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Silvio Santos

Maria de Deus Alves Carneiro: A Deusa dos portadores de deficiência


Maria de Deus Alves Carneiro: A Deusa dos portadores de deficiência - Gente de Opinião

Quinta feira passada, dona Maria de Deus nos procurou na redação do Diário da Amazônia, solicitando que divulgássemos o convite do lançamento do livro com sua história, “Isto é Só o Começo” que vai acontecer no próximo dia 4 de março às 19 horas, na sede da Feder. Dei uma olhada no conteúdo do livro e vi que ali estava uma história muito bonita e então, resolvi não só divulgar o convite do seu lançamento, mas, saber um pouco da história da sua protagonista dona Maria de Deus Alves Carneiro uma cearense de Sobral que desembarcou em Porto Velho justamente no dia 4 de janeiro de 1993 e com o passar do tempo, se transformou na maior defensora dos portadores de deficiência física de Rondônia. Acontece que se procurarmos pela dona Maria de Deus poucos saberão informar quem é. Ela é conhecida mesmo como dona Deusa a Deusa dos deficientes de Rondônia. Olha que “Isto é Só o Começo”.


 

E N T R E V I S T A

Maria de Deus Alves Carneiro: A Deusa dos portadores de deficiência - Gente de Opinião

Zk - Vamos falar sobre o livro: Isto é só o começo?

Deusa – No dia 4 de março às 19 horas, na sede da Federação dos Portadores de Deficiência de Rondônia - FEDER estarei lançando o livro “Isto é só o Começo” no qual conto toda minha vida, desde 4 anos de idade até hoje. Comecei a me envolver com a área social a partir dos 14 anos. É um livro realmente sobre minha história.

Zk – A senhora veio do nordeste pra cá, quando?

Deusa – No dia 4 de janeiro de 1993 cheguei a Rondônia. Saí no dia 29 de dezembro de 1992 do Ceará, passei o ano novo todo na estrada dentro de um ônibus, chegamos em Goiânia perguntamos qual o ônibus que vinha pra cá e quando foi no feriado de 4 de janeiro desembarquei em Porto Velho.

Zk – Fale sobre algum fato da sua vida que consta do livro?

Deusa – O ponto alto é quando eu peço ao meu pai pra ser irmã de caridade! Eu queria ir pro convento quando tinha 14 anos e ele não aceitou, dizendo que não ia criar uma filha, educar, pra vestir um roupão daquele a vida toda, isso marcou a minha história de vida. Ele não deixou ir para o convento, porém, três dias depois, ele me chamou e perguntou: “Quer dizer que você vai continuar nessa vida mesmo, trabalhando com a comunidade?” respondi: vou! Daquele tempo em diante até hoje trabalho com comunidade. Levava filhos das mulheres para o hospital e ficava a noite lá tomando conta. Muitas vezes eles estavam desidratados e as mães não sabiam.

Zk – A senhora é presidente da Feder?

Deusa – Não! Sou a fundadora. Idealizei a Feder porque em Rondônia o deficiente era todo escravizado, tudo de cabeça baixa sem vez e sem voz, inclusive tenho livros contando isso. Eu e meu filho que é cadeirante passamos a trabalhar pra libertar esse povo. Hoje graças a Deus estou me retirando do estado, com a sensação do dever cumprido. Criei a Feder no dia 9 de outubro de 1999.

Zk – Quais as conquistas da Feder?

Deusa – Primeiro, eles tinham abandonado a escola, eles não tinham esperança, não confiavam no dia de amanhã. Quando começamos a verificar toda essa situação, começamos a trabalhar pra reverter, com isso enfrentamos uma série de dificuldades, inimigos, porque estávamos fazendo uma coisa que era contra tudo que eles acreditavam. Foi quando disse pro meu filho, vamos libertar esse povo. Contamos isso no livro. Não foi apenas uma frase solta não, foi um compromisso que firmamos naquele momento.

Zk – A senhora se preparou para enfrentar as dificuldades?

