Quinta-feira, 2 de maio de 2019 - 16h25
No último
dia 30 de abril cerca de 120 famílias impactadas pelas usinas de Santo Antônio
e Jirau (Hidrelétricas do Rio Madeira, instaladas no gerenciamento petista),
manifestaram-se fechando as estradas que dão acesso à Hidrelétrica de Santo
Antônio, em Porto Velho. As famílias fazem parte de organizações ribeirinhas,
de moradores do Bairro Triângulo, do distrito de Abunã e de localidades do
baixo Madeira (Comunidade Silveira e outras), pescadores profissionais do
Madeira, além de povos indígenas atingidos pelas UHEs. Também o grupo de
Estudos e Pesquisas Interdisciplinares Afros e Amazônicos – GEPIAA/UNIR,
acompanhou e apoiou a preparação e a mobilização das famílias.
Há mais
de um ano o GEPIAA/UNIR vem trabalhando com essas comunidades para auxiliar nas
questões pendentes e oferecer subsídios, via estudos para fortalecer a
argumentação das populações. Foi realizada uma Atividade de Pesquisa Programada
(APP) com o Mestrado Profissional Interdisciplinar em Direitos Humanos e
Desenvolvimento da Justiça (DHJUS), em 2018, levando mais de 30 magistrados,
procuradores e defensores federais e estaduais, advogados e pesquisadores às
áreas atingidas, entre os dias 9 e 14 de abril/2018, para que os mesmos
tomassem conhecimento real das condições em que se encontram essas populações.
As
reivindicações das famílias eram claras:
1- Moradia
para os moradores que perderam tudo com as UHEs;
2- Indenizações
pelas perdas generalizadas durante a cheia de 2014;
3- Apresentação
dos resultados dos processos judiciais que estão paralisados segundo os
moradores;
4- Pagamento
do que foi firmado com as empresas hidrelétricas há 5 anos e ainda não foi
cumprido;
5- Revisão
de áreas de reassentamento onde o solo se encontra encharcado e inviabilizado
para as práticas agropecuárias;
6- Reassentamentos
comunitários em condições de igualdade a vida anterior à chegada das UHEs;
7- Pelo
fim da mera transferência de indivíduos atingidos para as moradias do minha
casa minha vida onde são obrigados a pagar prestações, moram em casas ou
apartamentos inferiores às moradias que tinham antes e perdem todos os contatos
de vizinhança e comunidade
8- Solução
para os problemas continuados gerado pelos novos fluxos diários de subida e
descida das águas, quando as UHEs abrem e fecham as turbinas, causando mais
desbarrancamentos e arruinando as práticas agrícolas tradicionais das várzeas;
9- Indenização
aos pescadores por suas perdas e pela interdição das áreas onde ainda se
encontram peixes;
10- Indenização às
populações ribeirinhas pela perda de empregos e meios de sustento em função da
alteração dos regimes e fluxos do rio Madeira;
11- Pagamento de
indenizações às populações indígenas afetadas pelas transformações ambientais e
reconfiguração do rio e dos lagos criados pelas UHEs. Essas indenizações estão
sendo proteladas há mais de 5 anos;
12- Reassentamento de
comunidades ribeirinhas em áreas altas e em condições de igualdade ao modo de
vida e produção anterior às UHEs, especialmente o caso de Abunã;
13- Assistência
médica e escolar às comunidades ribeirinhas afetadas pelos efeitos das UHEs;
14- Indenização aos
produtores rurais que perderam terras e bens após a formação dos reservatórios
e em especial ao longo da cheia de 2014, tida por eles como antinatural;
15- Andamento dos
processos judicias;
Houve
intensa mobilização das comunidades, com doações voluntárias e confecções de
materiais coletivos (cartazes, faixas, aluguel de ônibus, alimentação, água,
etc), que demonstram o exercício do poder popular onde as massas passam a
dirigir os destinos de sua própria história. Pela justeza de sua reivindicação
as famílias conseguiram sensibilizar outras categorias, que mesmo não estando
presentes, apoiaram o movimento.
Na madrugada do dia 30, as famílias bloquearam os dois acessos da UHE Santo Antônio durante toda a manhã. A PM foi acionada pela empresa e após horas de negociação as famílias saíram com a condição de serem atendidas pelo Desembargador do Tribunal de Justiça de Rondônia, Walter Watemberg. O Desembargador do TJ, após ouvir as comunidades, comprometeu-se em apresentar uma proposta de negociação com as usinas hidrelétricas, além de discutir com os demais desembargadores o pleito das comunidades. As famílias seguem mobilizadas e nova rodada de negociação ocorrerá na próxima terça-feira.
Com informações do GEPIAA/UNIR
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