Terça-feira, 2 de setembro de 2014 - 19h12
Frei Betto
Nas eleições deste ano, avalia o teu município, o teu estado, a tua nação. O que necessita nosso povo? O que macula nossos direitos de cidadania? Quais as causas do desemprego, da fome, da miséria, da violência e das drogas? Por que quase metade das crianças que chegam à quarta série é analfabeta? Por que o peso dos impostos, a falta de moradia e saneamento, de saúde e educação? Quem elege os políticos corruptos?
Seja o teu voto, não a expressão de tuas ambições individuais, de tua amizade com o candidato, de tua simpatia, e sim da compaixão aos mais pobres, de tua fome de justiça, de teu senso cívico, de teu respeito pelos direitos humanos, de teu projeto de Brasil soberano, independente, livre de discriminações e injustiças.
Nas eleições deste ano, não cometas o erro de dar teu voto a quem defendeu a ditadura, meteu a mão no dinheiro público e jamais beneficiou os que labutam arduamente pela sobrevivência. Nem aos pusilânimes, aos arrivistas, aos alpinistas sociais, aos que têm a cara limpa e a ficha suja, e aos que multiplicam seu patrimônio familiar à custa do poder público. Vota com sabedoria e coragem, e empenha-te pela vitória de teus candidatos.
Nas eleições deste ano, indaga como e em quem votarão as pessoas que admiras. Pergunta a ti mesmo quem são os candidatos preferidos por aqueles que julgas exemplo de ética, de transparência cívica, de dedicação aos interesses da coletividade, de exercício do poder como serviço preferencial aos excluídos.
A depender de teu voto, pode ser que, na data da próxima eleição, o Brasil esteja ainda mais endividado, aviltado, conflitado e colonizado. Mas pode ser que se alargue o espaço democrático, robusteça-se a cidadania, ampliem-se a participação popular e o controle da sociedade sobre o poder público.
Nas eleições deste ano, se for nulo o teu voto, nula serão também as tuas queixas e estarás condenado à amargura cívica. À margem do processo político, teu protesto inócuo haverá de favorecer aqueles que merecem ser banidos da vida política. À tua omissão eleitoral agradecerão os que se locupletam com recursos públicos e promovem tráfico de influências, nepotismo e maracutaias. Como dizia Platão, quem tem nojo de política é governado por quem não tem. E tudo que os maus políticos querem é que tenhamos bastante nojo, para ficarem a sós se chafurdando na corrupção às nossas custas.
Contudo, se votares nas reformas que o Brasil tanto necessita, como a agrária, a política, e a melhoria da saúde, da educação, do transporte coletivo, da segurança, e na conquista do desenvolvimento sustentável, com plena soberania nacional, não serão os eleitos que te agradecerão, e sim teus filhos e as gerações vindouras, pois estarás votando por elas e nelas.
Frei Betto é escritor, autor de “A mosca azul – reflexão sobre o poder” (Rocco), entre outros livros.
http://www.freibetto.org/> twitter:@freibetto.
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