Cachorro sentando

Sempre achei o nome desta grota intrigante.  Cachorro Sentado.  Fica ali no Garimpo de Bom Futuro, o pessoal de lá, fala a expressão “Cachorro Sentado” numa rotina

como se fala Brasília, São Paulo ou Ariquemes.  O nome pegou na língua do povo definitivamente.  E se pode indagar, onde fica este lugar e por quê deste nome tão estranho? 

Você mesmo pode ir lá conhecer. Sai de Ariquemes e roda setenta quilômetros até o Distrito do Bom Futuro. Chegando lá, pega estrada à direita e vai entrecruzando com dezenas de estradas , em ângulos retos e  agudos, em bifurcações em arcos e flechas, em meia volta-volver,  para esquerda e direita. Você pensa que está perdido, olha pra baixo e vê cortes em pedras de cinquenta a cem metros de profundidade, lá à frente, lagos.

Escavações escadeadas, mais ou menos no estilo na Torre de Babel, entre desfiladeiros, que não se deve olhar pra baixo, para não ficar tonto e se despencar morro abaixo e nunca mais ser encontrado, e pode ir, descendo e subindo. E neste vai e vem, juro que ao chegar lá, os seus pecados estão todos perdoados. 

Ao chegar num  baixio cheio de gente, lá é o Cachorro Sentado. Tem máquinas enormes engolfando terra e água, lavando tudo aquilo, desmanchando morro e aquela lama é chupada por bombas e decantada em máquinas especiais para separar o cassiterita do rejeito. Quando não é deste modo, a pedra é explodida e levada para moinhos especiais que faz o serviço do mesmo jeito.

E no meio das máquinas, estão os “requeiros” que são  garimpeiros de uma coragem de lampião, sem máquina e sem meios,  fica ali perto das máquinas gigantes, quando ela abocanha na concha a terra ou pedra e levanta para despejá-la na caçamba, o requeiro entra bem rápido, como uma flecha e cata um bocado de terra e enche um saco. Sai dali,  lava a terra em máquinas improvisadas, paga a meia, e o minério para a Cooperativa Copersanta. 

Há um enfileirado de casas dos dois lados. Um  estirão que sobe uma morroado mais suave, como se diz, uma colônia de requeiros e marreteiros, que vivem por ali, no lugar que foi apelidado de “cachorro sentado”. O nome é consagrado, tem moral de resistência e a turma  tem uma coragem dos guerreiros medievais, arriscam-se todos os dias. No passado, quase todo dia era assassinado um homem, que ficava ali estirado até por vinte e quatro horas,  esperando providências, enrolado numa lona preta. Carroceria de uma camioneta era levado o morto, para perícia em Ariquemes. Hoje, fiquei sabendo, que tudo está pacificado. Residem famílias e trabalhadores nesta guerra de todos os dias, entre a máquina gigantesca e o homem esperto.

Dei ordem de serviço para uma Escola de Ensino Médio para atender a todos, inclusive, aos jovens do  Cachorro Sentado. 

O nome veio do grande número de cães existentes no lugar, que ficavam latindo sentados sobre pedras. Ou de uma mulher muito brava, que perseguia o marido desaparecido e o encontrou ali e chispando os olhos disse: “olha o cachorro sentado ali e você paga!”