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Gente de Opinião

Dom Moacyr

Urgência da Páscoa para nosso povo!


 
Diversos acontecimentos iluminam o mês de fevereiro e a liturgia volta nosso olhar para o mistério de nossa vida e missão, convidando-nos a rever a nossa identidade cristã, através do encontro com Cristo. Se­guindo-o, vamos compreendê-lo e “reconhecer que nele se realiza o melhor de nós, aquilo a que aspiramos sem alcançar totalmente”.

Olhando Cristo, ingressamos numa nova humanidade e “reconhecemos o melhor de nós mesmos enquanto criaturas criadas, sustentadas e habitadas por Deus, que nos chama à confiança nele e na fraternidade com as outras pessoas” (Queiruga).

Viver a própria vocação e missão como o profeta Isaías significa deixar Deus entrar em nossa vida e permanecer atentos aos sinais que nos envia ao longo de nossa jornada. Isaías aceita o envio antes de saber concretamente qual é a missão: “Aqui estou! Envia-me” (Is 6,1-8). Ser cristão hoje é tornar-se um enviado de Deus “conforme a lógica da Aliança, que é de encontro de liberdades e escolha recíproca” (M.Domergue). É, sobretudo, viver a santidade e a prática da justiça.

Os pescadores que “deixaram tudo e seguiram a Jesus” passaram do medo à fé, da tristeza das pescas inúteis à alegria da esperança (Lc 5,1-11). Jesus chama seus primeiros discípulos, mostrando-lhes qual a missão reservada a eles: fazer que os homens participem da libertação trazida por Jesus e que só pode realizar-se no seguimento dele, mediante a união com ele e sua missão. O convite ao seguimento é exigente: é preciso “deixar tudo”, para que nada impeça o discípulo de anunciar a Boa Notícia do Reino (BP).

Ser cristão é acreditar que “a vocação encarna-se na situação vital de cada um, porém, o arrasta daí para o caminho que Deus projetou” (Konings). Também Paulo viveu uma irrupção de Deus em sua história: o Cristo glorioso, que lhe apareceu no caminho de Damasco, revolucionou sua vida. Consciente de que é apenas mais um elo na grande corrente da fé, Paulo se apresenta como continuador do projeto de evangelização (1Cor 15,1-11).

O caráter do testemunho é essencial na vida cristã, pois ser cristão é assumir nossa identidade de testemunhas da presença de Jesus em nossa vida; é assumir a responsabilidade de ser, como Paulo, discípulo-enviado assumindo a missão de anunciar Cristo morto e ressuscitado.

O “Viva Cristo” é um dos retiros que acontece neste período de Carnaval, em Porto Velho (06-09, Santuário Arq. N.Sra.Aparecida), possibilitando o encontro com “Aquele que conseguiu revelar e viver para Deus como amor infinito e perdão incondicional, preocupado apenas com nosso bem e nossa salvação, convocando-nos a colaborar com Ele para que isto seja possível para todos”.

A celebração da Festa da Apresentação do Senhor (02/02) marcou o encerramento do Ano da Vida Consagrada. Reafirmando que “Cristo é a face da Misericórdia do Pai”, pois se apresenta a nós como “a perene surpresa de Deus”, concedendo-nos a sua “misericórdia e ternura”, papa Francisco refletiu durante a homilia ser esta a festa do encontro (Lc 2,22-40); em Jesus “nascido para todos se encontram o passado, feito de memória e de promessa, e o futuro, repleto de esperança”.

Os religiosos “são chamados, antes de tudo, a serem homens e mulheres do encontro”. A vocação, de fato, não se inspira num nosso projeto pensado de “maneira estratégica”, mas numa graça do Senhor que nos alcança, através de um encontro que transforma a vida. Quem realmente encontra Jesus não pode permanecer como antes. Ele é a novidade que faz novas todas as coisas. Quem vive este encontro se torna testemunha e promotor da cultura do encontro.

A proximidade da Quaresma mostra a urgência da Páscoa para todos os seguidores de Jesus; para os povos que sofrem e fogem das guerras; para as etnias e culturas que estão sendo dizimadas; para os marcados pela desigualdade frente à vergonhosa concentração de renda de 1% mais rico de brasileiros; para nossa gente que agoniza na terra e pela terra, vendo seus filhos desaparecerem nos acampamentos do Vale do Jamari, em Campo Novo, Monte Negro, Buritis e demais municípios e distritos e para suas lideranças do MAB e Pastoral da Terra que são covardemente assassinadas como Nilce de Souza, filha de seringueiros de Xapuri, que residia na região de Abunã há 50 anos.

