Domingo, 5 de dezembro de 2010 - 16h51
HELDER CALDEIRA
Ou nossos analistas políticos já estão querendo pendurar suas chuteiras e antecipar suas aposentadorias, ou realmente estão cada dia mais cegos, retardados (no sentido temporal) e burros (no sentido literal). Tudo que tenho visto e lido nos últimos dias na TV, nos jornais e nos sites e blogs desses “sabe-tudo” são ferocidades pelo silêncio da presidente eleita e um festival de críticas aos nomes ministeriáveis, sob alegação de que Dilma Rousseff estaria sendo totalmente pautada pelo quase ex-presidente Lula. Acho que nossos “formadores de opinião” estão meio preguiçosos, optando por analisar a mais simples das vertentes e deixar o leitor/espectador com informações truncadas e desfocadas, restando a sensação da falta de compromisso com a qualidade. Sim, isso é uma crítica. Não concordo com as tentativas de censura e acho absolutamente lunática a ideia de querer “controlar” a imprensa. O que acho imprescindível nesse momento é uma renovação nos quadros de profissionais dos veículos de comunicação e a exigência premente de qualificação dos que pretendem promover a notícia em nosso país. Os nossos “pseudonotáveis” estão ultrapassados.
Vejamos a questão das indicações da presidente para composição de seu governo. Há três pontos que merecem especial destaque: 1) Dilma tem uma equipe pessoal, nomes de sua confiança que irão ocupar ministérios-chave e serão mais próximos ao Planalto; 2) Existem ministérios e cargos que serão ocupados pelos partidos aliados, como PMDB, PSB, PP, PDT, PCdoB e afins, em nome de uma governabilidade; e o mais importante, 3) Dilma receberá a faixa presidencial no dia 1º de janeiro de 2011, mas já exerce um papel semelhante ao de uma primeira-ministra desde 21 de junho de 2005. Lula se ocupou dos compromissos oficiais (e outros nem tanto) de um presidente da República: viajou, divulgou o Brasil, jantou com reis e rainhas, apertou a mão e tirou fotos com Obama, com Chávez e com Hu Jintao, além de promover churrascadas e festas juninas na Granja do Torto. Criou um protocolo, digamos, menos formal. Enquanto isso, coube à Dilma Rousseff o papel executivo, a orientação técnica e a difícil tarefa de fazer decolar um governo que estava atolado no lamaçal dirceusista.
Naquele 14 de junho de 2005, quando o depoimento avassalador de Roberto Jefferson teve mais audiência que uma final de Copa do Mundo entre Brasil e Argentina, a então ultrasséria ministra das Minas e Energia emergia das profundezas petrolíferas como nome ideal para assumir a Casa Civil e colocar ordem no galinheiro. Até o dia de sua ascensão, o que vimos foi um troca-troca interminável de ministros e um governo que não dava certo. Quando assumiu o posto de “primeira-ministra”, Dilma legitimou nomes como Guido Mantega, Tarso Genro, Fernando Haddad, Hélio Costa e Alexandre Padilha, além de fortalecer suas principais assessoras, entre elas, a agora ministeriável Miriam Belchior. Dos poderosos da era José Dirceu, só sobreviveu Paulo Bernardo e isso porque Dilma assim desejou. À exceção do Bolsa Família, o governo Lula só começa a dar certo quando a turma de Dirceu (Genoíno, Delúbio, Silvinho, Marcos Valério, etc.) são defenestrados e Dilma assume o timão do navio. À essa altura do campeonato, Lula estava acuado e tendo que fazer aquele papel humilhante de “não sei, nunca vi e vamos cortar na própria carne”. É justamente após a ascensão de Dilma e de suas acertadas decisões que Lula dispara na aprovação popular e descobre, “como nunca antes na história desse país”, o ufanismo como hobby.
Ou seja, em tese e oficiosamente, Dilma Rousseff já era presidente desde 2005. Os ministros que ela irá manter, não ficarão por imposição de Lula ou do PT. É o extremo inverso. Eles já tinha sido escolhidos por ela ao longo dos últimos cinco anos. Nunca foram ministros do Lula, de fato. E também não eram as escolhas desejadas por José Dirceu, pelo PT e pelos aliados, em especial o PMDB. Dizer que Lula está determinando o governo Dilma é, no mínimo, preguiça jornalística de realizar uma pequena pesquisa em nossa história recente e de ter olhos críticos para analisar o percurso dos fatos na última metade desta década.
E ouso dizer mais. Não parece ser do perfil da presidente Dilma aceitar que lhe empurrem qualquer chouriço goela abaixo. Todos sabem que ela não fez cara boa quando o PMDB escolheu o insípido Michel Temer para compor a chapa como seu vice. Assim como todos sabemos que ela não ficará de tró-ló-ló com ele e sua politicagem nauseabunda. Quando quer ouvir o PMDB, Dilma recorre ao governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, e ao deputado norte-riograndense Henrique Eduardo Alves, este desejado por ela na presidência da Câmara. Ainda assim, soube colocá-los em seus devidos lugares quando encarou o tal “blocão” articulado entre deputados e fazendo-se respeitar ao desdizer o governador Cabral quanto à nomeação de seu secretário Sérgio Côrtes ao ministério da Saúde.
Ora, convenhamos, se o fato de afirmar que ela está sendo pressionada por Lula e pelo PT já soa como um apequenamento preconceituoso de suas potencialidades como líder, imaginem o que diriam se ela aceitasse tranquilamente ser pautada por um governador que vem se achando surfista na crista da onda. Ela sabe que ceder agora aos majoritários estaduais significa colocar-se refém de querelas onde não precisa e nem deve se meter. Dilma não é tola. Ela, indiretamente, preside esse país desde 2005 e conhece bem as regras do jogo. Só os nossos “notáveis” analistas políticos é que preferem não enxergar isso e seguem navegando a esmo em seu comodismo intelectual. Vão terminar como José Serra, nau a pique em mar profundo. Caminho certo para o esquecimento.
Fonte: HELDER CALDEIRA
Escritor, Colunista Político, Palestrante e Conferencista
www.magnumpalestras.com.br – [email protected]
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