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Gente de Opinião

Esron Penha de Menezes

O PASSADO PRESENTE


Vários amigos comuns nos atentaram para lermos um artigo de ilustre historiador de nossa terra, Sr. Esron Penha de Menezes no seu texto intitulado "Companheiros da Gaurda Teritorial" datado de 04 de junho próximo passado, no Site gentedeopiniao.com, onde um dos agraciados com a referência era o Sr. Oswaldo Távora Buarque, nosso pai. Após várias leituras e reflexões, acatamos a oportunidade para elucidar fatos que o ilustre historiador aborda de uma forma evasiva, dentro de uma visão distorcida, e trazer a oportunidade de formatar uma idéia real da figura deste homem simples, porém culto,  para que os internautas leitores  do artigo em questão passem a conhecer. 
                                      
De formação disciplinada tanto doméstica como educacional escolar, falava fluente o idioma inglês, seu pai Manoel Buarque, era Desembargador no Estado do Pará, seu Estado natal. Interrompeu seus estudos de um curso de medicina, pelas conseqüências da segunda grande guerra, onde como todo jovem da época fora convocado a sentar praça, prestou o Curso Preparatório de Oficiais da Reserva (CPOR) sendo na oportunidade, encaminhado para o interior amazônico, aqui chegando aos 26 anos de idade sem parentes, nem conhecidos, para ajudar no desenvolvimento do então Território do Guaporé. Aos 28 anos já assumira o cargo em comissão de Sub-Comandante da Guarda Territorial por duas vezes.  Assumiu o Comando da briosa Guarda Territorial com muita honra por quatro vezes e com a mesma idade, 28 anos, foi nomeado Delegado  da Capital. Ao todo, foram 47 Portarias de Cargos exercidos no Governo.
                                       
Assim este homem começou sua trajetória dentro da Guarda Territorial, onde como é de conhecimento da história, tratava-se de experiência funcional. Foi um dos desbravadores anônimos deste Território.  Chegou a fazer juntamente com trabalhadores, outros anônimos, uma caminhada a pé de Ariquemes até Porto Velho, dando início da formação da nossa antiga BR 29, hoje BR 364. Quando encarregado  de preparar o trecho do Rio Muqui, oportunidade em que recebeu todos os trabalhadores que chegaram do Maranhão anotando seus dados pessoais, mantimentos, alimentação e alojamento que iriam utilizar, conforme arquivo pessoal.
                                      
Percorreu por várias oportunidades, o Rio Guaporé, o Machado, o Abunã, o Madeira, ajudou a criar a fazenda Pau D'óleo, ilha das Maravilhas, posterior km 35 na BR, para abrigo de menores, e isto naquela época. Recuperou a igrejinha da cachoeira de Santo Antônio. Em conseqüência destas andanças, pegou muita malária, e o uso do quinino, o fez perder parte da audição, mas não do dinamismo de batalhar por melhores dias desta terra que abraçou com tanto amor.
                                      
Dedicou-se as obras sociais, pela Maçonaria e por suas funções de funcionário público que exerceu como guarda territorial, Chefe de Polícia, Delegado, representante da imprensa na COAP (hoje SUNAB) nomeado pelo Presidente Getulio Vargas em julho de 1952, Secretário de Governo (hoje corresponde ao cargo de vice-governador) nomeado pelo Presidente João Goulart, entre outros.  Nenhum centavo de verba pública foi recebido indevidamente por ele.
                                      
Era muito feliz por tudo que realizava, e assim constituiu família. Como todo pai, era um herói para seus cinco filhos. Casou-se em Belém-PA com Doralice Barata Buarque que aqui chegou em 1947, uma pioneira. Tinha o apoio incondicional de sua esposa pois ela também participava de sua lida política e funcional.  Era a sua força monumental nas horas mais difíceis e incentivadora nas árduas caminhadas.
                                     
Nunca escolheu o partido errado para fazer parte.  A ideologia do coração do homem justo, o faz buscar coisas justas, e se não tem, se cria. Foi um homem amigo dos amigos, companheiro dos companheiros, justo e disciplinador quando era para exercer a forma da Lei. Seu lema era a honra e a honestidade.  O amigo historiador também lembra, naquele tempo não havia Urso Branco nem reféns em presídios. Dormia-se de portas e janelas abertas.  O homem respeitava o homem.

