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Gente de Opinião

Osmar Silva

A ponte do Rio Jamari



Vi com satisfação o anúncio da construção de uma segunda pista na ponte sobre o Rio Jamari que liga a BR-364, em Ariquemes, aos municípios da BR-421. Rodovia que, agora, chega até Nova Mamoré e alcança Guajará Mirim às margens do Rio Mamoré, na fronteira do Brasil com a Bolívia.  

A primeira vez que o governador Confúcio Moura falou sobre a possibilidade de construir a nova ponte foi num programa de rádio institucional que apresentei durante algum tempo, distribuído às emissoras de rádio do estado, levando a mensagem governamental.

Era o começo do 1º mandato. Toda semana gravávamos um programa. Numa destas ocasiões, lembrei-me desta ponte de uma pista só, estreita, sem passagem de pedestre, antiga e que, há mais de 30 anos, sem nenhuma manutenção, vem escoando as riquezas dos municípios de Alto Paraíso, Montenegro e Campo Novo.

- Governador, não está na hora daquela ponte ganhar a sua atenção? O senhor não toparia construir uma nova ponte para o povo da BR-421? Perguntei. E ele de pronto:

- Tá na hora sim, e eu topo sim! Acho que dou conta sim.

- Posso anunciar? O senhor fala? Perguntei antes da gravação do programa.

- Pode anunciar. Respondeu com firmeza.

Ele falou e prometeu fazer a obra. Agora o Departamento de Estrada e Rodagem anuncia a construção de uma pista nova na ponte construída pelo governador Jorge Teixeira de Oliveira. A obra já está licitada.E o povo do Vale do Jamari agradece.

Mas sua construção não foi tão fácil como parece. Tanto que gerou consequências no mundo político da época, se refletindo diretamente no Colégio Eleitoral da eleição indireta para presidente da República que consagrou Tancredo Neves e enterrou a ditadura.  

Tudo começou quando um dia Teixeirão chegou em Ariquemes e o deputado federal, Francisco Sales, o convidou para ver um acidente na balsa que fazia a travessia do Rio Jamari.

Mas uma vez o cabo de sustentação se rompera e a balsa ameaçava descer à deriva rio abaixo, cheia de gente, e com um caminhão já pendurado prestes a cair n’água.

Nas margens, pequena multidão acompanhava, com aflição, o trabalho de balseiros e voluntários tentando estabilizar a embarcação. Teixeirão chegou, subiu na carroceria de um caminhão, olhou a cena e disparou:

- Vocês acabaram de ganhar uma ponte. As palmas espocaram nas mãos calosas daquela gente simples do campo.

Aí ele pediu ao Sales que apresentasse emenda parlamentar com recurso para construir a ponte. Do resto ele cuidaria. O deputado, buscando mais um mandato, assim fez.

Mas havia uma dificuldade no caminho. Chamava-se Colégio Eleitoral que tinha a incumbência de eleger, indiretamente, o sucessor do presidente Figueiredo, que era o deputado Paulo Maluf, alinhado aos militares e à revolução de 64.

Com quem estava o deputado Sales? Com Tancredo Neves, o outro lado da moeda. Teixeirão o chamou e condicionou: a ponte só sai se você votar no Maluf.

Sales, que tinha base eleitoral em Ariquemes, sabia o quanto aquela ponte era importante para o povo do Alto Paraíso e de Boa Vista, que estavam nascendo, e do Campo Novo, distrito de Porto Velho onde havia grandes empresas de exploração de cassiterita.

Ele mesmo, quando prefeito, certa noite atravessou o Rio Jamari a nado, para chamar o balseiro que não ouvia gritos dos doentes e grávidas precisando de socorro do outro lado.

Topou a parada e aceitou a proposta do Teixeirão.

Saiu na Revista Veja como o deputado que trocou o voto no Colégio Eleitoral por uma ponte. Era tudo o que seus adversários queriam. A ponte saiu e libertou o povo da BR-421. Mas o deputado não se reelegeu.

OsmarSilva – jornalista – [email protected]   

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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