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Montezuma Cruz

Guaporé, as origens


 Guaporé, as origens - Gente de Opinião

MONTEZUMA CRUZ
Em Porto Velho

 

Chicão Santos comenta, no blog do poeta e escritor José Valdir Pereira que muito antes do resgate de 1978 já se fazia teatro em Porto Velho. Nos anos 1940, a manauara Labibe Bártolo apresentava algumas peças, no antigo Clube internacional, mais tarde Ferroviário. Companhias de teatro do sudeste brasileiro aqui se apresentavam, no Cine Teatro Resk. A cidade conheceu Tônia Carreiro, entre outros valorosos nomes nacionais.

na internet algumas manifestações de desagrado, a maior parte delas pecando pela desinformação. Isso ocorre por causa da homenagem prestada ao povo rondoniense. A homenagem se justifica, porque coloca no mesmo pedestal nativos e gente vinda de outros estados. Graças ao maior movimento migratório do País e imigratório amazônico, aqui fizeram morada famílias com origens sulistas, sudestinas, nordestinas, europeias, mediterrâneas, americanas centrais, americanas do norte, e orientais.

Guaporé, as origens - Gente de Opinião

Trinta e cinco anos atrás, a Capital engalanou-se com o funcionamento de atividades artísticas no Centro de Criatividade Uirassu Rodrigues, antigo Colégio Brasil. Em 1980, nas vésperas da Universidade Federal e do surgimento do novo Estado, artistas locais movimentavam-se para criar a Federação Estadual de Teatro Amador, reunindo com ousadia grupos de Ariquemes, Cacoal, Colorado do Oeste, Jaru, Ji-Paraná, Ouro Preto, Pimenta Bueno, Porto Velho e Vilhena.

Quem viveu aquele privilegiado momento sabe avaliar a importância do segundo semestre de 1980, quando a Secretaria Municipal de Educação e Cultura promoveu uma oficina de teatro de bonecos em Porto Velho. Se folhearem as páginas já amareladas dos jornais O Guaporé e O Estadão de Rondônia, encontrarão algumas matérias deste e de outros escribas de plantão, mostrando a garra, a competência e a perseverança dos artistas do futuro Estado.

Em 1981, conforme Chicão Santos, no blog do professor José Valdir Pereira, tivemos uma oficina de teatro ministrada por João Batista Lima Rodrigues, com duração de três meses contando com cerca de 30 participantes. E no ano seguinte, marcado também pelas primeiras eleições no Estado, houve algumas opções de espetáculos, sucedendo-se outra oficina experimental de arte, com duração de quatro meses!

Agora, em meados de 2014, dentro do Terceiro Milênio da Humanidade, o governo estadual escolhe o nome Teatro Guaporé para uma parte do Palácio das Artes que a Capital, Porto Velho, obra esperada há pelo menos duas décadas.

Fosse homenagear artistas, políticos, jornalistas ou ativistas culturais que se foram, arrumaria motivos de sobra para encrencas. Eles são tantos, bons, saudosos, eternos, que a simples opção por um nome faria fugir a alegria, dando vazão a debates pouco iluminados. Dificilmente agrada-se a gregos e troianos, muito menos a cutubas e pele-curtas (designações dos movimentos políticos da Era Aluízio Ferreira), ou a petistas e tucanos, gregos e troianos, flamenguistas e botafoguenses, palmeirenses e corintianos, gremistas e colorados, ou às torcidas do Remo, Paiçandu, etc.

No início dos anos 1960, ao perceber  tanta desavença nos quintais porto-velhenses, o guia espiritual José Gabriel da Costa disse: “O padre tá certo, o pastor tá certo, o macumbeiro tá certo". Cada qual na sua razão.

Não é Guaporé, a 478 metros de altitude, na Serra Gaúcha, mas a própria Rondônia em sua essência geopolítica, cultural e ambiental, o motivo da homenagem do cantor Gilberto Gil em sua gostosa música Vamos fugir.

Guaporé foi o nome originalmente dado ao extinto território federal quando se desmembrou dos estados do Amazonas e de Mato Grosso, em 13 de setembro de 1943. O antigo nome referia-se ao Rio Guaporé, que faz a fronteira Brasil-Bolívia.
 

Guaporé, as origens - Gente de OpiniãoGuaporé, Guaporé

Qualquer outro lugar ao sol

Outro lugar ao sul Céu azul, céu azul

Onde haja só meu corpo nu

Junto ao seu corpo nu

 

Em 1984, acompanhado do deputado estadual Amir Lando e do jornalista Talvani Guedes da Fonseca, o cantor Gilberto Gil quis conhecer algumas cachoeiras do Rio Madeira e deslumbrou-se com a região. Não chegou a “descer” para Guajará-Mirim. Se tivesse tempo, bem que faria isso, para conhecer “o carteiro e as ninfas” cantados por Augusto Silveira.

A visão de um pedaço do eterno Guaporé inspirou o baiano Gil a compor música tão bonita em homenagem à nossa região e também ao Marajó. Aí estão pedaços das Amazônias Ocidental e Oriental Brasileiras. O resgate e a consequente valorização do Guaporé veio daí, em 1984. Não duvido.

Perdi a viagem com Talvani e Amir, porém, reencontrei Gil em 1989, divulgando o Movimento Onda Azul em Cuiabá, onde relembramos o sentimento dele por este pedaço amazônico.

Nem pelo reconhecimento das belezas naturais ou pela homenagem prestada por Gil à Terra de Rondon, destacada pelo radialista Roquete Pinto, o Teatro vai se chamar Gilberto Gil ou Dona Labibe. No entanto, há motivações próprias para a inserção e a eternização desses nomes honrados, nas demais dependências do Palácio das Artes e de outros espaços que por ventura sejam construídos à frente.

A escolha do nome Guaporé encarna uma virtude do governo Confúcio Moura. Para que torná-la motivo de idiossincrasias?

Guaporé é a síntese. Ela une, impondo o respeito dimensionado pelo tamanho do antigo trem da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré. Muito mais que isso, basta enxergarmos sem lentes embaçadas.


 

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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