Teve grandes decepções, não porque escolheu caminho errado, mas porque o homem sem caráter é traidor, é chulo, e ele foi traído por muitas oportunidades.
                                      
Na Revolução de 1964, quando Governador em exercício, por decisão do Juiz de Direito Dr. Joel Quaresma de Moura, foi preso e encaminhado para sua querida guarda territorial, onde outros doze homens públicos foram juntos recolhidos, por força do AI 5, permanecendo por longos cinco meses confinados pelo crime de dirigir um Território e pertencer a um partido diferente dos revolucionários, que eram os mesmos que perderam a eleição anterior. Ficando nos corações o jargão – ganharam, mas não levaram. A história um dia contará – Cutubas x Peles Curtas.
                                      
Proibido de trabalhar, pelos governantes – taxado de corrupto e de subversivo! Viveu por longos dez anos à deriva da vida. Perdeu o direito da moradia funcional – casa no bairro da Cairi.  A família acolhida pelo irmão de Maçonaria, saudoso odontólogo Dr. Francisco Ferreira de Oliveira, fomos habitar á Rua José do Patrocínio. Recebeu a ajuda inconteste do compadre Moisés Mourão. E continuou a sonhar pela melhoria daquela terra tão amada, apoiando Renato Borralho de Medeiros. Os antigos lembram, o maior comício político da época, na Avenida Lauro Sodré, ao final, o povo em dispersão na rua, veio uma caçamba basculante e passou sobre a multidão, na intenção de matar Dr. Renato. O incrível é que o caminhão era da prefeitura e o motorista também funcionário da prefeitura, e na hora confessou que havia sido mandado realizar tal feito.  Realizou trabalhos em locais que foram desenvolvendo e se tornando vilas, municípios, através do amigo Flodoaldo Pontes Pinto e Mineração Massangana.
                                      
Viveu muitas alegrias particulares, assistia o progresso do então Território.
                                      
Recebeu em 1972 do Tribunal de Justiça do Distrito Federal, através da Ação Penal nº. 4. Sua absolvição por falta de provas documentais da acusação que haviam lhe imputado: corrupto e subversivo, processado apenas por declarações verbais.
                                       
No ano de 1976, uma grande alegria, um de seus filhos saiu vitorioso no vestibular para Medicina na Universidade do Amazonas. Havia na ocasião, a oportunidade a jovens universitários, recebem como auxílio, bolsa de estudos através da Secretaria de Educação do Estado.  Outra decepção, o então Secretário (recém chegado na terra), veta esta bolsa, como medida puramente retaliadora àquele idealista, seu pai. Os estudantes universitários que estudavam em Belém, todos recebiam, como também tinham direito de residir na casa do Estudante de Rondônia mantida pelo governo estadual. Igualmente, uma representação e casa do estudante em Manaus, acolhiam os que os pais não podiam pagar, dirigidos pelo nobre amigo Sr. Kida. Seu filho universitário não conseguiu esse benefício. Hoje reside em Manaus trabalhando como renomado Pediatra especializado em Neonatologia.
                                      
Quando a democracia parecia tornar a nova realidade, com a indicação para Presidente da República o Sr. Tancredo Neves, que homologaria a indicação pelo PMDB, ao Governo do então Território Federal de Rondônia, sendo o governador tampão, novamente uma rasteira..., Nem assim este homem destemido, humilde e simples, se deixou abater e se revoltou contra os partidários.  Continuou militando seus ideais em prol de uma sociedade mais digna, mais honesta, aonde o grande exemplo para seus amigos mais chegados de sua capacidade e dignidade, de dedicar sua vida ao seu humano do bem. Foi absolvido de todos os outros processos  administrativos que lhe haviam contra.
                                      
Hoje, seus 5 filhos, todos com formação superior, deram-lhes 14 netos igualmente comprometidos com a educação e o conhecimento. A continuidade da família BUARQUE.
                                                             
Deus sabe de toda sua trajetória, como sabe de todos nós.  Temos a certeza de que ele se encontra junto aos anônimos, justos que deram a vida pela grandeza do maior discurso que os seres humanos podem proferir na terra – o exemplo.  E assim seja. 

                                      
Porto Velho, 24 de julho de 2006.

Os filhos:

Maria de Nazaré Barata Buarque – Economista
Fernando Antonio Barata Buarque – Médico
Ana Maria Barata Buarque – Pedagoga
Heloisa Helena Buarque Baldissera – Analista de Laboratório
José Marcos Barata Buarque – Piloto Comercial.

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