Quinta-feira, 7 de novembro de 2013 - 19h01
GABRIEL NOVIS NEVES
De Cuiabá
Em 1971, o professor Rodrigues Lima, “catedrático” da cadeira de obstetrícia da então Faculdade de Medicina da Universidade do Brasil, hoje UFRJ, veio a Cuiabá proferir uma palestra sobre planejamento familiar. Na época o assunto era uma novidade para um país de maioria católica, onde era proibida, pela lei de Deus, a limitação do número de filhos. “Crescei e multiplicais-vos”, ensina a Bíblia Sagrada.
Único método anticoncepcional aceito pela igreja católica é a “tabelinha”: o coito é interrompido na metade do ciclo menstrual, quando o corpo da mulher está preparado para a reprodução. Esse método antifisiológico é de baixa eficiência. A questão do superpovoamento do planeta preocupava os organismos internacionais.
O professor Rodrigues Lima foi, no Brasil, um dos pioneiros na campanha sobre o esclarecimento do uso dos métodos anticoncepcionais, tendo como objetivo preservar a saúde da mulher que praticava o aborto clandestino, método empregado no planejamento familiar.
Fundou um serviço modelo no Rio de Janeiro, onde orientava casais que pretendiam constituir uma saudável família com filhos desejados pelo casal. Percorreu o Brasil disseminando o seu projeto de limitação consentida de filhos, fazendo conferências, palestras, aulas e motivando a sociedade e classe médica ao engajamento do então revolucionário projeto.
Ao chegar à nossa capital, de aproximadamente cem mil habitantes naquela época, antes de ser conduzido ao hotel onde ficaria hospedado, solicitou que o levassem até à nossa Maternidade do Hospital Geral, na Rua 13 de junho. Dirigiu-se à recepção e solicitou de uma funcionária o favor de lhe fornecer, aleatoriamente, uma centena de protocolos de internação. Anotou em uma pequena caderneta alguns números.
Depois pediu que o levasse para o hotel para descansar, pois à noite faria a conferência na Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT).
Ninguém perguntou nada ao professor sobre sua pesquisa, e ele não comentou nada. A aguardada fala do professor aconteceu no prédio hoje ocupado pelo Museu Rondon. Pontualmente, às 20h, a mesa diretora dos trabalhos já estava formada, com as presenças do governador, prefeito, arcebispo de Cuiabá, membros do poder Legislativo, Judiciário, Tribunal de Contas, militares e reitor. Plateia lotada, com gente sentada no chão e em pé. O professor é apresentado sem nenhuma formalidade e assume o comando da reunião.
Fugindo ao clássico boa noite “meus senhores e senhoras”, foi direto ao assunto com a seguinte pergunta aos assistentes: “Cuiabá é uma cidade católica?”.Silêncio total! Começou a dirigir a pergunta a algumas esposas de autoridades, pessoas da plateia e, finalmente, ao Arcebispo.
As respostas foram unânimes: “Cuiabá é sim, professor, uma cidade muito católica”. Justificou a sua pergunta por causa das inúmeras igrejas católicas que encontrou no trajeto do aeroporto ao centro de Cuiabá e Coxipó, sede da UFMT. Foram citadas as igrejas de São Gonçalo, Nossa Senhora Auxiliadora, Bom Despacho, Catedral do Senhor Bom Jesus de Cuiabá, Senhor dos Passos, Nossa Senhora do Rosário e São Judas Tadeu. Ouviu a todos com atenção nas suas respostas e justificativas, afirmando ser Cuiabá uma cidade católica. Só então iniciou a sua palestra. Relatou a rápida pesquisa que fizera na Maternidade, onde constatou elevado número de mulheres, na sua maioria jovem, que provocavam o aborto e, ao sangrarem, se dirigiam ao hospital para socorro médico.
Mais de 40 anos nos separam desse acontecimento histórico, onde pela primeira vez se debatia, escancaradamente, o grave problema de saúde pública, que é o aborto clandestino. Ficou a sugestão da criação de centros de educação para o planejamento familiar.
O Ministério da Saúde divulgou, recentemente, pesquisa em que informa que, por ano, são praticados no Brasil mais de um milhão de abortos. O diagnóstico? Falta de vontade política e competência governamental para resolver o problema da nossa educação.
Triste saber que o Brasil é, também, um País aborteiro.
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