Segunda-feira, 18 de dezembro de 2017 - 06h33
247 - A usina nuclear Angra 3 tem canteiros de obras cada vez mais vazios, uma progressão de contratos abandonados antes da conclusão, dívidas com fornecedores superiores ao que se tinha conhecimento até agora e “diversas trincas” em equipamentos fabricados para o empreendimento. Para tratar dessas falhas, foi criada uma força-tarefa para inspecionar o material importado. Mas até mesmo a iniciativa de ampliar a fiscalização corre risco de ser abandonada em razão das dificuldades financeiras e de pessoal para tocar Angra 3.
O diagnóstico inédito da usina, uma obra à deriva e paralisada desde outubro de 2015, está registrado em relatórios mensais de acompanhamento do empreendimento, de janeiro a outubro de 2017, obtidos pelo GLOBO por meio da Lei de Acesso à Informação. Os documentos são elaborados pela Diretoria Técnica da Eletronuclear, estatal responsável pela usina, um projeto investigado na Operação Lava-Jato. Os relatórios são considerados pela empresa como de acesso restrito, “por questões estratégicas e comerciais”, mas não sigilosos.
Com a interrupção das obras há mais de dois anos, as atividades em Angra 3 se resumem à conservação do que já foi edificado e à preservação de equipamentos. Os relatórios internos apontam gastos de R$ 6,5 bilhões no projeto — o Tribunal de Contas da União (TCU) vê gastos de R$ 8 bilhões até o momento. O orçamento total da usina, que tem execução de 50,6% de equipamentos e materiais, 14,7% de montagem eletromecânica e 11,2% de construção civil, é de R$ 20,3 bilhões. Se encontrar parceiros internacionais para aportar dinheiro na usina, Angra 3 começaria a gerar energia somente em 2024, 54 anos depois do ato de outorga de 13 de julho de 1970 e 40 anos após o início das obras.
As informações são de reportagem de Ramona Ordoñez em O Globo.
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