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Há um completo abismo e desarticulação entre estrutura e conjuntura em nosso País


 Há um completo abismo e desarticulação entre estrutura e conjuntura em nosso País - Gente de Opinião

Edilson Lôbo
Prof. Universidade Federal de Rondônia (UNIR)

Existe uma farta bibliografia que nos dá pistas, abre lume, para uma melhor leitura da nossa realidade. Sempre num primeiro contato com meus alunos, costumo orientá-los na medida do possível, no sentido de estabelecerem uma ruptura com o senso comum e, à partir de um esforço pessoal, tentar, através de alguns instrumentos pedagógicos, adquirir o aporte necessário de informações, conhecimentos, múltiplas leituras, variados olhares e intenso diálogo com atores dos mais diversos espectros da nossa sociedade, no sentido de filtrar com maior capacidade de análise e reflexão, tudo que lhes chegam ao seus domínios do conhecimento.

Como dizem os que se debruçam nessa tarefa, não é uma empreitada das mais fáceis, pelo contrário, é um objeto de extrema complexidade. Tem a ver com uma série de variáveis, tanto de ordem objetivas, quanto no âmbito da subjetividade. Exige esforço, dedicação e muito empenho.

Qual o  lugar que cada indivíduo ocupa no mundo? Qual o papel que nos cabe, no contexto de uma construção histórica? A que interesses as nossas ações e atitudes se aliam? Que aspectos estruturais e conjunturais estão determinando ou numa perspectiva futura determinarão a realidade concreta da nossa sociedade em todas as suas dimensões? Qual o pensamento que domina e impulsiona as aspirações, os desejos,  os ideais em torno dos quais gravitam um dado projeto de sociedade que queremos alcançar? A quais grandes interesses servem os poderes da ordem vigente?

São alguns relevantes e significativos questionamentos, dado o seu alcance e profundidade, que caberia ao cidadão ou cidadã mais esclarecido/a e, comprometidos com a realidade que os cerca, buscar conhecer, analisar, compreender e na medida das suas capacidades, ajudar a transformá-la.

Faço essas reflexões, levando em conta o momento presente. Nos preocupa o simplismo como estão sendo tratados determinados temas e questões que há séculos marcaram nossa história, e por uma questão conjuntural extremamente adversa, complicada, profundamente desagregadora, quer se encontrar a maneira mais fácil de resolvê-las, apelando-se para os sentimentos que afloram na população, de forma  mais intensa como a intolerância, o revanche, o ódio e a vingança.

Como discursou no parlamento o Senador Cristóvam Buarque, (farei minha as suas palavras), a população tem todo o Direito de estar revoltada, e acumular esses sentimentos de intolerância e até de vingança por tudo o que lhes tem afetado no cotidiano, principalmente essa onda de violência juvenil, mas ao parlamentar não lhe é dado  direito de se comportar dessa mesma forma. A responsabilidade do parlamentar dentre tantas outras, é zelar pela educação do jovem, da justiça e do equilíbrio das suas ações no sentido de garantir o funcionamento das instituições dentro da ordem democrática.

A conjuntura presente, é a resultante da desatenção com os aspectos estruturais acumulados  no tempo histórico.

A ausência nas reformas agrária, urbana, infraestrutura econômica, educação e ensino, política, tributária, fiscal, etc, prometidas e nunca cumpridas a dezenas de anos, aliado aos aspectos sócio culturais, deixou-nos de herança respectivamente, uma brutal concentração e reconcentração de propriedades no campo, trazendo como consequência, um imenso contingente de pessoas sem ocupação na zona rural, com os seus reflexos sociais.  Uma tensão principalmente nas grandes metrópoles por falta de habitação, desequilíbrios regionais e intra regionais com uma nítida divisão entre determinados espaços geográficos mais ricos em relação a outros mais pobres. Temos uma legião de analfabetos funcionais, um déficit educacional deplorável, uma imensa lacuna na produção de ciência e tecnologia que nos distancia cada vez mais dos países avançados. A estrutura política brasileira é um caso de polícia. Os partidos, na forma com hoje atuam, já não respondem, nem são capazes de cumprir as suas funções mais elementares. São siglas de aluguéis, agrupamentos fisiologistas e operadores dos grandes interesses que não o da população. A irresponsabilidade tributária, fiscal e de outras políticas de caráter macroeconômicos, pelo menos nos últimos 40 anos, levou-nos a determinados desequilíbrios em nossa economia, sendo a mais grave, a dívida pública brasileira que consome hoje, quase 50% do orçamento público federal, comprometendo sobremaneira, setores vitais como saúde, educação, segurança, habitação, cultura e lazer.

Toda essa desestruturação, conforma o caldo quente da conjuntura atual. Não há diálogo possível entre essas dimensões, pela falta de compromisso dos poderes constituídos em querer resolver esses graves problemas, atacando as suas causas, o que está na raiz, mas tão somente dourando a pílula da conveniência política, do menos razoável, do que não implica um remédio amargo, posto que este, requer mais empenho, mais desgastes, mais trabalho e mais ações que confrontam interesses que desgastam a figura pública que só pensa em estar bem com o eleitorado. O que mais importa é a eleição futura e os ganhos provenientes disso, e não as resoluções mais definitivas com as questões que nos condiciona ao atraso, ao subdesenvolvimento e a inexorável posição de um país periférico.

Felizmente, o país é grande e com um imenso potencial natural e humano muito, maior que a crise que está instalada, em suas diversas dimensões. Por mais dura, por mais grave e intensa que ela seja, nunca sobreporá a  capacidade do povo brasileiro que sempre esteve comprometido com as  causas mais nobres desse país e, por mais indignado, decepcionado e frustrado que se encontre, certamente saberá com discernimento,  e sem espírito de ódio, preconceito ou revanchismo, encontrar o equilíbrio necessário para essa travessia que se prenuncia árdua e extremamente penosa. Reproduzindo a frase do revolucionário “Che”, temos que ser duro, sem perdermos a ternura jamais. Nenhuma flexibilidade aos que causaram e ainda causam os graves danos a esse Pais, mas sempre na perspectiva de uma ordem democrática.

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