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José Carlos Sá

Minhas histórias na Banda do Vai Quem Quer


Minhas histórias na Banda do Vai Quem Quer - Gente de Opinião

1 – Batismo - Ao chegar aqui em abril de 1986, recebi dos colegas do Decom um curso intensivo sobre Porto Velho e Rondônia, com uma ‘aula’ especial sobre a “Banda do Vai Quem Quer”. Falavam muito da animação, da quantidade de pessoas, mas eu não conseguia imaginar a dimensão da coisa. Contaram o episódio com a Polícia Federal, que perseguia alguém e os brincantes não quiseram abrir caminho para a viatura. Os ‘de preto’ teriam dado rajadas de metralhadora para cima, espalhando gente para todo lado. O Silvio Santos imortalizou o fato em uma das marchinhas mais cantadas e lembradas da Banda: “Meu carnaval vai começar no sábado,/ na Banda do Vai Quem Quer/ Vou brincar descontraído/ eu vou/ de ‘metralha’ ou de mulher...”.

Pois bem, no ano seguinte eu estava lá, curioso para ver a tal banda. O fotógrafo Rosinaldo Machado me levou para a “concentração”, na casa da irmã dele no bairro Caiari. Muita cerveja, muita cachaça e um caldo, que não me lembro mais do que era. Depois segui para a praça das Caixas D’Água e fui encontrando conhecidos – jornalistas ou não – e saímos acompanhando a banda. Talvez eu tenha conseguido ir até a rua Joaquim Nabuco, se muito. Encontrei um taxi e fui para casa. Era muito para mim, que não sou chegado a carnaval. Chegando à casa em que morava, o proprietário tinha espalhado cascalho na calçada e com a chuva que caiu aquilo estava uma areia movediça vermelha. Pisei assim mesmo para alcançar o portão e perdi um par de mocassins, daquele estilo chinês, de tecido preto e sola de borracha avermelhada, que eu trouxera de Belo Horizonte. Mesmo lavando os pés, ainda levei uma bronca do senhorio...

2 – Maldição – Quando minha família chegou aqui, um ano depois, a levei para ver a Banda. Os meus filhos eram crianças ainda e escolhemos um lugar para ver o desfile. Mas não demorou muito e caiu um temporal daqueles conhecidos em Porto Velho. Com muita dificuldade encontrei um taxi para nos levar de volta para casa. Depois de todos acomodados, o motorista que devia ser (na verdade era) um evangélico fundamentalista, foi me xingando de “irresponsável, pecador, estava expondo às crianças a Satanás...” Nunca uma corrida do centro para o Marechal Rondon foi tão longa.

3 – O Chamado – O Chaveiro Gold, sede real da Bando do Vai Quem Quer,  funcionava na rua Carlos Gomes, em frente ao Bradesco, e eu passava na rua, quando ouvi o meu nome. Olhei em volta e vi o Manelão lá dentro sentado naquela mesa velha dele, cheia de papéis e objetos vários acenando. Me assustei, pois não sabia que o Manelão sabia meu nome. Chamou para convidar-me a participar da festa do lançamento da camisa do bloco. Foi a primeira e última vez que recebi o convite, pois trabalhando em assessoria e não fazia parte do “público-alvo” da festa. Até hoje não entendi a deferência.

É bom lembrar que o lançamento da camiseta e da marchinha do ano era cercado de mistério. Os convites eram distribuídos com antecedência nas redações, mas o local da festa ficava em segredo até perto da hora marcada, para evitar os penetras, o que nem sempre era possível.

4 – Revólver – Eu já trabalhava na Fiero e em um determinado ano, alguém deu a ideia de criarem o “Bloco do Migué”, que era inspirado no então presidente da Federação e quase candidato a deputado Miguel de Souza. O bloco acompanharia a Banda, aquilo que o Manelão chamava de “blocos piratas”, mas o do “Migué” estava autorizado. Concentramos na frente do Senai e seguimos pela Farquhar para a praça das Caixas D’Água. Tudo correndo nos conformes - em nosso bloco havia muitas crianças – até chegarmos à esquina da Carlos Gomes com Campos Sales. Não sei quem jogou uma lata de cerveja no caminhão de som que acompanhávamos e acertou alguém lá em cima. Um cara sacou o revólver e apontou na nossa direção, dizendo que ia matar etc. e tal... Não sei como terminou o assunto, na mesma hora peguei rumo de casa.

5 – Bulinado – Esta é mais recente. Estávamos o Hokney França e eu na rua Joaquim Nabuco, entre Carlos Gomes e Pedro II, esperando a passagem da Banda. Já tínhamos feito o “ixquenta” no bar do Bigode; queríamos ver os brincantes e depois ir embora. Alguma coisa aconteceu – caminhão de som quebrou (?) – e ficamos por ali esperando. De repente, não mais que de repente, uma mulher saiu do grupo em que estava e sem que nem porque, se aproximou de nós e patrolou o meu “Bráulio”. Falei com o Hok “’Bora que o negócio tá feio”.

Esta foi a minha última experiência com a Banda...

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