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Política - Nacional

O misterioso e rentável comércio clandestino de cadáveres humanos


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Existem três tipos de ladrões de cemitérios. O primeiro e mais ordinário é o ladrão de sepulturas, que pula o muro do cemitério na calada da noite em busca de quaisquer coisas de valor que existam sobre os túmulos. Não inclui na primeira categoria assim como nas outras, o ladrão de guloseimas de sepulturas japonesas.

Na minha infância eu me escandalizava com a quantidade de guloseimas, tudo coisa fina, que os japoneses da cidade deixavam sobre os túmulos para as almas dos parentes que não comiam nada. Em compensação, os sujeitos da Vila Bosque, perto do cemitério, iam à noite e pegavam tudo. E deglutiam sem pudor.

O segundo tipo de ladrão de cemitério é o que viola a sepultura para limpar o finado recém-enterrado. Um tal de Jackson Abutre deixava o defunto nu. O cara levava tudo. Mas, antes da investida, comparecia ao velório para verificar se compensava o esforço. Se compensava, esperava dois dias, e aparecia na calada da noite, munido de seu equipamento de trabalho: pá e enxada, além de cordas e um saco de estopa para levar o botim surrupiado ao finado. 

Os dois tipos acima são café-pequeno perto do misterioso e mais bem-sucedido ladrão de cemitérios. O ladrão de cadáveres. Ele existe desde os tempos remotos. Ainda hoje um serviço mal feito denuncia a sua presença por aí. Dizem que Leonardo Da Vinci foi um deles. Furtou uns trinta cadáveres, que escondia nos porões dos castelos em que morava. Depois destrinchava o finado para observar as estranhas. Foi assim que se desenvolveu o estudo da anatomia.

O negócio de venda de cadáveres – as faculdades de medicina necessitavam deles e o negócio era envolto em muito sigilo, porque se os ladrões eram tipos abomináveis, quem comprava era tudo gente fina – é tão rendoso que uma multinacional chamada Panamá Railroad Company faturou grana preta vendendo cadáveres durante a abertura do canal do Panamá. Morreram milhares de homens de doenças do tipo da febre amarela, malária e cólera. Era muita gente. Estudos apontam tranquilamente para mais de 10 mil.

Em vez de desperdiçar a matéria-prima, a multinacional descobriu um bom negócio. Abasteceu as escolas de medicina do mundo inteiro. Foi um período em que houve grande demanda de cadáveres, porque a ciência médica vivia momento de expansão com a descoberta da anestesia. As cirurgias tornaram-se complexas. Era melhor treinar num cadáver que cometer erros num doente pego de cobaia. E foi assim que por cinco anos, a Panamá Railroad Company se transformou em grande fornecedora de cadáveres para o mundo todo.

Fonte: 


Edilson Pereira é jornalista desde 1975, trabalhou no Diário do Norte do Paraná, Agência Folhas, Folha de Londrina e O Estado do Paraná. Atualmente é colunista e repórter especial na Tribuna do Paraná, onde publicou os folhetins A Dama do Largo da Ordem, O Pavão Tatuado e Um estranho chamado Anjo, além de 18 episódios da série Crimes de Paixão. Ele publicou os livros Uma profissão tão antiga quanto a tua, A loira do táxi noturno, O homem do Hotel Cervantes, A garota da cidade, Ninguém mata por amor, A Dama do Largo da Ordem e mate meu marido por favor.

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