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Gente de Opinião

Agnaldo Ferreira

COMO NÃO CONQUISTAR A FELICIDADE


 
Agnaldo Ferreira dos Santos 

Para muitos, viver uma vida feliz é respirar contentamento. Quanto mais, melhor! Homem bem sucedido na vida seria o que alcança esse contentamento. E quanto mais distante esteja dessa meta, menos feliz. 

O candidato a homem feliz fica, então, tentando adivinhar quais são as qualidades requeridas para atingir o que tanto deseja. Evidentemente, pensa: são aquelas pelas quais se vence na vida. Pois o “certo” — o homem perfeito da era moderna — é aquele que vence na vida. O que não faz essa escolha é o “fracassado”, o “errado”. 

Há quatro tipos de “vencedores” que estariam de acordo com esse figurino: o homem que sabe, o homem que pode, o homem que faz, o homem que tem. Tudo dependendo das inclinações, das capacidades, das preferências, das circunstancias concretas da vida de cada um. 

O homem que sabe: o professor, o letrado, o cientista, o pesquisador, o filósofo, etc. 

O homem que pode: o político, o líder, etc. 

O homem que faz»: o empresário, o construtor, o organizador, etc. 

O homem que tem: o rico, o milionário, o banqueiro. 

Eis aí quatro pistas para a conquista da vitória. 

Embalado por um desses quatro mitos, o candidato a homem feliz, na idade das ilusões, se lança na luta pela vida. 

Ele vai conquistar a felicidade? 

Ninguém se iluda! 

O homem que tem 

Talvez se possa dizer que o mito do homem que tem é hoje em dia o mais possante. Pois muitos imaginam que tendo bastante dinheiro, estaria aberta a possibilidade de transitar por todas as estradas satisfatórias da vida. 

Assim sendo, fazem da posse da pecúnia sua grande preocupação. O dinheiro passa a ser o tema que mais lhes agrada, que mais os atrai, que mais os interessa; colocam toda felicidade na esperança de que nunca ficarão pobres e, pelo contrário, tornar-se-ão cada vez mais ricos. Portanto, cada vez mais felizes. 

A esse propósito vale a pena lembrar, entre muitos outros, o caso de Cristina Onassis, filha do homem possivelmente mais rico do mundo em sua época. Cristina, segundo um jornalista do Le Monde, “poder-se-ia dizer que “nasceu com uma colher de ouro na boca”. Basta dizer que suas bonecas eram vestidas pelo famoso estilista Christian Dior... 

O pai vivia à espreita dos caprichos que iam nascer em sua cabeça, de maneira que antes mesmo de ela dizer papai, quero tal coisa, já o tinha obtido com perfeição. 

Eis o sonho dourado de multidões! Milhões e milhões aspiram ardorosamente a situação que Cristina Onassis teve já ao nascer. 

Outro jornalista escreveu: “(...) uma vida por demais cheia. Infelicidades demais, por demais casamentos, por demais divórcios, por demais quilos, por demais caprichos rapidamente satisfeitos, para, no final das contas, chegar a uma solidão por demais extrema(...)”. 

Ela tomava drogas e, se tentava fugir para o sonho, era porque tudo o que tinha não lhe bastava. E assim, tomou a overdose fatal, aos 37 anos. 

Conclui o jornalista: “Um pai, mesmo onipotente, mesmo arquimilionário, pode comprar tudo e impedir tudo, exceto a felicidade, exceto o infortúnio”. 

Na realidade, a preocupação financeira tem de ser colateral, sob pena de se amar mais o que se deveria amar menos, e se amar menos o que se deveria amar mais. 

O resultado é o infortúnio. O homem que tem não é feliz automaticamente, apenas por ter. 

O homem que sabe 

Ao lado do homem que tem, coloca-se o homem que sabe. Sem duvida, saber é mais elevado do que ter. Mas apenas saber satisfaz? Por exemplo, Pico della Mirandola (1463-1494), um verdadeiro Onassis da erudição na era da Renascença. Dele se dizia espirituosamente que conhecia todas as coisas cognoscíveis, et quibusdam alias (e algumas mais). Seria, só por causa disso, feliz? Certamente que não. 

O homem que faz 

Há também o homem que faz. É, como se diz nos Estados Unidos, o workaholic, ou seja, viciado em trabalho. Ele procura compensar as misérias da vida pela auto-realização na ação, transformando em uma fonte de prazer intemperante até mesmo coisas penosas como muitas vezes é a labuta; o que o fascina é o trabalho-agitação, o trabalho-realização, o trabalho-embriaguez, independentemente de seu resultado. Não parece que, em princípio, seja um homem feliz.

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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