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Montezuma Cruz

Eles e elas movem os hospitais (1)


 Eles e elas movem os hospitais (1)  - Gente de Opinião
Elisângela: tudo passa por ela /Fotos Daiane Mendonça

 

Montezuma Cruz
Em Porto Velho (*)

 

Anônimos para o público, lá dentro eles são conhecidíssimos. Uns, mobiliaram o Hospital de Base Doutor Ary Pinheiro, outros já reconhecidos como servidores-padrões, são dignos de homenagem pela assiduidade, capacidade e persistência.

Madrugam. Alguns se levantam às 4h30, pegam ônibus e chegam cedo ao HB, no Bairro Industrial.

Os turnos começam às 7h e se encerram às 19h, com intervalos para o almoço e lanche da tarde.

Quase todos os antigos servidores se lembram do jeito camarada e ao mesmo tempo austero do ex-governador Jorge Teixeira de Oliveira, Teixeirão, que mandou construir o HB.


Nas oficinas de costura e na lavanderia industrial um destacamento de mulheres manuseia diariamente batas, calças, camisas, capotes, lençóis, fronhas, jalecos, macacões e outras peças usadas no HB, no Instituto Médico-Legal (IML), nos hospitais Cosme e Damião e João Paulo II.

Lavadeiras cuidam da assepsia de toda a roupa e demais tecidos usados por enfermeiros, auxiliares, chefes de setor e pacientes. Todas moram longe e para chegar ao trabalho, andam de ônibus.

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Sílvia Lima, costureira
 

“DIAGNÓSTICO É TUDO”

Às 9h de terça-feira, 18 de outubro, o corredor está lotado e a fila anda na porta da sala do Núcleo de Diagnósticos, onde há sete anos Elisângela Brasil, 42, três filhos e dois netos, encaminha pacientes.

Ela começou no HB aos 20 anos, em 1994, e ali espera se aposentar.

A cada mês mais de mil pessoas fazem eletrocardiograma e 4,5 mil, ultrassom nesse núcleo que funciona 24 horas ininterruptamente, de segunda a segunda-feira, com escala de sobreaviso. Biópsias também são numerosas.

“A escala de sobreaviso permite, por exemplo, que um paciente do JP II com alta hemorragia seja imediatamente transferido para o HB, obtendo vagas junto outros pacientes da regulação”, explica Elisângela.

Três equipes, uma delas noturna, atendem o HB e a todas as unidades de saúde, para exames diversos. Os mais requisitados: broncoscopia, colonoscopia, eletrocardiograma, ecocardiograma transtorácico adulto e infantil, ecocardiograma transesofágico, endoscopia digestiva baixa, escleroterapia e ultrassonografia morfológica geral.

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Ieda de Souza: 30 eletrocardiogramas por dia

Em medicina, o diagnóstico é a parte da consulta médica,ou do atendimento médico, voltada à identificação de uma eventual doença.

“Já vou tirar pra ti, meu amor” – avisa Ieda Queiroz de Souza, 62, manuseando peras e braçadeiras no paciente, na sala apertada do eletrocardiograma.

Amazonense do distrito de Santa Catarina (Humaitá), ela foi criada no Bairro do Triângulo, ela trabalha desde os anos 1980 nesse núcleo.

É outra que também está disposta a se aposentar nesse núcleo, onde trabalha em pé o tempo todo. “Sabe, antes eu fazia 60 exames por dia, ia pra casa,botava os pés no sal e no vinagre, de tanto cansaço; hoje dou conta de uns 30, em média”, relata.

“CURATIVOS NA ROUPA”

Uma visita à oficina de costura revela mais histórias de amor ao trabalho. Oito costureiras trabalham em dias alternados na equipe chefiada por Zuleide Mascarenhas.

No início dos anos 1980, Sílvia Lima, 61 anos, sete filhos e atualmente com 17 netos, perambulou pela Esplanada das Secretarias no Bairro Pedrinhas.

Conta que chorou ao constatar no protocolo que a nomeação para o primeiro emprego na saúde fora postergada em benefício de outra pessoa.

Não desistiu, e corrigido o erro, foi admitida no setor de recursos humanos como secretária do serviço social do Hospital João Paulo II, em 1987.

“Vocês estão vendo isso, aqui a gente faz curativo nas roupas”, brinca, mostrando uma camisa remendada.

Desde o período no JP II ela tinha vontade de costurar e realizou o sonho ao ser convidada pelo diretor do HB, Nilson Paniágua para integrar a oficina.

Moradora no Bairro Areal da Floresta (zona sul de Porto Velho), Sílvia lembra-se de uma visita de Teixeirão ao bairro, quando ela morava perto de um antigo matadouro. “Ele perguntou o que a gente precisava, mandou fazer a cerca no matadouro, construiu escola, posto policial, casas e centro comunitário”.

“Eu sei que tem muitas pessoas nem sabem que nós existimos”, comenta Anália Duran, 65, 11 filhos, 20 netos, nascida em Guajará-Mirim.

Começou a trabalhar na costura em 1987. Mora na Rua Fernando de Noronha, Bairro Eletronorte e ri ao lembrar que o público em geral desconhece a realidade hospitalar: “Ah! tu trabalha no HB, é enfermeira? E eu respondo: não, sou costureira”.

(*) Originalmente publicada no portal do Governo de Rondônia.

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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