Domingo, 22 de julho de 2018 - 14h08
Lugares de memória – ditadura militar e resistências no estado do Rio de Janeiro (Editora PUC Rio/Clacso, 2018, 512 pp.), reúne detalhada pesquisa, coordenada por José María Gómez, sobre os crimes hediondos cometidos pelo regime militar em terras fluminenses.
O livro cita 101 lugares de memória, do DOPS ao jornal Correio da Manhã, todos identificados por levantamentos topográficos, mapas e fotos, como a Casa da Morte, em Petrópolis, e a Usina Cambahyba, em Campos dos Goytacazes, onde muitas pessoas foram torturadas, esquartejadas e incineradas.
Embasada em farta documentação, a obra resgata a história e o contexto de cada lugar de memória, como a Editora Civilização Brasileira, dirigida por Ênio Silveira, e as universidades fluminenses. Suas páginas dão voz às vítimas, deitando por terra a versão dos quem negam ou tentam amenizar o caráter desumano e deletério de um sistema repressivo que não apenas atingiu pessoas, muitas delas assassinadas, mas também a cultura, mediante censura, apreensão de livros e obras de arte, e atentados terroristas como o do Riocentro, que vitimou os próprios algozes.
Passados mais de 70 anos das atrocidades nazistas, a memória não se apaga. O mesmo ocorre e ocorrerá com a ditadura militar brasileira, ainda mais agora que a Comissão Interamericana de Direitos Humanos condenou o Estado brasileiro pelo assassinato de Vladimir Herzog, frisando que crimes de lesa-humanidade jamais prescrevem.
Lugares de memória é um importante documento que revela, no presente, as atrocidades do passado, de modo a se evitar qualquer intento de reproduzi-lo no futuro, como se valesse a pena trocar a liberdade democrática pela suposta segurança de um Estado terrorista.
Frei Betto é escritor, autor de “Diário de Fernando – nos cárceres da ditadura militar brasileira” (Rocco), entre outros livros.
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