Dados parciais da Pastoral da Terra, divulgados recentemente, mostram que em 2015, de um total de 49 assassinatos em conflitos no campo, 21 se deram em Rondônia. São necessárias medidas urgentes para frear a violência no campo no estado e mudanças estruturais que garantam os direitos dos povos do campo para produzir e viver de forma digna e segura.

Encontramos na Encíclica Laudato Si que trata da ecologia e do cuidado da casa comum as palavras do papa: A irmã terra clama contra o mal que lhe provocamos por causa do uso irresponsável e do abuso dos bens que Deus nela colocou. Crescemos a pensar que éramos seus proprietários e dominadores, autorizados a saqueá-la. A violência, que está no coração humano ferido pelo pecado, vislumbra-se nos sintomas de doença que notamos no solo, na água, no ar e nos seres vivos. Por isso, entre os pobres mais abandonados e maltratados, conta-se a nossa terra oprimida e devastada, que geme e sofre as dores do parto (Rm 8,22). Esquecemo-nos de que nós mesmos somos terra (Gn 2,7); (LS 2).

A Campanha da Fraternidade deste ano é Ecumênica e a abertura acontece na Quarta-Feira de Cinzas (10/02). Tem como tema: “Casa comum, nossa responsabilidade” e se inspira na Encíclica “Laudato Si”. O lema bíblico é extraído do profeta Amós: “Quero ver o direito brotar como fonte e correr a justiça qual riacho que não seca” (Am 5,24). O tema e o lema são um convite para que contribuamos na promoção da justiça e paz e no cuidado com a criação.

Os gemidos da irmã terra unem-se aos gemidos dos abandonados do mundo, com um lamento que reclama de nós outro rumo. Nunca maltratamos e ferimos a nossa casa comum como nos últimos dois séculos. Mas somos chamados a tornar-nos os instrumentos de Deus Pai para que o nosso planeta seja o que Ele sonhou ao criá-lo e corresponda ao seu projeto de paz, beleza e plenitude. O problema é que não dispomos ainda da cultura necessária para enfrentar esta crise e há necessidade de construir lideranças que tracem caminhos, procurando dar resposta às necessidades das gerações atuais, todos incluídos, sem prejudicar as gerações futuras (LS 53).

Dia 11 de fevereiro, dia de Nossa Senhora de Lourdes e festa da padroeira de Itapuã, vamos celebrar também a XXIV Jornada Mundial do Doente que esta inserida no âmbito do Jubileu Extraordinário da Misericórdia. Com o tema: “Confiar em Jesus misericordioso, como Maria: “Fazei o que Ele vos disser” (Jo 2,5)”, papa Francisco envia sua Mensagem para este dia destacando que “a doença, sobretudo se grave, põe sempre em crise a existência humana e suscita interrogativos que nos atingem em profundidade”.

Nestas situações, a fé em Deus se, por um lado, é posta à prova, por outro, revela toda a sua força positiva; e não porque faça desaparecer a doença, a tribulação ou os interrogativos que daí derivam, mas porque nos dá uma chave para podermos descobrir o sentido mais profundo daquilo que estamos vivendo; uma chave que nos ajuda a ver como a doença pode ser o caminho para chegar a uma proximidade mais estreita com Jesus, que caminha ao nosso lado, carregando a Cruz. E esta chave é-nos entregue pela Mãe, Maria, perita deste caminho.

O banquete das bodas de Caná é um ícone da Igreja: no centro, está Jesus misericordioso que realiza o sinal; em redor d’Ele, os discípulos, as primícias da nova comunidade; e, perto de Jesus e dos seus discípulos, está Maria, Mãe providente e orante. A intercessão de Maria faz-nos experimentar a consolação e a ternura de Deus.

O papa conclui sua mensagem pedindo a Jesus misericordioso, pela intercessão de Maria, que nos conceda a disponibilidade ao serviço dos necessitados e doentes e que cada hospital ou casa de cura seja sinal visível e lugar para promover a cultura do encontro e da paz, onde a experiência da doença e da tribulação, bem como a ajuda profissional e fraterna contribuam para superar qualquer barreira e divisão.

Que Maria pouse sobre nós o seu olhar misericordioso, especialmente nos momentos de sofrimento, e nos torne dignos de contemplar, hoje e para sempre, o Rosto da misericórdia que é seu Filho Jesus.

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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