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Paulo Saldanha

Conflitos amorosos e as antigas convenções sociais - Por Paulo Saldanha


 
Até parece que o poema “Quadrilha”, de Carlos Drummond de Andrade tem sua origem numa história acontecida e inspirada nestas terras do poente.

É que Rodrigo amava Maria das Graças, que era apaixonada por Nicolas Anacreonte, descendente de gregos, família que enricou por aqui, embora o começo nesta região tenha sido de muito sacrifício e luta, ante a aspereza que significava a afirmação comercial/empresarial naquele tempo dos anos 20/30.

Mas Rodrigo era admirado e amado por Lucimar Mendes, filha de um pequeno seringalista nordestino. Uma menina morena, cabelos lisos, olhos negros como a noite. Linda mesmo!

O certo é que o dinheiro, que transforma aviltando comportamentos e mudando conceitos, torna erráticas ações que seriam apropriadas se a soberba não tomasse conta de raciocínios ilógicos, logo incoerentes.

Maria das Graças até que sucumbiu a declaração de Rodrigo, mas depois, porque ele não foi a uma festa no clube da cidade, ela, revoltada, dançou a noite toda com Nicolas, sinalizando que aderiu ao assédio do ricaço e afastava-se, assim, do rapaz que a idolatrava.

Foi em vão a tentativa de retomada do afeto (porque inexistente) de Maria das Graças por Rodrigo, menino de ouro, com inúmeras virtudes intelectuais e morais, cabendo o destaque de que ela foi se envolvendo com Nicolas e abrindo a guarda cedeu tanto, que engravidou.

A família dele (Nicolas), não concordando com qualquer proposta de casamento, ante a verdade crua de que a garota prenha não possuía grandes valores monetários, nem patrimônio, jamais cedeu ao enlace, que, àquelas alturas seria a salvação da honra feminina e familiar. E mandou o mancebo irresponsável para Atenas.

Fuga sem adeus, tornando desesperada a vida da mocinha! Na época, seria uma desonra, muito embora se tratasse de pessoa detentora de beleza invulgar e de virtudes e mais virtudes, traduzidas ainda pela quantidade de pendores/talentos que a garota possuía, além de uma simpatia irradiante, dançava com maestria.

Ocorreu que Rodrigo, desprezado, já tinha iniciado um namorico com Lucimar Mendes e nem tentou, mediante o estado de gravidez da sua amada, reencetar o antigo namoro.

Tempos depois Nicolas retornou casado com Regina la Guardia, filha de uma grega com um espanhol, casamento arranjado, sem amor, o grande insumo para a felicidade de um casal. Mas a família dela tinha posses e ninguém podia duvidar da harmonia que adviria dessas núpcias desenxabida (termo antigo). Eu sempre tive a certeza que união assim descambaria no nada... Não deu outra!

Nesse ínterim, quando o mundo parecia ter acabado para Maria das Graças, ela findou casando com um solteirão inveterado que assumiria o filho dela. E assim foi consumado.

Também uma união sem amor, sem afeto, sem glamour!

Um dia, bem depois, sem afeto como reciprocidade, foi celebrado o casamento de Rodrigo com Lucimar, novo encontro sem sentimento efetivo, junção sem liga, emoção, sem química.

E todos eles não foram felizes! Rodrigo acabou separando de Lucimar. Maria Graças faleceu com o coração seco e Nicolas vive ao lado de Regina, um casamento frustrado, estéril, árido, posto que nem filhos tiveram...

E, assim, já não caminha mais a humanidade... tantos os desencontros, tanto os desamores... tanto o nível de presunçosos que irradiam soberba em todos os quadrantes dos nosso pequeno mundo.

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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