Terça-feira, 21 de abril de 2015 - 13h07
Montezuma Cruz
Já ouviram falar do enfermeiro José Gabriel? Tive a honra de conhecê-lo este mês, ao visitar o Centro de Reabilitação de Rondônia (Cero), no bairro Mariana, zona leste de Porto Velho. Ali trabalham psicólogos, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, fonoaudiólogos, assistentes sociais, enfermeiros, motoristas e psicopedagogos, todos exercendo importante papel na readaptação de pessoas à vida normal.
Soube que os próximos beneficiados serão os deficientes auditivos e visuais, aos quais o Cero destinou salas amplas, higiênicas e cheias de aparelhos modernos para cada exame ou atividade desses pacientes.
Olhei carinhosamente para esse local, cuja placa inaugural diz:Dê a quem você ama: asas para voar, raízes para voltar e motivo para ficar. Entre outros pacientes vindos de longas distâncias, lá estava um casal de Candeias do Jamari ocupado em levar para essa unidade duas filhas – uma recém-nascida, outra com quatro anos de idade. A primeira nasceu prematura, aos sete meses; a segunda, com insuficiência de oxigênio no cérebro.
Deparei-me num longo corredor, movimentando-se numa cadeira de rodas o enfermeiro paraibano [de Campina Grande] José Gabriel Macedo Florindo, diabético. Ele chegou a Porto Velho em 1982, tem 35 anos de serviço e já presidiu o Conselho Estadual de Saúde. De 1988 a 1991 esteve no Hospital Sarah Kubitschek [em Brasília], onde conviveu com diretores que aplicavam experiências de sucesso na enfermagem europeia.
Antigamente, os hospitais tinham muitos enfermeiros. Hoje, a predominância é de enfermeiras. José Gabriel é, assim, uma espécie de "bendito, o fruto" entre esse exército de abnegadas discípulas da enfermeira britânica Florence Nightingale.
Seu olhar revela paciência, sabedoria e perseverança: “Procuro seguir as boas lições dos diferentes papéis do enfermeiro, privilegiando habilidades pessoais e profissionais e valores necessários à socialização”, disse-me. “Ele é nosso professor e conselheiro”, afirma Yargo Campos, diretor do Cero.
José Gabriel é exemplo. Nos anos 1960, outro enfermeiro José Gabriel, baiano, seringueiro, atendia a todos com alta distinção e com amor, nos quartos do Hospital São José, na capital de Rondônia. Seu nome completo: José Gabriel da Costa, o conhecido Mestre Gabriel do Centro Espírita Beneficente União do Vegetal.
Esse novo centro de saúde rondoniense vem demonstrar que o ser humano, por mais machucado que seja – física e mentalmente – tem chance de recuperação. Ali está José Gabriel, conversando e orientando diariamente estagiários acadêmicos recém-chegados. São parceiros das Faculdades São Lucas e Fimca – Uniron é a próxima – que auxiliam no atendimento a pacientes de terapia ocupacional ou com disfagia (dificuldade em deglutir ou sensação de comida presa na garganta ou no esôfago) às quintas-feiras.
A direção do Cero reconhece na essência de bom enfermeiro, da mesma forma como valoriza outros profissionais tão essenciais quanto ele – motoristas. “São eles que cumprem horários da van, anotam endereço completo e condições da pessoa que vem ao Cero. Sabem se ela está bem, quais as suas maiores necessidades, e isso facilitar o trabalho de terapeutas ocupacionais”, assinala Yargo.
Motoristas e enfermeiros se conhecem, se falam, estabelecem objetivos. Assim, o Cero funciona e demonstra na prática que a vida segue, apesar das adversidades – do trânsito, dos lares, dos garimpos, das florestas, das roças, das zonas de conflito.
Salve, José Gabriel, enfermeiro, professor, conselheiro.
Que outrosGabriéis possam enriquecer a saúde pública, doando-se em sabedoria e amor ao próximo.
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