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Paulo Queiroz

Odair Cordeiro – O defeituoso


 

Por Paulo Queiroz
Amazônias

Não é porque era um grande amigo – ou muito menos por ter morrido agora – que se vai dizer do militante político e representante comercial (estritamente nessa ordem) Odair Cordeiro que era um sujeito sem defeitos.

 

Pelo que me consta, carregou consigo, pela vida inteira, a pior das deformações que um vivente do seu tempo pode ter - adiante se verá o por quê da circunscrição dessa existência à tão desditosa época.

 

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Odair Cordeiro. Foto: Serginho/Gentedeopinião

Muito certamente por causa dessa aberração, um dia chegou ele próprio a constatar: na função pública, em vez do enriquecimento ilícito, caminhava celeremente para o empobrecimento lícito.

 

Referência às conseqüências de ter abandonado completamente a atividade de representante comercial para se dedicar integralmente, primeiro, à lida de superintendente local do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) e, depois, à administração da agenda do prefeito Roberto Sobrinho, na função de secretário Chefe de Gabinete da Prefeitura de Porto Velho.

 

Repare o leitor na idéia de exclusividade que se pretendeu passar ao empregar os advérbios derivados da noção de plenitude. Não se apoquente, pois ainda se vai recorrer, vez por outra, a essa muleta.

 

Eis que, antes, se pretende deixar claro que, por conta da tal deformidade, se houve dias em que Odair Cordeiro ocupou todas as horas numa única atividade, estes terão sido os das ocasiões em que exerceu formalmente a função pública.

 

Diz-se “formalmente” – não falei? – porque homem público, ao menos pelo que me consta (e lá se vão algo em torno de 30 anos desde que dele me passou a constar algum registro), Odair Cordeiro sempre foi. Pois que outra coisa seria um militante político?

 

Só que o tempo por ele dedicado cotidianamente à função pública enquanto militante ele o roubava da atividade profissional. Ou seja, jamais teria como enriquecer, porquanto essencialmente sempre esteve a serviço da política.

 

Quer dizer, na função pública formal, a limitação do salário lhe interditava a prosperidade. E no mercado, onde o tempo é dinheiro, subtraía nacos preciosos da atividade comercial para dedicá-los à militância. Como haveria de prosperar?

 

Mas, para saber que tarefa seria essa a que Odair Cordeiro se dedicava a ponto de remeter a um segundo plano suas atividades profissionais, é necessário tentar recuperar o significado que Aristóteles lhe atribuiu.

 

Na síntese, a busca pela melhor forma de governo e instituições capazes de garantir a felicidade coletiva. Política como interesse público, bem comum, justiça e equidade. O objetivo da política, pois, seria a disposição de agir em direção ao bem comum, à felicidade pública.

 

E é aí que Odair Cordeiro entra em descompasso com o tempo. Porquanto essa é uma época, a das democracias liberais, em que, definitivamente, tudo repousa sobre o sujeito, sobre a sua autonomia econômica, jurídica, política e simbólica. Destruídas pela supremacia dos mercados, foram-se os tempos das instâncias coletivas.

 

O desajuste de Odair Cordeiro, assim, só pode ser explicado por aquele nefando defeito de que se falou lá no começo – e que atende pelo nome de fé na humanidade. Era, o nosso dublê de militante político e profissional do mercado, na essência, um homem de fé.

 

Nesse sentido, Odair Cordeiro parece ter emulado o Mahatma, segundo o qual jamais se poderia perder a fé na humanidade. “Pois ela é como um oceano. Não é porque existem algumas gotas de água suja nele que o mar vai estar sujo por completo”. Coisa assim.

 
 

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Odair Cordeiro (D) durante o debate da TV Candelária, na reeleição do prefeito Roberto Sobrinho de Porto Velho. Foto: Serginho/Gentedeopinião


O Mahatma, como se sabe, também não se rendeu aos progressos da chamada autonomização dos indivíduos, que pode explicar o sucesso, mas está no cerne do mal-estar no campo cultural, da multiplicação dos atos de violência e na emergência de tudo quando é forma de exploração em vasta escala.

 

Como disse Montaigne: “Somos um amontoado de peças juntadas inarmonicamente e queremos que nos honrem quando não o merecemos. A virtude vale por si mesma; se para outro fim tomamos a sua máscara, logo ela no-la arranca da cara. Quando nossa alma se impregna dela, forma ela uma espécie de verniz fortemente adesivo que só se tira com a própria pele. Eis por que para julgar um homem é preciso seguir suas pegadas, penetrar sua vida, e se não deparamos com a constância alicerçando seus atos, “com um plano de vida bem ponderado e previsto” (Cícero), se sua marcha, ou antes, seu caminho (pois é lícito acelerar ou diminuir o passo) se modifica segundo as circunstâncias, abandonemo-lo”.

 

Ou como dispôs Luiz Gonzaga do Nascimento Júnior:

Ontem um menino que brincava me falou
Hoje é a semente do amanhã
Para não ter medo que este tempo vai passar
Não se desespere, nem pare de sonhar
Nunca se entregue, nasça sempre com as manhãs
Deixe a luz do sol brilhar no céu do seu olhar
Fé na vida, fé no homem, fé no que virá
Nós podemos tudo, nós podemos mais
Vamos lá fazer o que será.


 

Odair Cordeiro – O defeituoso - Gente de Opinião



Ora, ora Odair Cordeiro. Sei que nem adianta desejar que descanse em paz. Suspeito que, tanto quanto por aqui, esteja onde estiver vai continuar não sabendo o que é descansar.

 

PS: Meu amigo, não lhe conto. Meio mundo sabe que, entre todas das nossas relações, você foi a pessoa que mais acreditou nessa idéia do site “Rondoniasim”. Pois bem. No dia em que você mudou de plano, a geringonça encrencou. Não teve jeito de atualizar. Teve algo a ver com isso? Se tiver sido o caso, não vai demorar para eu descobrir. E mais cedo do que você imagina, passo-lhe uma descompostura no primeiro encontro

 

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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