Sexta-feira, 29 de março de 2024 | Porto Velho (RO)

×
Gente de Opinião

João Paulo Viana

CRÔNICAS DE UMA ELEIÇÃO IMPREVISÍVEL



Nesse domingo, 05 de outubro de 2014, mais de 140 milhões de brasileiros irão às urnas para eleger o Presidente da República na eleição mais disputada desde 1989. Numa corrida eleitoral marcada por reviravoltas após o trágico acidente que matou Eduardo Campos (PSB), até a última semana tudo apontava para um segundo turno entre Dilma Rousseff (PT) e Marina Silva (PSB). Contudo, ontem, as coisas mudaram. Os principais institutos de pesquisas indicam que Aécio Neves (PSDB) recuperou a segunda posição, mesmo dentro da margem de erro, e deve enfrentar Dilma em nova eleição, no dia 26 de outubro.

Incontestavelmente, a artilharia petista contra Marina Silva produziu resultados. De fato, caso se confirme, o PT será o grande responsável pela chegada do PSDB ao segundo turno, quando empreendeu duríssima campanha de desconstrução da candidata Marina Silva. Desse modo, a polarização nas eleições presidenciais entre PT e PSDB, vigente desde 1994, deverá ser mantida. Vale ressaltar que há uma pequena chance da eleição ser decidida ainda no primeiro turno, com a vitória de Dilma, o que é possível, porém pouco provável.

No que diz respeito ao segundo turno, com Aécio numa curva ascendente, não há nada decidido e o posicionamento de Marina Silva será decisivo. Pessoalmente, acredito que, assim como ocorreu em 2010, ela se mantenha neutra. Por outro lado, essa pode não ser a posição do PSB, tendo em vista a proximidade da ala histórica do partido, liderada por Roberto Amaral, fundador e atual presidente da sigla, com o governo petista, do qual os socialistas foram aliados durante mais de dez anos.

Em Rondônia, a eleição para o governo também apresenta reviravoltas. Segundo a última pesquisa Ibope, que causou grande surpresa, o atual governador Confúcio Moura (PMDB) retomou a liderança, deixando Expedito Jr. (PSDB) na segunda posição. Logo atrás, vem Jaqueline Cassol (PR), representante de uma das famílias mais poderosas da política estadual. Em quarto colocado, aparece o Padre Ton (PT) com menos de 10% das intenções de votos.

Desde o início do processo eleitoral, o segundo turno era tido como certo entre Confúcio e Expedito. O que impressiona é a capacidade de reação do atual governador e do PMDB – partido mais tradicional do estado, se recuperando na reta final da campanha, ainda que eu acredite que a diferença entre o primeiro e segundo colocado não seja tão grande.

Não obstante o fato de Rondônia possuir menos de 0,8% do eleitorado brasileiro, o segundo turno presidencial entre PT e PSDB exercerá forte influência sobre o quadro estadual. Dessa forma, vejo que a disputa nacional deve contribuir para que Confúcio e o PMDB recebam o apoio de Padre Ton e do PT rondoniense, algo que quase ocorreu já no primeiro turno, quando o PT abriu mão da vaga de vice na chapa do atual governador.

Nesse contexto, a formação das alianças será decisiva e o apoio da família Cassol certamente tão ou mais importante do que a adesão do petismo. Uma possível frente encabeçada por PMDB, PT e o grupo Cassol, garantiria facilmente a reeleição de Confúcio. Meu argumento baseia-se no fato de que oCassolismo representa uma fatia considerável do eleitorado, principalmente no interior do estado. Todavia, esse é o perfil do eleitor de Expedito, com bases na Zona da Mata e no decorrer da BR-364. Nesse sentido, caso Cassol se mantenha neutro Expedito teria possibilidades de reverter o quadro, mesmo que PT e PMDB se unam.  Se ocorrer uma aliança entre Cassol e Expedito, o que acho pouco provável, tudo indica que Expedito será eleito o novo governador de Rondônia.

Entretanto, torna-se importante lembrar que o rompimento entre Cassol e Expedito deixou “feridas mal cicatrizadas”, o que dificilmente possibilitará que os dois caminhem juntos. Vale recordar que em 2010, o apoio de Expedito e do PSDB no segundo turno foi decisivo para que Confúcio e o PMDB derrotassem João Cahulla (PPS) e o grupo Cassol. Sendo assim, não acredito que o italiano tenha esquecido esse episódio facilmente, quem o conhece sabe disso.

Nessa perspectiva, uma coisa é certa: trata-se de uma eleição imprevisível no estado, momento em que o realinhamento das forças políticas será fundamental. Do ponto de vista político, resta saber quanto custará a formação de um governo com “neo-aliados”, tão distintos política e ideologicamente, como seria uma frente encabeçada por PMDB, PT e o grupo Cassol, em torno do projeto de reeleição. Isso, porém, é assunto para reflexão numa próxima oportunidade.

João Paulo S. L. Viana é cientista político, professor do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal de Rondônia (DCS-UNIR).

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

Gente de OpiniãoSexta-feira, 29 de março de 2024 | Porto Velho (RO)

VOCÊ PODE GOSTAR

A crise na Bolívia e as novas eleições gerais

A crise na Bolívia e as novas eleições gerais

Escrito em parceria com o engenheiro e analista político boliviano Jorge Isaías Chavez Chavez (Fundación para el Desarrollo de la Amazonia).A insist

Sobre o direito de resposta concedido a Expedito Jr. ontem no debate da Bandeirantes/Faculdade Sapiens

Sobre o direito de resposta concedido a Expedito Jr. ontem no debate da Bandeirantes/Faculdade Sapiens

Ontem no debate Expedito Jr. (PSDB) teve garantido direito de resposta, depois que o Coronel Marcos Rocha (PSL) afirmou que Expedito teve o mandato de

Robert Michels, os partidos e as eleições 2018 em Rondônia

Robert Michels, os partidos e as eleições 2018 em Rondônia

Nas eleições de 2014 ao governo rondoniense, o então governador e candidato à reeleição, Confúcio Moura (PMDB) venceu, por uma pequena margem de votos

Gente de Opinião Sexta-feira, 29 de março de 2024 | Porto Velho (RO)