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Montezuma Cruz

Senadora do Paraná desdenha da via-crúcis dos soldados da borracha


Senadora do Paraná desdenha da via-crúcis dos soldados da borracha - Gente de Opinião 

MONTEZUMA CRUZ
Em Brasília

 

A primeira bofetada, dada no ano passado pelo deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP), não bastou. Agora, a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR), ex-chefe da Casa Civil, ingressa no rol dos parlamentares brasileiros despreocupados em pisotear a saga corajosa dos nordestinos recrutados para colher látex na Amazônia durante a Segunda Guerra (1939-1945).
 

Coube à senadora desdenhar uma vez mais da sofrida classe dos soldados da borracha – cerca de seis mil ainda vivos, mais os descendentes – ao adiar novamente, na Comissão de Constituição e Justiça, a tramitação da votação da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) nº 61/2013, que estabelece indenização de R$ 25 mil e aumenta o valor da pensão paga aos trabalhadores recrutados durante a Segunda Guerra.
 

Repetindo o discurso usado pelo governo e seus porta-vozes na Câmara, em 2013, a senadora Deisi Hoffmann alega que o governo “não tem condições em atender a nova proposta”. A matéria deverá ser retomada esta semana.
 

Desde a votação feita na Câmara dos Deputados, no final do ano passado, o Senado Federal concordou em reexaminar a matéria, agora relatada pelo senador Aníbal Diniz (PT-AC). O impasse em torno de substitutivo põe o governo federal na contramão dos parlamentares dispostos a rever esse capítulo vergonhoso da história nacional. É que o mesmo governo que abre a dinheirama do BNDES a países estrangeiros e para aliados políticos, não se dispõe a pagar R$ 3.789,00 de pensão vitalícia, mais uma compensação no valor de R$ 25 mil, aos soldados da borracha. A maioria deles vive hoje em estado de penúria em estados amazônicos, não tendo como pagar tratamento médico.
 

O valor proposto e atualmente defendido pelo senador Aníbal Diniz, corresponde ao soldo pago a um primeiro sargento das Forças Armadas. O texto da PEC 61/2013 fixa a pensão em R$ 1.500,00 mensais. Aproposta aprovada pela Câmara em 2013 não interessa à classe: R$ 144,00 mensais sobre o vencimento atual, tornando o salário em R$ 1.500,00, mais a compensação de R$ 25 mil.
 

Senadora do Paraná desdenha da via-crúcis dos soldados da borracha - Gente de Opinião
 

Mobilizado novamente na defesa da proposta que considera “justa e meritória”, o Sindicato dos Soldados da Borracha do Estado de Rondônia (Sindsbor) abre as baterias contra a senadora paranaense, entendendo que ela age com desumanidade, “empurrando a reivindicação com a barriga”. “Ela age em nome da presidente Dilma Roussef, que não quer ver a proposta votada e protela o assunto desde que assumiu o cargo, em 2011”, critica o vice-presidente do Sindsbor George Telles.
 

Na retomada da campanha, a entidade divulgou ontem a frase do seringueiro maranhense Belizário Costa, de 95 anos: “Se eu viver um dia, somente um dia para ver meu direito reconhecido, já terá valido a pena”.
 

Segundo Telles, o sentimento de indignação toma conta das famílias dos soldados da borracha ainda vivos. “Lamentavelmente, diz ele, como um fruto maduro que apodrece no cacho, está virando fantasia o direito à equiparação salarial dos últimos sobreviventes da velha guarda de seringueiros da lendária Batalha da Borracha”.
 

Em sua nova vilegiatura por Brasília, o Sindsbor revê um governo dúbio, pois fora a própria presidente Dilma Roussef, por decreto, quem considerou os soldados da borracha “heróis da pátria”, mandando inscrever seus nomes no livro de aço da Praça dos Três Poderes.
 

Na Capital do País, a ministra dos Direitos Humanos Maria do Rosário um dia aceitou denúncia da classe, considerando o sofrimento enfrentado na floresta amazônica. Na sequência, o ministro da Secretaria da Presidência Gilberto Carvalho daria um chá de cadeira nos representantes da classe, quando o Sindsbor propunha negociar com o governo. E depois, a ex-ministra das Relações Institucionais, Ideli Salvati, punha de lado as reivindicações e proibia arbitrariamente o Sindsbor de participar das reuniões no Palácio do Planalto.

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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