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João Paulo Viana

A crise política e a aceleração do tempo histórico



Há alguns anos, o saudoso cientista político Antonio Carlos Peixoto me contou um fato ocorrido com ele, que me fez relembrar e refletir esses dias, diante da rapidez com que os acontecimentos políticos estão se desenrolando nesta grave crise que assola o país. Na ocasião, o professor Peixoto lembrava que no ano de 2002, poucas horas após um golpe de estado que retirou Chávez do poder, ele recebia o convite do programa Globo News Painel, apresentado pelo jornalista William Waack (o programa era gravado), para comentar a conjuntura política na Venezuela.

AC Peixoto então embarcou na ponte aérea do Rio para São Paulo. Chegando lá, ao lado de outros dois convidados, Peixoto expôs seus argumentos, enfatizando, sobretudo, que Chávez havia caído porque não conseguiu traduzir em realidade suas promessas de campanha. Após o término da entrevista o professor Peixoto retornou ao Rio e, ao chegar a sua residência, ligou a TV e viu que Chávez havia retornado ao poder, 47 horas após o golpe. O professor então telefonou para o apresentador William Waack, pedindo para que o programa não fosse ao ar, o que foi imediatamente recusado por Waack. O argumento de Peixoto era o de que a conjuntura teria mudado completamente e, pelo fato de ser gravado, não haveria razão para o programa ser exibido. De fato, o programa foi ao ar e não agradou muito o professor e, possivelmente, nem aos outros convidados, além dos muitos telespectadores que assistiram cientes de que a realidade já era completamente distinta.

Quase 15 anos depois, a atual crise política brasileira desafia a capacidade dos mais astutos analistas políticos. Não há como prever questões simples, a crise se desenvolve praticamente em tempo real. Para ilustrar um pouco o argumento, no mês de novembro passado, em um seminário sobre o tema na Universidade Federal de Rondônia, pouco antes de iniciar sua exposição, o cientista político Wagner Pralon pedia para acessar os portais de notícias, pois qualquer acontecimento novo poderia interferir em sua análise. Para os que gostam de emoção, as coisas estão apenas começando. É a política no século XXI...

João Paulo S. L. Viana é professor de Ciência Política do DCS/UNIR

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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