Sexta-feira, 29 de março de 2024 | Porto Velho (RO)

×
Gente de Opinião

Paulo Queiroz

Defesa da Amazônia e opção pelos pobres marcam reunião das CEBs em Porto Velho


 

1 – O 12º INTERECLESIAL

A Amazônia tem a infelicidade de, não raro, só merecer a atenção das mídias e, portanto, de só chegar ao conhecimento público, em notícias que apelam muito mais para o emocional do que para o racional. Parte-se, quando não de uma leitura apressada de fatos ou - mais desastroso - de pressupostos, sempre associados aos aspectos que se destacam pelo exotismo, pelo folclórico e pelo pitoresco. Trata-se de atitude que se tende a adotar quando se é confrontado com cenários nos quais o desconhecido prevalece sobre o conhecido, a obscuridade sobre a clareza, o superficial sobre o fundamental, o que significa trocar deliberadamente a realidade pela farsa, quando não pela fantasia aparentemente inocente, mas frequentemente construída para servir a interesses poderosos e escusos.

Grosso modo, foi essa a queixa do arcebispo Dom Moacir Grechi, da Arquidiocese de Porto Velho, ao abrir a coletiva com a imprensa de Porto Velho, nesta sexta-feira (17), para anunciar a iminência e a eminência do 12º Encontro de Representantes das Comunidades Eclesiais de Base – ou 12º Intereclesial das CEBs -, que acontecerá na semana que se inicia (de 21 a 25), reunindo na capital cerca de 3 mil participantes (2 mil 946 confirmados até então) e, entre delegados e voluntários locais, vai envolver algo em torno de 7 mil pessoas em atividades várias. Não por acaso a temática do encontro tem como tema “Ecologia e Missão” e como lema “Do Ventre da Terra, o Grito que Vem da Amazônia”.

“No restante do país, é impressionante o desconhecimento da realidade desta região. Alguns acreditam que aqui temos onças pelas ruas e outros só enxergam as riquezas que podem ser exploradas, como os minérios e a madeira. A realização deste evento servirá também para mostrar que temos um povo trabalhador e cidades com as mesmas condições de outras partes do país”, comentou Dom Moacir, ladeado pelo coordenador do secretariado do 12º Intereclesial, padre Luiz Ceppi, e por Magda Melo, da coordenação central do evento. Defesa da Amazônia e opção pelos pobres marcam reunião das CEBs em Porto Velho  - Gente de Opinião


2 – UMAS E OUTRAS


Infelizmente, como o sabem as pessoas de bom sendo daqui e d’alhures, estão longe de ser desarrazoadas as queixas do arcebispo porto-velhense. A Amazônia, ao contrário do que a gente entorpecida pelas mídias interesseiras imagina, tem a oferecer uma densa história de uma enorme e bela civilização construída a ferro e fogo, cuja identidade pode ser fundamental para o país e para o mundo neste terceiro milênio.

Num relato ligeiro, pode-se dizer que a primeira parte dessa história começa no século 16, com os colonizadores iniciando a agressão contra a região e seu povo. Os séculos 17, 18 e 19 foram marcados pelos ataques da pirataria internacional aos minérios, madeiras e essências florestais da região, ao mesmo tempo em que registravam 300 anos de genocídio contra os índios e caboclos.

A segunda parte é a dos ciclos da borracha, na virada do século 20. Experimentou-se alguma prosperidade (como sempre circunscrita ao andar de cima) por conta do capital internacional, mas também se absorveu - e até se as levou a extremos desconhecidos - as mazelas do colonialismo que perduram até hoje.

Nos últimos 50 anos, sem comiseração, enfrentou-se a terceira e atual parte da história da Amazônia, com a desvantagem de lutar contra um inimigo mais próximo e dissimulado, que utiliza os símbolos da identidade nacional enquanto exclui e estigmatiza a natividade. A ameaça não vem só do capital internacional interessado na mais rica biodiversidade do planeta. Procede também dos brasileiros que assumem a responsabilidade de zelar pelo bem-estar de todos, mas tratam os amazônidas como carregadores de malas dos ''buanas'' da tecnoburocracia oficial.

