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Elson Martins

Encontro de apaixonados


 

Encontro de apaixonados - Gente de Opinião
Professora Rauana Albuquerque sentada à mesa com o poeta (estátua) Juvenal Antunes, em Rio Branco /ELSON MARTINS

 

ELSON MARTINS
Editor do Almanacre



Juvenal Antunes viveu como um príncipe, embora torto, no Hotel Madrid, no Segundo Distrito de Rio Branco, nas décadas de 20 e 30 do século passado. Era promotor público e poeta, além de incurável boêmio. Cantava às escâncaras seu amor por Laura, uma dona que tivera como vizinha na cidade de Natal, no Rio Grande do Norte, e que acabou sendo sua eterna inspiração. Preguiçoso, ele escreveu o “Elogio à Preguiça”, tão convicto desse bem:
 

“Bendita sejas, preguiça amada, tu que não queres que eu me ocupe em nada”!
 

Rauana Batalha Albuquerque é da novíssima geração de professores saídos da Universidade Federal do Acre (Ufac). Nasceu em Rio Branco em 1985, quarenta anos depois que o poeta desaparecera. Formada em Letras Vernáculas em 2006, fez pós-graduação em Língua Portuguesa pela Universidade Católica de Goiás, em 2008, e agora, em maio de 2011, concluiu o Mestrado em Letras: Linguagem e Identidade, na Ufac.
 

A dissertação de mestrado recebeu como título “Veredas Poéticas de Juvenal Antunes”. Foram dois anos de árduo trabalho de pesquisa, com viagens a Natal e Ceará-Mirim, terra onde o poeta nasceu. O objetivo, segundo ela, “foi  analisar as principais características temáticas e estéticas da poesia de Juvenal Antunes, bem como verificar o diálogo que se estabelece entre ela e a história, cultura e sociedade amazônica e nordestina - ambiências das quais o poeta fez parte -, além de sondar possíveis influências e diálogos com a efervescência cultural e literária do início do século XX”.
 

Rauana estudou 170 poemas encontrados em jornais, livros e artigos de acervos públicos e particulares, “analisados separadamente em agrupamentos por modalidades de expressão: humorísticos, satíricos e líricos. Os resultados da pesquisa dão conta de que a trajetória poética do autor é composta de variações temáticas e estéticas que vão desde a recorrência de sonetos nos moldes parnasianos para o derramamento da lírica amorosa ou filosófica a quadrinhas, mais próximas do popular, para brincadeiras jocosas com amigos ou mesmo desembocar em sátiras ardidas em versos dísticos”.
 

Para ela, a poesia de Juvenal Antunes “também dialoga com a de outros escritores ícones da literatura situada no período do Pré-modernismo brasileiro, o que explica o porquê de algumas veredas tomadas por Juvenal Antunes no labirinto literário poético”.  
 

Sua dissertação possui 207 páginas e se compõe a partir de 3 capítulos. O primeiro capítulo – Das Veredas Espaço-Temporais: Contextos da Trilha de Juvenal  Antunes – “possui um esboço biográfico do poeta, além de principais informações crítico-teóricas e históricas sobre as origens do poeta, um pequeno esboço biográfico e uma breve discussão crítico-teórica sobre a região de destino de  Juvenal  onde viveria a maior parte de seus anos, a região Amazônica, mais especificamente o Estado do Acre e as cidades de Sena Madureira e Rio Branco, lugares onde Juvenal morou e produziu grande parte de sua poesia”.
 

O segundo – Das Veredas Poéticas: Principais Tendências Temáticas e Estéticas da Poesia Juvenalina – “consiste na reunião dos poemas, leitura compreensiva e interpretativa para levantamento das principais tendências temáticas, estéticas e modalidades de expressão. Nesse momento, fazemos a apresentação dos poemas, divididos e classificados, em três grupos, a partir das modalidades de expressão: satírico, humorístico e lírico, levando em conta a natureza dos textos poéticos”.
 

No terceiro e último capítulo, “refletimos acerca Das Forças Motrizes: Influências e diálogos na poesia juvenalina, numa tentativa de compreensão das escolhas temáticas e estéticas, analisando as influências e diálogos que a poesia juvenalina estabelece dentro do panorama literário nacional do início do século XX, ou seja, no chamado Pré-modernismo que acolhe tanto o conservadorismo quanto o renovo”.
 

“Acredito - prossegue a autora - que a importância maior deste trabalho dá-se pela tentativa de trazer ao conhecimento do público a produção poética completa do escritor. A divisão de todos esses poemas em agrupamentos temáticos discutidos e embasados teoricamente também é outra contribuição, bem como a análise das principais escolhas e recursos adotados por Juvenal em seu fazer literário poético. No tocante aos estudos literários, acreditamos que esse trabalho pode ser mais uma referência de estudo de poesia “acreana”. Ressaltando, porém, que não está fechado o estudo sobre a poesia de Juvenal Antunes; temos aqui, provavelmente, um ponto de partida, um esboço sintético de apresentação do autor e seu perfil literário. Diferindo um pouco e ampliando, quem sabe, os apontamentos sobre a poesia juvenalina feitos pelo potiguar Esmeraldo Siqueira (1968), pela professora acreana Laélia Silva (1998) e pela sobrinha-neta de Juvenal Lúcia Helena Pereira, em livro (2002), e artigos (2008) publicados no site da Biblioteca da Floresta (Rio Branco – AC)”.
 

Finalmente, ela revela:
 

“Meu anseio é o de que este trabalho sirva como contribuição, talvez ponto de partida, para o reconhecimento do poeta e sua poesia multiforme. Ao final do itinerário, também reconhecemos que a poesia de Juvenal Antunes dá margem para várias leituras que não se esgotam neste estudo de natureza panorâmica, portanto, mais abrangente, porém com limitações variadas, inclusive a das escolhas teórico-metodológicas da pesquisa.  Enfim, essa foi a minha tentativa de pôr em evidência as facetas da poesia de um boêmio inolvidável, de apontar algumas das veredas poéticas de Juvenal Antunes”.
 

Rauana Albuquerque é uma jovem bonita, recatada e tímida. Em 2009, ela me procurou na Biblioteca da Floresta para obter informações sobre a obra de Juvenal Antunes. Na época, não me pareceu que fosse tão longe. A sobrinha-neta de Juvenal, Lucia Pereira, entrevistada por Rauana em Natal, ficou encantada com a jovem professora e fez um apelo às autoridades acreanas, para que acolham sua obra.
 

O título desta matéria é uma homenagem aos dois – Juvenal e Rauana –, que me pareceram tão apaixonados pelas letras, pela poesia! Enfim, ele, pelo que fez no passado, e ela, pelo que está fazendo neste ano frívolo de 2011.

 

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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