Terça-feira, 18 de dezembro de 2007 - 10h52
Arcebispo lembra que antes da Campanha da Fraternidade nem os representantes da Igreja Católica conheciam a região.
JOSÉ CARLOS SÁ (*) (*) Colaborador do Gente de Opinião, parceiro da Agência Amazônia.
PORTO VELHO, RO – O Brasil sempre viu a Amazônia como colônia. Os próprios bispos católicos que aprovaram a Campanha da Fraternidade de 2007 não a conhecem direito. “Ficavam imaginando um índio com a flecha, a vitória régia, a casinha na beira do rio. Agora eles conhecem”, afirma o arcebispo de Porto Velho, dom Moacyr Grechi.
Para ele, a morte do líder seringueiro Chico Mendes foi um crime não simplesmente de bandidos, mas de pessoas que queriam destruir a floresta para criar gado. As declarações do arcebispo foram feitas na entrevista de fim de ano concedida ao site Gente de Opinião, parceiro da Agência Amazônia. Os principais trechos:
GENTE DE OPINIÃO – O que mudou para a Igreja da Amazônia, depois da Conferência Episcopal Latino-Americana em Aparecida do Norte?
DOM MOACYR GRECHI – A Igreja da Amazônia foi posta em destaque inclusive no texto. A necessidade de um desenvolvimento sustentável, o respeito pela natureza, evitar a depredação. Ela entrou no texto duas vezes, há toda uma preocupação que não existia antes sobre o meio ambiente.
Quais os ensinamentos que a Campanha da Fraternidade de 2007 deixou para a Amazônia?
Eu achei que não ia dar em nada, mas deu muito certo. O Brasil não conhece a Amazônia, inclusive os Bispos – eles ficavam imaginando um índio com a flecha, a vitória régia, a casinha na beira do rio – e esquecem que tem duas cidades com, pelo menos, dois milhões de habitantes; que a Amazônia é urbana e que 72% da sua população vivem em cidades, algumas até 80%. Depois, considerem-se todos os outros problemas que temos aqui: a droga, a violência, a fragilidade política. Mas agora eles conhecem. O fato é que o Brasil sempre viu a Amazônia como colônia: é a borracha, a cassiterita, o ouro e agora a madeira e assim por diante; não saem projetos para a região. Então, temos que respeitar a floresta, pelo menos em grande parte, evitar a soja, a criação de gado extensiva. A Amazônia é água e floresta. Eu não sou fanático de deixar tudo como está. Nós temos 25 milhões de habitantes que precisam viver e viver bem, mas temos que ter projetos que levem em conta a nossa natureza.
Quase duas décadas depois, como o senhor analisa o assassinato de Chico Mendes (que completou 19 anos no sábado, 22): foi um crime comum ou ambiental?
Naquele tempo (década de 1980) era posse. A floresta era dele, ele estava lá há muitos anos e queria ficar ali. Depois, não queria que destruíssem a floresta porque era o sustento dele. Havia muitos fazendeiros favoráveis à eliminação dele. O Chico incomodava, porque ele começou a ter uma dimensão mundial. No segundo período do Chico entra o aspecto do meio ambiente, da não destruição da floresta. Agora, ele sempre foi de diálogo com todos: com o Exército, comigo, ele nunca ofendia ninguém. Muitas vezes, com medo da morte, ele se hospedou na casa paroquial por uns seis meses. Então, a morte dele foi um crime não simplesmente de bandidos, mas de pessoas que queriam destruir a floresta para criar gado. Inclusive, um irmão do Padre Geraldo que se chamava Ivair Siqueira foi assassinado pelo mesmo pessoal. O Ivair era animador de uma comunidade, sindicalista e candidato a político, isso era ameaça para os bandidos, ele morreu cantando um canto materno.
A ministra Marina Silva tem pesado a mão para a Amazônia, no sentido da proteção, ou ela não é compreendida?
Para mim ela tem uma visão boa, eu tenho pena é que ela não tenha suficiente poder no governo, você sabe que a parte econômica pesa. Agora a visão que ela tem é correta e que não excluí o econômico, mas não prioriza, ou seja, não está em primeiro lugar o dinheiro. Para alguns madeireiros o Deus supremo é o lucro. Um dia eu estava no avião e dois madeireiros conversavam, não me conheciam. Um dizia para o outro: ‘Rapaz, passei 18 ‘carradas’ de madeira com uma nota só’.
Fonte: Agênciaamazônia
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