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Francisco Matias

21 DE ABRIL – TIRADENTES, O HOMEM E O MITO- III


                        

           FRANCISCO MATIAS ESCREVE

21 DE ABRIL – TIRADENTES, O HOMEM E O MITO- III  - Gente de Opinião

 21 DE ABRIL – TIRADENTES,
O HOMEM E O MITO- III

                                         

1.A terceira e última parte dos artigos sobre Tiradentes foi escrita em maio/2015, portanto, distanciada do 21 de abril. No Brasil, os fatos históricos costumam aguardar o ano seguinte para serem relembrados com a mesmice de sempre. Tiradentes é – salvo engano – a figura histórica mais festejada tanto pelo segmento da esquerda quanto pela direita. Mas não há explicações sobre os motivos que levaram à eclosão do movimento chamado Inconfidência Mineira. Qual teria sido a verdadeira trama política que levou um militar luso-brasileiro, no final do século XVIII, a assumir a liderança desse movimento? Como o seu trágico fim o consagrou como o mártir da nacionalidade se sua pretensão era fundar uma república separatista?

2.A Inconfidência Mineira, gestada em Vila Rica, alcançou o Rio de Janeiro e São Paulo, envolveu militares de alta patente, mineradores e parte da burguesia que se considerava prejudicada pelo aumento dos impostos e pela forma como eram cobrados. Mas será que havia outros grupos que apoiaram o movimento? E a Maçonaria? Qual o seu papel no episódio? Tiradentes era maçom secreto assim como a maioria dos inconfidentes, inclusive o delator-mor Joaquim Silvério dos Reis. Sendo maçons, por que o abandonaram e traíram a causa em busca de benesses e de salvar a própria pele? Tiradentes foi o único dos inconfidentes condenados à morte que não recebeu a Piedade Real por parte da rainha D. Maria I, a Piedosa, ou a Louca. Os demais sentenciados tiveram suas penas comutadas em degredo na África. Tiradentes teria sido convencido pela Maçonaria a assumir todas as responsabilidades em troca de proteção à sua família.

3.Esquartejado e degolado, sua cabeça foi exposta na praça de Vila Rica, para servir de exemplo. Mas, misteriosamente, foi retirada e levada a um lugar secreto. Até hoje não se sabe seu paradeiro. Coisa da Maçonaria? Será que o prisioneiro morto, esquartejado e degolado era mesmo Tiradentes? Estes e outros questionamentos deveriam ser solucionados pelos grandes pesquisadores da História do Brasil, sem o ranço ideológico que hoje em dia está incrustado nas pesquisas sobre a história política brasileira. A morte de Tiradentes e os eventos políticos que ensejaram a Inconfidência Mineira tem tudo a ver com os desdobramentos da Revolução Francesa, das ações da Maçonaria, do terror que se instalou na Corte de Lisboa e na perseguição que a Igreja católica fazia aos maçons.

4.Mas foi com o advento da República e por influência do general Benjamin Constant, “O Pai da República”, positivista e maçom, que se deu o primeiro feriado do dia 21 de abril. Faziam cinco meses da proclamação da República e 98 anos de sua morte. O governo ordenou que fosse feito um quadro de Tiradentes, mas o rosto deveria ter traços messiânicos, que lembrasse seu sofrimento e morte, mas também a esperança de ressurreição, com base no rosto de Jesus Cristo. Por isso a barba e os cabelos longos e o manto sobre os ombros. Por isso a procissão percorreu uma espécie de via crucis, ao partir da cadeia onde ele ficou preso, no Rio de Janeiro, passou pela praça onde foi enforcado e terminou no prédio do Itamaraty, onde funcionava a sede do poder executivo. Tiradentes foi beatificado pela República que se iniciava no Brasil. Era o heroi perfeito e necessário. Militar, corajoso, jovem, ideológico, insatisfeito e com grande capacidade de comando e liderança. Um perfil perfeito para o novo país que surgia naquele final de século, início de uma nova Era. A Era Republicana. Tiradentes era republicano. Seu projeto era fundar uma república. Nada mais natural que a república utilizasse seu perfil para dar esperanças ao povo.

Historiador e analista político(*)

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