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Francisco Matias

PORTO VELHO E O 4 DE JULHO, 108 ANOS DEPOIS- PARTE I


PORTO VELHO E O 4 DE JULHO, 108 ANOS DEPOIS- PARTE I - Gente de Opinião

1910 – Vista da povoação denominada Porto Velho of the Madeira River, cujo
marco inicial foi lançado no dia 4 de julho de 1907, em homenagem ao Independence Day


1.Porto Velho é realmente um município cheio de complexidades em seu contexto histórico, social, econômico e político. Suas datas comemorativas são ainda de mais incompreensíveis por parte da maioria da população, notadamente os jovens estudantes. Senão vejamos: No dia 02 de outubro de 2014 o município completou o primeiro século de criação. Pouco ou quase nada foi feito para marcar essa data. Afinal, foram cem anos que se passaram para que Porto Velho chegasse à importante condição socioeconômica e política na megarregião Norte, e no Brasil. No dia 24 de janeiro de 2015 o município completou seu primeiro século de instalação política marcada pela posse do primeiro prefeito (superintendente), o major do exército Fernando Guapindaia de Souza Brejense.

2.No entanto, o que se viu, ouviu e leu na imprensa é que “a cidade de Porto Velho completa cem anos”. Na realidade os cem anos são do município, seja na criação, seja na instalação. De todo modo, o município comemora essas duas efemérides com feriado municipal. O primeiro no dia 02 de outubro e o segundo no dia 24 de janeiro. Mas aí está o bojo de toda essa complexidade. Na cidade de Porto Velho uma praça simboliza, ou, pelo menos deveria simbolizar, a criação do município. É a antiga Praça Amazonas, denominada Praça Jônathas Pedroza, em referência ao governador do estado do Amazonas que sancionou a lei nº 757, de 02 de outubro de 1914, que dispôs sobre a criação do município. A praça está situada no centro antigo da cidade, entre a rua Barão do Rio Branco e a avenida 7 setembro.

3.Mas falta alguma coisa. É uma verdade histórica que o governador Jônathas de Freitas Pedrosa sancionou a citada lei. Mas o que a história não registra, dentre outros fatos importantes, é o nome do autor da lei, o deputado estadual Pedro de Alcântara Barcellar, do Partido Republicano do Amazonas, PRA, com domicílio no município de Humaitá e, por conseguinte, na pequena povoação denominada ora Porto Velho of the Madeira River, ora Porto Velho do Rio Madeira, ora Porto Velho de Santo Antonio, ou, apenas Porto Velho.

4.Pois é. O Dr. Pedro de AlcântaraBarcellar, enquanto deputado estadual, apresentou projeto de lei criando o município de Porto Velho e, quando governador do Amazonas, enviou à Assembleia Legislativa  mensagem dispondo sobre a elevação da povoação de Porto Velho à categoria de cidade, fato ocorrido por meio da lei nº 1.011, de 7 de setembro de 1919.

5.Porto Velho é o único município brasileiro criado sem ter uma cidade como sede e, pior ainda, sem ter o nome do seu criador devidamente registrado na história. Pior do que isso é o que foi feito com o surgimento da povoação denominada pelo consórcio May & Jeckill como Porto Velho of the Madeira River, cuja pedra fundamental foi lançada solenemente no dia 4 de julho de 1907. Não se cria município sem núcleos de povoamento na forma de distritos e vilas. Não é o caso de Porto Velho que nunca foi distrito e, portanto, seu principal núcleo de povoamento jamais foi vila, apenas povoação. Uma simples povoação. O major Guapindaia registrou isso em ata no dia de sua posse há cem anos. Mas este é apenas mais um problema que, passados cem anos, já deveriam estar solucionados. Mas, por ação de um patrulheiro ideológico/partidário, os cem anos do surgimento da povoação ferroviária de Porto Velho, e o lançamento da pedra fundamental da ferrovia Madeira Mamoré, eventos ocorridos no dia 04 de julho de 1907, foram relegados a um plano tão secundário que essa importante data corre o risco de ser jogada no buraco do esquecimento histórico.

6.Nem o governo do Estado, nem a prefeitura de Porto Velho chamam asi a responsabilidade de corrigir este engano da nossa história. E assim, por questões ideológicas e partidárias, aliadas à falta de interesse do poder público, a coisa vai ficando do jeito que o patrulhamento partidário-ideológico gosta. Enquanto isso, talvez somente os portovelhenses que viverem os próximos cem anos, poderão conhecer de fato a importância do dia 4 de julho de 1907, o simbolismo patriótico norte-americano, o americanismo da Madeira-Mamoré, da povoação chamada Porto Velho of the Madeira River, do jornal The Porto Velho Times, do bairro The Barbado’s Town.

7. Quem sabe poderão conhecer Mr.Baar Hill, fiscal da Madeira-Mamoré, chefe do ferroviário João Pedro da Rocha, conhecido por João Barril. Ou seria João Baar Hill? É só pesquisar. Falta o poder público agir.
 

Historiador e analista político*

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