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Montezuma Cruz

Escola usa jiu-jitsu para melhorar alunos em Porto Velho


 Escola usa jiu-jitsu para melhorar alunos em Porto Velho - Gente de Opinião
Professor Oliveira, com a turma da tarde: primeira graduação será em agosto /Foto: Esio Mendes

Montezuma Cruz
Em Porto Velho

Perfilados no tatame, alunos da turma da tarde ouvem instruções do professor de educação física da Secretaria Estadual de Educação (Seduc), José Oliveira. Diante deles, o quadro com a fotografia de Jigoro Kano, fundador da arte marcial judô e responsável pela reforma do jiu-jitsu [arte suave], em 1882, no Japão.

Às 14h começa mais uma aula da turma do programa “Sou mais que vencedor”, do 1º Batalhão Comunitário da Polícia Militar, na Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Jesus Burlamaqui Hosannah, no Bairro Areal da Floresta, zona sul de Porto Velho.

Com 1,2 mil alunos em três turnos, a escola congrega a faixa etária de 7 [2º ano] a 40 anos acima [adultos].

Paranaense de Maringá, Oliveira chegou a Rondônia em 1981 e está perto de alcançar o quinto dan, o grau superior do judô, arte milenar japonesa [budô] que utiliza como principais técnicas golpes de alavancas, torções e pressões para derrubar e dominar o oponente.

Alunos com oito anos de idade têm chance de conquistar a faixa preta, se ali permanecerem por mais nove anos.

O judô e o futsal ministrados três vezes por semana pelo Programa Educacional de Resistência às Drogas (Proerd), aplicado pelo 1º BCPM com o apoio direto da Vara de Execução de Penas Alternativas respondem à perspectiva de afastar para fora do muro da escola a violência que campeia nas ruas.  Entre outras, a Justiça custeou despesas de uniforme e pintura do ambiente de treinamento.

Não apenas isso, a atividade promovida três vezes por semana para 80 alunos divididos em duas turmas contribui para o melhor desempenho escolar.

DIÁLOGO

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Marilete Ramos, diretora
Foto Daiane Mendonça

O programa completará um ano no início de agosto e nesse mês Oliveira espera fazer o exame de graduação de faixa.

No primeiro semestre deste ano, a diretora Marilete Ramos e o vice, Sérgio Silva dos Santos, eliminaram a chance das drogas entrarem no estabelecimento. “Naquele período tivemos apenas um caso de droga: um aluno e um rapaz que não estuda aqui portavam maconha e pularam o muro. Chamamos os pais, dialogamos com eles, e nunca mais a situação se repetiu”, conta Marilete.

Maranhense de Turiaçu, cuja família migrou para Rondônia nos anos 1980, Marilete ousa: “Não podemos desistir, temos que vencer pelo psicológico: eles ouvem a pronúncia do nome e se sentem importantes; a turma da tarde tinha comportamento difícil, mas apaziguou”.

Além da aplicação das metas do Proerd, a direção iniciou um levantamento da situação dos alunos. A escola tem uma faixa de alunos com hiperatividade, que são levados para consultas com médicos neurologistas em unidades de pronto atendimento de saúde. “Nossa peleja agora é para conseguir a vigilância para a escola”, acrescenta Marilete.

Falar da escola é motivo de honra para a diretora. Ela é ex-aluna dali, lecionou em Vista Alegre e Fortaleza do Abunã, e retornou à sua escola nos períodos de estágio pelo Instituto de Educação Carmela Dutra e Universidade Federal de Rondônia.  No ano passado foi eleita para a gestão democrática.

MELHORANDO

Escola usa jiu-jitsu para melhorar alunos em Porto Velho - Gente de Opinião
Vice-diretor Sérgio Santos
/Foto Daiane Mendonça


O treinamento intensivo usa apostila com diversos conteúdos obedecendo aos critérios da Confederação Brasileira de Jiu-jitsu. Com a nota mínima seis, o aluno sai da faixa branca para a cinza, mas alguns evoluem bem, alcançando a faixa azul.

O professor Oliveira enfatiza a prática corporal “que traz valores éticos e morais aos seres humanos”.  “O lutador de jiu-jitsu, ele diz, não precisa ter uma grande força física, embora seja admitida com bom uso. É a luta para um oponente mais fraco vencer o mais forte”, ele explica.

Apresentando as revelações dos judocas mirins, indaga-lhes em voz alta: “Quem tira a vaga de vocês?”. Em coro, eles respondem: “Nós!” – aludindo-se às exigências comportamentais.

Aos poucos Oliveira pretende consolidar o uso do esporte e tudo o que ele traz de bom para o aluno do ponto de vista do aprendizado, disciplina e concentração.

Suspensões levam à perda de vagas. O aluno cumpre um período de ausência e pode voltar depois de 15 dias. Enquanto isso, muitas mães procuram a direção da escola, em busca de matrículas no jiu-jitsu e no futsal.

As maiores turmas são do período da manhã. No geral, elas e os do período da tarde já participaram de campeonatos. Nicole Martins, 11 anos, 5ª série D, integrante do grupo campeão na Copa Estadual de julho, no Shopping Porto Velho, é chamada para a foto com outros bem sucedidos. Ela e Jhennifer Lima, 10, se dizem melhores nas aulas e em casa.

Carlos Eduardo Schockness, 9, conta que suas notas melhoraram. “Eu era muito conversador, agora me concentrando mais”, diz.

Rafael Figueiredo, 12, 6º ano, estuda na Escola Estadual de Ensino Médio e Fundamental Eduardo Lima e Silva [Bairro Nova Floresta] e faz parte da turma da tarde do jiu-jitsu. O projeto atende à escola, à comunidade e a filhos de policiais militares.

Oliveira confirma: o boletim de notas é a credencial para garantir a oportunidade de ingresso do aluno nas atividades esportivas e de lutas marciais.

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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