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Gente de Opinião

Henrique Nascimento

Qual diferença?



Tudo bem: posso estar indo contra a correnteza, até porque meu conhecimento de regras gramaticais é da espessura do meu dedo mínimo da mão direita. Mas, se fosse perguntado a você caro leitor - "Vamos fazer a diferença?": saberia responder? Não se sabe, eu hein! Qual diferença?

Essa frase pretende o quê?  Essa frase (expressão verbal de um pensamento) é ambígua. Não aponta para um sentido preciso. Falta-lhe um complemento.


Para que se torne "respondível"  (como diria aquele ex-famoso ex-ministro Magri do governo do ex-presidente Collor) tanto para o leitor como para este escriba, que tal substituir-se a preposição a e o  substantivo feminino diferença pelo adjetivo diferente? – "Vamos fazer diferente!" (Embora, em termos político-eleitoreiros,  tanto aqui  na província quanto lá no planalto dê no mesmo: o candidato  quer mesmo é o voto do eleitor desinformado, e haja decepção depois do eleitor afanado: seja no legislativo ou no executivo ).


De plano, sou o primeiro a reconhecer que posso estar enganado e não seria esta a primeira vez,  em  meter meu dedo mínimo, repito,  na taça de cristal da sabedoria dos estudiosos do nosso vernáculo, etc. Mas, no mínimo, falta clareza e conseqüência àquela  frase, e curiosamente a moda pega, o modismo "fazer a diferença" pegou.

Haja vista mais estes outros modismos, já  ultrapassados: "a nível de...",  "tipo...(para hora ou local, etc)", sem esquecer de mencionar o "gerundismo" (proveniente do telemarkting, etc): "vamos estar fazendo...", vamos estar ligando...", "vamos estar pedindo...", etc;  e, o assim chamado "queísmo" (repetição "ad nauseam" do vocábulo que): vamos fazer de conta que você entendeu o que aquele candidato que mau fala e que escreve pior, que ele faz mesmo a diferença, só que na prática,  não se sabe que diferença é essa que ele insiste tanto em dizer que é capaz de fazer.

Consulte-se o Aurélio, o Houaiss, o Michaelis ou o VejaLarousse: diferença, significa o quê? Encontra-se lá o exato significado desse  vocábulo. Tirante o aritmético, ("resultado da operação de subtração"), tem-se mais  estes: - "Caráter que distingue um ser de outro, uma coisa de outra. Qualidade do que é diverso; disparidade. Falta de semelhança; desigualdade."

Que  sentido o  leitor entende  ocultar esta frase: - "Vamos fazer a diferença."  De que descuidado ponto de vista:  político? ético? administrativo? honestidade? competência? responsabilidade? aritmético?  O que  está embutido em frase, volto a repetir,  tão ambígua?

Campanha recente, com o mote  - "O dia de fazer a diferença", teve dia (faltou dizer a hora) previamente marcado:  27 de agosto, próximo passado. Salvo melhor juízo, e bota juízo nisso, a frase contém a mesma ambigüidade  "Diferença" escrita e falada  a mancheias. Dá para acreditar, caro leitor?  Eu não. E ponto.

Teria mais e melhor sentido se fosse dito assim: vamos fazer a soma (ou, a somatória)  de esforços (ou, trabalhos) para atingirmos nossa meta (ou, objetivo) depois dessas eleições de 2006; o dia de fazer a diferença (ou, diferente) entre a eleição passada e a próxima , para eleger-se os melhores candidatos, será no dia primeiro de outubro de 2006, etc.

Acho (poderia dizer penso, mas quero dar uma chance para o "achismo", caro leitor) que essa tal "diferença" caiu no agrado dos usuários do "Vamos fazer a diferença". E ponto, novamente.

Essa "diferença", que permeia e perpassa o discurso de meio-mundo de comunicadores oficiosos e oficiais , e de políticos, parece que foi (mau)copiada  (ou chupada) de famoso autor de livros de auto-ajuda, e depois se alastrou.


Há uma outra frase, "fazer mais com menos",  menos utilizada, da autoria de outro famoso, que é conhecida dos estudiosos da medicina ortomolecular.


Ousadamente entrei na seara dos comunicadores, e dos políticos,  que pronunciam  a frase:  -  "Vamos fazer a diferença". Com  a palavra os estudiosos do nosso  idioma pátrio.

 

 

P.S.:  A senadora Heloisa Helena, candidata a presidenta do Brasil, e em quem eu vou votar, (espero que todo concidadão brasileiro faça o mesmo), excelente comunicadora, professora universitária, está cada vez melhor nas entrevistas à TV Globo. Aquele casal que apresenta o telejornal JN tomou ou levou (o que dá no mesmo)  um "banho" da senadora HH, com todo o respeito que ela merece. Mais "banho" tomaram ou levaram os apresentadores do telejornal  BD Brasil, da mesma emissora, hoje de manhã. Apesar de que lhe tenham faltado com o devido respeito, mas ela corajosa  que é, não se intimidou e respondeu à altura, com a competência e a  integridade de sempre. "Et vive la difference!" A deselegância maior  ou caturrice, ficou por conta do entrevistador, aquele metido a poliglota, que corrigiu a senadora Heloisa Helena na pronúncia do nome Goebbels - finado ministro da propaganda do também finado  Hitler.


 

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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