Domingo, 30 de agosto de 2015 - 05h06
Frei BettoThomas Piketty, em seu clássico “O capital no século XXI”, já demonstra que a concentração da riqueza mundial em mãos de poucas famílias (84 pessoas físicas dispõem de renda equivalente à que possuem 3,5 bilhões de pessoas – metade da humanidade, segundo a Oxfam) se deve ao aumento da especulação financeira agravado por um injusto sistema de transmissão de heranças.
Agora, François Bourgnignon, em “A globalização da desigualdade”, reforça a tese de Piketty. O aumento da precarização do trabalho (terceirização, dessindicalização etc.) e a redução de salários, somados ao fato de a economia globocolonizada não obedecer a normas internacionalmente aceitas (haja paraísos fiscais, verdadeiras cavernas de Ali Babá!) fazem com que a diminuta elite apropriadora da riqueza supere toda a fantasia de Walt Disney ao criar a bilionária e avarenta figura do Tio Patinhas.
Bourguignon não é nenhum esquerdista. Foi economista-chefe do Banco Mundial entre 2003 e 2007. Pena que admita o que escreve no livro após deixar o banco. Enquanto no poder, o bolso falava mais alto...
Há vinte anos, demonstra ele, o padrão de vida em países como a França e a Alemanha era 20 vezes maior do que na China e na Índia. Hoje, apenas 10 vezes. O leitor dirá: “Que bom! Menos desigualdade!” Bom nada. O crescimento da China e da Índia segue os mesmos parâmetros da França e da Alemanha – o voraz e piramidal capitalismo. E isso resulta em 3 bilhões de pessoas sobrevivendo com menos de US$ 2,5 (= R$ 8) por dia!
Ao abordar medidas que foram celebradas como positivas na América Latina, como privatizações e redução de gastos sociais do governo (vide o ajuste fiscal no Brasil), o autor conclui: “Muitas dessas reformas quase certamente tiveram efeitos de desigualdades. De fato, entre 1980 e 1990, ocorreu um aumento substancial na desigualdade dos países mais afetados por esses programas: Argentina, México, Peru, Equador e até o Brasil.”
E as privatizações, tão exaltados pelo governo FHC e, então, criticada pelo PT, que agora faz o mesmo? Leia o que ele diz: “A transformação de monopólios públicos em privados, com regulação insuficiente, permitiu o surgimento de novos rentistas e, em alguns casos, a acumulação de imensas fortunas.”
Nos EUA, onde a suposta democracia política em nada combina com a total falta de democracia econômica, a queda real do salário mínimo entre 1980 e 1990, e a debilidade dos sindicatos, causaram aumento de 20 a 30% na desigualdade social. A fortuna dos 10% mais ricos cresceu de 64% para 71% entre 1970 e 2010.
Em suma: ou concentramos a luta política na redução da desigualdade social ou vamos todos para o brejo (fome, migrações, criminalidade, terrorismo, guerras), enquanto a diminuta elite que tudo comanda festeja na isolada ilha do privilégio e da ganância.
Frei Betto é escritor, autor de “Paraíso perdido – viagens ao mundo socialista” (Rocco), entre outros livros.
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