriqueira de saber o nome de um proprietário de aeronave é aquele Deus nos acuda. Ontem um pequeno avião caiu em um canavial em São Paulo com crack e cocaína e a polícia não consegue, mesmo tendo o prefixo e os dados do avião saber o nome do dono. Aí começa a romaria. Um pedido formal à Anac que se manifestará pelos canais competentes. Dia desses um aviãozinho daqui mesmo trazia maconha do Mato Grosso. Todo foi mundo preso, inclusive o piloto, com as mulas mas o nome do “jegue” ou outro bicho qualquer não foi revelado. Não é estranho? Se você quiser saber o nome do dono de um automóvel – e são muito mais que aviões – basta entrar na web.

05 – “O futuro é um profeta com os olhos voltados para trás”
Não sei quem é o autor da frase que me foi citada certa vez por Hamilton Casara, referindo-se a Porto Velho e de como a cidade dava as costas para o Rio Madeira. O município de Porto Velho completa 94 anos de instalação – dia 24 de janeiro de 1915 – no maior “breu”. Nenhuma solenidade oficial que fosse para registrar a data. Apenas o registro de quem é ligado em história, caso do nosso colunista Francisco Matias. Descaso com as nossas raízes? Não sei precisar. Amanhã São Paulo comemora 455 anos de fundação e como cidade cosmopolita, recebe Lulu Santos – um carioca e Daniela Mercury – um baiana – como ilustres convidados para a festa que tem ainda uma agenda cultural extensa. Ado, ado, ado, cada um no seu quadrado. São Paulo tem grana e compromisso. Nós não temos uma coisa nem outra e nem a memória, a cultura e a referência. Sonhamos com o futuro e esquecemos o passado.       

06 – Uma coisa puxa outra...
Escrevia o tópico anterior e lembrava-me dos sítios, prédios e monumentos abandonados da nossa cidade e um em especial, o prédio da primeira Câmara de Vereadores de Porto Velho, hoje só escombros. Com uma história tão rica e com tantos entrelaçamentos internacionais, perdemos quase todo o acervo da Estrada de Ferro Madeira Mamoré e que não venham dizer que o “museu” foi desativado temporariamente. Aquele depósito de algumas coisas, nunca foi museu. Sem passado não há presente nem futuro. Sem apoio cultural, sem educação, a alma do artista, do artesão, e a nossa se apequena. Queremos um grande estádio de futebol. Para a prática de peladas? Teremos teatro mas, teremos atores, atrizes, diretores, produtores e – o essencial – público? Onde está o compromisso? Ou basta o “carguin” do governo e o holerite? 

07 – Dia 2 o bicho vai pegar
No litoral no dia 2 de fevereiro, dia de Iemanjá, é de festa no mar. Pelos grotões do interior do Brasil é dia das Câmaras de Vereadores fazerem uma sessão meia-boca marcando o início do ano legislativo. No Congresso Nacional o normal seria que a Câmara e o Senado fizessem também sessões modorrentas mas, o bicho vai pegar já no primeiro dia. De olho em 2010, as duas Casas fazem a escolha de suas mesas diretoras. Michel Temer na Câmara que estava com a eleição garantida viu seu PMDB fazer uma lambança no Senado e espera o resultado da traição que se delineia. Ainda na Câmara, um forte lobby para pescar as 7.343 vagas de vereadores programou barulho no mesmo dia. A chapa vai esquentar mas, nada tem a ver com o povo cujos empregos somem apesar da multiplicação dos discursos. Só discurso.

08 – Renan, Sarney & Cia.
8 anos de mandato para cada um, 3 senadores por estado, 3 suplentes sem votos, uma conta que ninguém sabe ao certo quanto custa, plano de previdência para humilhar um trabalhador, pífios resultados, brigas intestinas e a tão sonhada imunidade parlamentar com seu lado mais visível: o foro privilegiado. Com tanto que é dado, nem precisaria de salário mais tem salário, despesas reembolsáveis, passagens aéreas e se o cara for experto, um balcão de negócios de corar um agiota. Renan e Sarney têm pendengas na justiça e, mais que nunca, precisam estar montados na carne seca, de onde podem regular o trânsito de processos, indicações e se manterem longe ou colados em cada uma. Clique aqui e leia o que diz Josias de Souza.

09 – FeBeACon
Com tanta coisa grande por fazer e o Congresso se apequena. Não é que um deputado lá do Amapá, o Davi Alcolumbre entendeu que esse negócio de avisar a quem foi nomeado para o serviço público pelo diário oficial está errado? Pois é. O deputado deu tratos à bola e resolveu que um telegrama faz mais efeito que o D.O. Não sei quantos já perderam a nomeação por não saberem do resultado, mas esse é o argumento do ínclito deputado Davi. que esqueceu porém de um pequeno detalhe. Ninguém pode publicar nada no Diário Oficial, que não seja o governo. Já um telegrama pode ser mandado por qualquer pessoa para qualquer outra. Se já existe trote com Bombeiros que é coisa mais séria, imagine com quem aguarda a nomeação. Imagino o trabalho que teve esta ínclita e brilhante mente parlamentar para chegar a isso. 

10 – O Brasil que dá errado
Billy, um gato, bichano de 4 patas, caçador de ratos, etc, estava cadastrado no Bolsa-Família com o nome de Billy da Silva Rosa, e durante sete meses recebeu religiosamente o benefício do governo: R$ 20 por mês. A descoberta ocorreu quando o agente de saúde Almiro dos Reis Pereira foi até a casa do bichano convocá-lo para a pesagem no posto de saúde, conforme exige o programa no caso de crianças: "Mas o Billy é meu gato", disse a dona da casa ao agente. A mulher desconhecia o trambique feito pelo marido – dela e não do gato – Eurico Siqueira da Rosa, que era o coordenador do programa no município de Antônio João lá no Mato Grosso do Sul, recebia uma grana pelo gato e por mais dois filhos que o casal não tem. A renda do Eurico com os filhos virtuais e gato real era de R$ 144 por mês. O trambique foi descoberto em setembro, o benefício suspenso e Eurico ainda perdeu o emprego. Dá pena.

Fonte: Léo Ladeia / www.gentedeopiniao.com
leoladeia@hotmail.com