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O ENFERMEIRO MARTINS


 

Por Humberto Pinho da Silva
 

Conta a “Arte de Furtar” que em certo lugar havia médico que tratava a ferida de um espinho, a que chamava apostema.

Como precisasse de ausentar-se, disse ao filho que continua-se a cura.

Para se mostrar mais destro, este, vendo o espinho, arrancou-o. O doente sarou imediatamente.

Regressou o pai. Virou-se para o jovem e disse: “ Não vias tu selvagem, que, enquanto se queixava das dores, continuavam as visitas e se acrescentavam as pagas. Secaste o leite à cabra que ordenhávamos.”

Ao ler esta história lembrei-me do Sr. Martins.

O Sr. Martins era enfermeiro do antigo Hospital da Misericórdia de Gaia. Tão entendido era que os invejosos chamavam-no de doutor Martins.

Certa ocasião uma mulher andava muito aflita, porque há meses tratava a dor aguda que tinha no calcanhar, sem resultados positivos.

Numa das visitas, como não houvesse médico disponível, lembraram-se de a levar ao enfermeiro Martins, para fazer o curativo.

Tirou-lhe a ligadura e examinou a ferida.

Pareceu-lhe ver, lá no fundo da chaga, ponto negro. Pegou na pinça esterilizada. Puxou. Saiu-lhe porção de vara de guarda-chuva!

Andara descalça. Sentiu forte dor no pé. Mais tarde teve dores e foi ao hospital.

O caso deu brado e o prestígio do enfermeiro cresceu paralelamente com a inveja.

Noutra ocasião andavam os clínicos atrapalhados. Costureira de profissão, espetara agulha no peito.

Examinanda a radiografia, ia-se lancetar, mas a agulha desaparecia misteriosamente…

Então o Sr. Martins teve ideia genial: Foi com a mulher e mais o médico, ao radiologista. No consultório deste, imediatamente após examinarem a “chapa” – jaz – abriu-se no local exacto.

A agulha arrastada pelo sangue e pelos movimentos, mudava de lugar.

Para finalizar um caso que o comoveu:

Apareceu no posto de enfermagem, homem acompanhado por padre redentorista.

Verificou que tinha os joelhos em estado lastimoso, a escorrer sangue.

O que aconteceu?! O frade ouvira dizer que numa guerra cruel, já tinham morrido milhares de pessoas.

O religioso ao escutar a tragedia, foi para a cela, espalhou milho no chão e ajoelhou-se, para rezar o terço.

O sangue escorria-lhe pelas pernas, mas o monge continuava a rezar…

Mais tarde o Sr. Martins dizia a quem o queria ouvir: - “ Não sou crente nem descrente, mas ao ver o pobre homem, as lágrimas correram-me pela face. Ainda há gente boa! Sua fé fez-me pensar…”

Era assim o Sr. Martins, enfermeiro na antiga Misericórdia de Gaia.

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