Maria de Deus Alves Carneiro: A Deusa dos portadores de deficiência - Gente de OpiniãoDeusa – Fui estudar o que era deficiência. Eu vinha do Ceará e naquela época tinha muita discriminação lá. Quem tinha deficiência, fazia tudo pra não aparecer e como sou deficiente também, tenho uma perna mais curta que a outra e mais fina. Eles não queriam me aceitar aqui como deficiente e no Ceará eu não era deficiente. Então fui estudar sobre o assunto, fui para Brasília, São Paulo, estive dentro da Unicamp estudando e quando voltei, voltei consciente, pronta pra trabalhar com pessoas deficientes.

Zk – Qual o objetivo da Feder?

Deusa – Ela foi criada para congregar todas as deficiências, naquela época era o físico para um lado, o visual quase a gente não via, o surdo não existia porque eles estavam tão invisíveis que não transparecia no grupo e o mental que hoje é chamado de intelectual também foi agregado, foi então que eu e meu filho fizemos uma pesquisa e resolvemos criar uma federação que agregasse todos no estado todo, o problema era esse, era trabalhar Porto Velho e os demais municípios ficavam de lado. A gente analisou se na capital já é desse jeito, eles não tem direito nem a vez e nem voz, estão fora da escola. Quem não estuda não tem perspectiva de um amanhã melhor. Imagina no interior. Andei todos os municípios, tanto que a Feder tem associado em todos eles. Meu filho Francisco Mário que é cadeirante me ajudou e me ajuda muito.

Zk – Quem custeou as despesas?

Deusa – Na época a denominação ainda era Asdefron então fizemos um convênio com a Ceron. Todas essas conquistas são contadas passo a passo no livro. Hoje a Feder atende deficientes de todo o estado. Sempre temos uma resposta positiva para as consultas. É sobre aposentadoria, beneficio da Loas, consulta médica, cadeira de roda, prótese, otes enfim tudo que diz respeito à categoria.

Zk – Vamos divulgar o endereço da Feder?

Deusa – A sede fica na rua Farquar, 3423 vizinha a Conab ela já nasceu ali há 16 anos.

Zk – Por que a senhora ta indo embora. Vai voltar pro Ceará?

Deusa – Não vou pra Fortaleza, porque não me acostumo lá, vou pra Natal no Rio Grande do Norte. Passei um mês na casa de um dos meus filhos e vi que lá não tem nenhuma acessibilidade, do mesmo jeito que éramos aqui há 16 anos acontece lá em Natal.

Zk – Por falar em acessibilidade Porto Velho melhorou?

Deusa – Melhorou não! Deu uma piorada porque a gente ficou calado e o governo perdeu a Lei que é de 2004, que dava dez anos pra eles fazerem o projeto e receberem o dinheiro a custo zero, para fazer a acessibilidade em Porto Velho e eles perderam.

Zk – Quantos filhos? Quais os cursos específicos a Feder proporciona aos associados?

Deusa – Tenho cinco filhos, 14 netos. São três filhos do primeiro casamento e do segundo casamento tenho dois. Quanto aos cursos, sempre conseguimos parcerias com o Senai, e Senac.

Zk – Agora a senhora está deixando o estado e quem vai ficar cuidando da Feder?

Deusa – A Federação é um grupo que trabalha, temos a presidente que é a Telma Araujo e eu faço toda a articulação da Feder dentro de todos os Conselhos essa é a parte mais difícil que estou deixando. Sou das Cooperativas, do Movimento Território Madeira Mamoré, sou do Conselho Estadual da Pessoa com Deficiência, Conselho da Assistência Social e do Idoso. Alguns já passei o cargo e outros estou entregando até o dia 12. Não está sendo fácil as despedidas. Lá em Guajará quarta feira passada, quando me despedi dos membros do Território Madeira Mamoré disse: É preciso fechar os olhos se não, não consigo deixar esse trabalho!

Zk – Voltando ao livro Isto é Só o Começo?

Deusa – O livro será lançado no próximo dia 4 de março lá na sede da Feder às 19 horas. O valor do livro é R$ 20, porém o mais importante é as pessoas conhecerem a história.

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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