Os predadores da Amazônia falam em nome de um país que perdeu a noção de sua dimensão e diversidade e agem como os piratas e genocidas de antão. Presidentes, ministros, senadores e deputados, chefes disso e daquilo, bem como setores da imprensa, trabalham uma perversa fantasia danosa à região, difundindo a falsa idéia referida por Dom Moacir. Defesa da Amazônia e opção pelos pobres marcam reunião das CEBs em Porto Velho  - Gente de Opinião


3 – DEFESA DA TERRA


Nos 4 milhões de km2 da Amazônia estima-se que vivam hoje 21 milhões de brasileiros que, apesar da riqueza e da grandiosidade da região, constituem uma população com enormes parcelas de pobreza e miséria, submetidas aos saques de toda ordem, aí incluídos os decorrentes da implantação de megaprojetos desconectados da realidade. A região, no entanto, como bem o demonstram iniciativas como este 12º Intereclesial, persiste na tentativa de criar um mundo novo, forjado nas suas raízes históricas, culturais e étnicas, oferecendo alternativas ao país.

Como já se falou, não por acaso este 12º Intereclesial da CEBs vai trabalhar a ecologia enquanto missão esperando proclamar o grito que vem da Amazônia, tomada como o ventre da terra. Nesse sentido, não se sentirá lesado quem se debruçar sobre o texto-base do encontro, tomando-o para reflexões do momento - “Do Ventre da Terra, o Grito que Vem da Amazônia”, organizado pelo padre Valdecir Luiz Cordeiro.

Estruturado segundo peculiar metodologia, o texto remete a: Ver - a realidade gritante do desmatamento, da grilagem de terra, da invasão estrangeira, da ameaça aos povos nativos da floresta. Julgar - os acontecimentos alarmantes a partir da ótica de teólogos como Leonardo Boff, Marcelo Barros e Faustino Teixeira. E agir – segundo modelos e experiências de missão libertadora.

De tudo isso diz melhor, porém, a oração concebida por Dom Pedro Casaldáliga especialmente para este 12º Intereclesial, a partir da qual os peregrinos se concebem “... em missão profética, ecumênica e transformadora. Na opção pelos pobres, e na defesa da terra, da água, da vida”, se fazem cientes de que “do ventre da terra, profanada pelo latifúndio depredador, nos chega o clamor dos povos indígenas e do povo sem-terra. Dos nossos campos e das nossas cidades nos chega o clamor por justiça, partilha e paz”, para firmemente proclamarem que “com tantas testemunhas de vida e de martírio, seguiremos a caminhada, como Igreja de Jesus, nas lutas e na esperança do reino”. Então mãos à obra. É ver, julgar e agir. 

Fonte: Paulo Queiroz / www.gentedeopiniao.com.br  / www.opiniaotv.com.br 
[email protected] 

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

Gente de OpiniãoSexta-feira, 29 de março de 2024 | Porto Velho (RO)

VOCÊ PODE GOSTAR

Dado como morto, Manelão é reanimado, mas na UTI ainda não reage ao coma

Dado como morto, Manelão é reanimado, mas na UTI ainda não reage ao coma

  Sem reagir desde o primeiro ataque, segue em coma, após sofres três paradas cardíacas, o “General da Banda”, empresário Manoel Mendonca, o “Manelão”

Raupp: minuta da Transposição é a mesma de dezembro

Raupp: minuta da Transposição é a mesma de dezembro

De Natal (RN), por telefone, o senador Valdir Raupp (PMDB) disse, ao tomar conhecimento de que a nova minuta do Decreto da Transposição atende a todos

Senador Jorge Viana ministrará aula na Faculdade Católica

Senador Jorge Viana ministrará aula na Faculdade Católica

Serão nesta sexta-feira (25), a partir das 19h, e no sábado (26), das 8h às 12h, no auditório do Centro Arquidiocesano de Pastoral (Av. Carlos Gomes),

Gente de Opinião Sexta-feira, 29 de março de 2024 | Porto Velho (RO)